19/12/2011

Blankets

Craig Thompson (argumento e desenho)Devir (Portugal, Novembro de 2011)
170 x 260 mm, 592 p., pb, cartonado com sobrecapa
34,99 €

Resumo
Blankets, um romance gráfico datado de 2003, é uma obra auto-biográfica em que o autor expõe, de forma honesta, pudica e contida, a sua infância e adolescência no seio de uma família e de uma comunidade extremamente religiosa.
No decurso das quase 600 pranchas que compõem esta longa banda desenhada, Thompson recorda a rígida educação que recebeu dos pais, os abusos que sofreu do baby-sitter, a relação conflituosa e distante com o irmão, a sua luta interior com a religião e a religiosidade, o intenso primeiro amor adolescente com Raina e como finalmente encontrou no desenho a sua forma de afirmação e a sua razão de viver.

Desenvolvimento
Há 11 anos, a 22 de Maio de 2004, publiquei no Jornal de Notícias um texto sobre esta obra, intitulado “Obrigado Raina”. O seu início era assim: “Hoje, esta coluna” – Aos Quadradinhos, era o seu título – “não tem introduções nem justificações, surge apenas pelo valor intrínseco do notável romance (gráfico) que é Blankets de Craig Thompson”.
E justificava: “Blankets é uma história que conta o primeiro amor de um adolescente. Um adolescente proveniente de uma família autoritária, mais ainda, de um meio ultra-religioso, numa cidadezinha perdida na América profunda, violenta e racista onde desde sempre foi marginalizado pelos colegas de escola. A história de um primeiro amor” – adolescente, breve mas também muito intenso, (quase) inocente, tão gratificante quanto doloroso –“, sim, mas mais do que isso, da descoberta da existência do amor”.
“Uma história” – aparentemente banal – “que se transforma em muito mais, porque esse primeiro amor é também revolta – contida - contra o mundo (que conhece), o despertar para novos horizontes (formas de vida, maneiras de ser...) e, acima de tudo, a auto-afirmação pela descoberta das qualidades que há em si”.
“Um todo coerente, com a emoção que só existe no que é verdadeiro, narrado com grande serenidade, sensibilidade e ternura, como só sabe quem viveu (…) e foi capaz de “arrumar” no sempre complicado baú, recordações que fizeram ferida, uma situação marcante – sim - mas definitivamente encerrada, sem o redutor apodo da relação que acaba mal, que acabou, apenas, após quinze dias emocionalmente intensos e únicos”.
Como o leitor percebe, sente, pressente, quase vive, ao ler as páginas que Thompson traçou num branco e negro magnífico, com um desenho semi-realista mas extremamente dinâmico, que prende e cativa o leitor, absorvendo a sua atenção e levando-o a experimentar, mesmo que à distância, muito do que o autor (realmente) viveu.
E concluía então: “São umas fantásticas 600 páginas que se lêem de um fôlego, enquanto Thompson saltita entre as recordações de infância e adolescência e da distante relação com o irmão, e a relação com Raina que o leva a descobrir-se e a perceber o que realmente importa. E porque foi essa relação que o levou para o desenho e, por consequência, para a BD, só uma expressão me ocorre: obrigado Raina”.
Agora, mais de 7 anos passados, tive a oportunidade de reler esta obra em português. Tirando o efeito surpresa, que uma primeira leitura sempre tem, a sua magia, encanto, força, originalidade e capacidade de emocionar continuam intactas. Por isso, mais uma vez, escrevo: obrigado Raina.

A reter
- A força do relato.
- A sua capacidade de emocionar o leitor.
- A forma honesta, pudica e contida como o autor se expõe por completo.
- A sua invulgar capacidade de narrar em banda desenhada.
- A boa edição da Devir.

Menos conseguido
- Eu percebo o porquê da manutenção do título original – a colagem ao seu sucesso, os ecos que poderá ter provocado para lá do pequeno mundo da BD portuguesa – mas a verdade é que uma edição boa como esta é, merecia um título nacional. “Manta de retalhos” ou, melhor ainda, apenas “Retalhos” eram duas hipóteses perfeitamente plausíveis…

Curiosidade
- No notável Habibi, lançado recentemente, a “manta de retalhos” que dá título a Blankets, surge uma única vez – onde, leitores atentos? Na situação em que é mostrada, será um simples piscar de olho ao leitor cúmplice ou antes o definitivo cortar de amarras com um certo passado por parte do autor?

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