09/05/2011

Ideias Negras

Integral
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado


Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)

2 comentários:

  1. Caro José Vitor Silva,
    Claro que não, é de 2001; foi lapso ao escrever e já corrigi. Obrigado pela atenção.
    Abraço!

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