21/12/2011

A Arte de As Aventuras de Tintin

Chris Guise (texto)Weta (imagens)
Edições ASA (Portugal, Dezembro de 2011)
260 x 310 mm, 200 p., cor, cartonado
35,00 €

1. Acalmado o alarido mediático que rodeou a estreia de As Aventuras de Tintin, produzido por Peter Jackson e Steven Spielberg, que também o realizou, é boa altura para lhe fazer uma abordagem.
2. Começo por dizer que receei sobremaneira quando foi anunciado o filme.
3. Porque Tintin é para mim uma referência incontornável, porque acho que Tintin é – só – o que Hergé criou, porque achei sobremaneira difícil uma transposição justa e fiel para outro meio.
4. Apesar de tudo, pelos nomes associados ao projecto e pelos meios disponibilizados na sua concretização, confesso que me encontrei dividido entre o receio e a curiosidade de ver o “novo” Tintin.
5. Concretizada essa visualização – na versão 2D em português – confesso que saí bem-disposto da sala de cinema.
6. Não rendido, sem qualquer dúvida, mas convencido com o que Spielberg – finalmente – concretizou.
7. Tecnicamente, o filme está muito bem conseguido e praticamente nada há apontar.
8. Logo a abrir, uma das boas surpresas: o belo genérico em animação, repleto de piscares de olho aos fãs de Tintin, com múltiplas citações retiradas directamente dos álbuns.
9. Prosseguindo, uma bela e bem conseguida homenagem a Hergé, na cena inicial na Feira da Ladra.
10. Positivo também, em meu entender, é o ganho de realismo que o filme tem em relação aos livros – indispensável para lhe dar credibilidade – mas sem trair o espírito original da série.
11. Diferente da BD, é verdade, mas o novo suporte exigia-o e não o ter feito seria condená-lo ao fracasso desde o início.
12. Por isso, nele, Tintin surge mais humano, sem a aura de perfeição dos álbuns, e com menos protagonismo.
13. Porque, indiscutivelmente, a grande estrela da película é Haddock, numa magnífica interpretação de Andy Serkis.
14. Outro grande trunfo do filme, é o vilão congeminado por Spielberg, transformando Sakharine, o (quase) anónimo personagem da BD, num descendente do pirata Rackham, o terrível e no adversário por excelência de Haddock.
15. A recriação do combate naval entre os navios de Rackham e do Cavaleiro de Hadoque é um dos pontos altos do filme, estando também muito conseguida a sua articulação com a cena no deserto.
16. Mas, a verdade, é que nem tudo está bem no filme. Esquecendo alguns aspectos de pormenor, há dois que me incomodaram particularmente.
17. Desde logo, os excessos “à la Spielberg”, evocando sem dúvida Indiana Jones, especialmente na cena da perseguição em Bagghar e no combate final entre Sakarine e (não inocentemente) Haddock, que eram desnecessários e constituem a maior cedência à máquina de entretenimento de Hollywood.
18. Depois, a falta de “entrelinhas”, a ausência do “espaço em branco entre as vinhetas”, que dá ao leitor da BD a possibilidade de intuir, de imaginar tudo o que neles acontece, e que não existe no filme, pois o que é servido ao espectador é o produto final, terminado e concluído.
19. Por isso, se repito que enquanto leitor recorrente da obra de Hergé não me senti defraudado, a verdade é que regressarei mais depressa (e mais vezes) aos seus álbuns do que ao filme de Spielberg.
20. Posto isto, passemos – finalmente! – à bela obra que motivou esta longa dissertação, até porque está já nas livrarias e pode constituir uma óptima prenda de Natal.
21. Desde logo, porque dá uma bela panorâmica da aventura que foi produzir e realizar “aquelas” outras aventuras.
22. Com prefácio dos dois realizadores vedetas, o livro conta com a contribuição de muitos dos artistas que fizeram do filme uma realidade, explicando a sua génese, como foi pensado, preparado, executado e finalizado, num processo longo e moroso, que teve por base um apaixonante trabalho de relojoeiro
23. A selecção das obras, a adaptação do argumento a partir de três álbuns de BD, a forma de fazer a aproximação ao universo original de Hergé, a definição do aspecto das personagens e das suas indumentárias, o tratamento dada às filmagens feitas pelo método de captura de imagem, a definição e construção dos cenários e muito mais são o objecto desta obra, profusamente ilustrada.
24. De forma resumida – o melhor mesmo (sempre) é ler o livro – pode dizer-se que explica não só como o universo de Hergé foi transposto para o grande ecrã, mas também como foi complementado num novo meio e expandido nos detalhes e pormenores que a BD nunca mostrou.
25. Por isso, este é sem dúvida um livro para quem gosta de cinema, para quem gostou de Tintin no cinema e para quem gosta de Tintin.

3 comentários:

  1. Excelentes impressões. Como ainda não vi o filme, não posso dizer se concordo com tudo...

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  2. Mon fils Yannis-William est un inconditionnel... j'aime beaucoup aussi, très jolie publication.
    même si je ne vous laisse pas de commentaire, je me réjouis de visiter votre blog.
    Je vous souhaite de très joyeuses fêtes et une douce nuit de noël à vous et tous ceux que vous aimez.
    Gros bisous

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  3. Caro Britto,
    Mas veja o filme porque, apesar do que escrevi, condicionado pela minha visão de leitor (quase) incondicional da obra de Hergé, acho que vale a pena vê-lo!
    Boas leituras e...visualizações de filmes!

    Martine,
    C'est bon vous revoir ici. Les meilleurs fêtes pour vous et votre famille aussi!
    Bonnes lectures!

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