João Davus, de Vítor Péon (imagem do blog Mania dos Quadradinhos) |
Próximos na
data de nascimento, futebol e banda desenhada têm vivido juntos muitas
aventuras, dentro das 4 linhas do relvado e das vinhetas de papel. Agora que o Euro 2012 já terminou, fica uma evocação de alguns dos maiores futebolistas dos quadradinhos.
Um dos mais famosos
– que o Jornal de Notícias, o Mundo de Aventuras
e a Futura (em álbum) publicaram em português – é “Dick, o goleador”, uma tira
diária de imprensa escrita por Alfredo Grassi para o desenho de José Luís
Salinas (o criador de Cisco Kid
, o cowboy romântico), que o Mundo de Aventuras também publicou entre nós.
Protagonizada por três jovens sul-americanos – Dick, Poli e Jeff – combina as
aventuras futebolísticas, no relvado, com outras de tom policial, fora delas.
Este tipo de
equilíbrio, entre a faceta desportiva e a vida “quotidiana” é uma
característica comum a outros futebolistas de papel, como Eric Castel, craque do
Barcelona, e Vincent Larcher, do AC Milan, criados pelo belga Raymond Reding;
este último passou pelas páginas do Tintin e dele a Bertrand editou “Futebol e
minissaias”. Do mesmo autor é “O sensacional Walter Muller”, que o Mundo de
Aventuras publicou nos anos 70, sobre um jogador dos distritais alemães
destinado a vencer no Barcelona, com o mundial de 1974 como pano de fundo.
Capitão
Tsubasa, uma criação de Yōichi Takahashi, que saltou do papel para a animação (baptizada
Oliver e Benji na televisão nacional), acompanha um avançado e um guarda-redes
desde as camadas jovens, passando por experiências no Brasil e na Europa, até
se sagrarem campeões do mundo pela selecção principal japonesa.
Percurso inverso
teve Foot 2 Rue (Clube de Rua), animação francófona protagonizada por um grupo
de crianças de um orfanato que acaba por participar num campeonato mundial de
futebol de rua, que Mardiolle e Cardona transpuseram para a BD, na Soleil, indo
“bem além da simples adaptação - com as limitações inerentes a tal - da ideia-base
da animação, criando uma verdadeira BD com ritmo e estrutura próprios, na qual
vamos conhecendo os antecedentes dos 5 miúdos/"craques" - órfãos,
abandonados ou simplesmente "esquecidos" num lar para desfavorecidos
- que protagonizam a história, com a ternura e a irrequietude próprias da idade
a surgirem a par com alguma dor e solidão, que apenas a paixão pelo futebol -
vivido na rua, com muito fair-play (e raparigas!) - faz esquecer” (in Jornal de
Notícias de 2 de Julho de 2006).
O Euro 2004
trouxe os heróis Disney a Portugal, em 2006 o espanhol Ibañez levou Mortadelo
e Salamão ao Mundial e, agora, a propósito do Euro 2012, Patinhas, Donald e os restantes patos Disney tiveram que investigar "Il Mistero Eurocalcistico", na sequência de uma goleada sofrida por Itália frente a uma equipa amadora.
Continuando no campo – nem sempre relvado - do humor, o futebol tem sido inspiração recorrente para autores como o argentino Mordillo, o turco Gurcan Gürsel ou os portugueses José Bandeira ou Luís Afonso – embora estes abordem mais as questões colaterais…
Continuando no campo – nem sempre relvado - do humor, o futebol tem sido inspiração recorrente para autores como o argentino Mordillo, o turco Gurcan Gürsel ou os portugueses José Bandeira ou Luís Afonso – embora estes abordem mais as questões colaterais…
Uma outra
abordagem divertida surgiu em “Futcube”, de Ricardo Agferr, curioso casamento
entre paralelepípedos e fórmulas de química orgânica, publicado na colecção
Quadradinho da ASIBDP.
Ainda em
português, Eugénio Silva traçou aos quadradinhos a biografia de um dos maiores
jogadores nacionais de sempre em ”Eusébio Pantera Negra”, e Vítor Péon narrou
os feitos de João Davus, ficção sobre um futebolista português a actuar em
Inglaterra, onde o seu criador então trabalhava. Em Inglaterra nasceu também
“Billy, o Botas”, herói juvenil da autoria de Fred Baker e John Gillatt, cujo
talento futebolístico advinha de umas velhas botas que tinham pertencido a um
jogador famoso.
Num registo
mais adulto, ficam duas referências para “Aqueles que te amam”
, que se inicia com um golo voluntário na própria baliza numa final da Taça dos
Campeões e explora a facilidade com que os fãs passam da paixão ao ódio e o
lado mercantil dos atletas. Ulf K., num curto e terno registo autobiográfico
evoca a sua infância em “O ano em que fomos campeões mundiais” (Polvo),
curiosamente o mesmo título que foi dado à BD que narrou a conquista do título
mundial pela Espanha em 2010.
Nesta linha
narrativa, se hoje em dia é normal alguns clubes evocarem a sua história aos
quadradinhos - no Brasil Ziraldo desenhou as do Corinthians, Fluminense,
Palmeiras e Vasco da Gama, e em 2010 o centenário do Marítimo foi recordado em
“Os Sonhos do Maravilhas” dos madeirenses Francisco Fernandes,
Roberto Macedo Alves e Valter Sousa – no início da década de 90 quando Manuel
Dias escreveu com humor, para o traço divertido de Artur Correia, a história
dos três grandes do futebol português em “Era uma vez um leão”, “… um dragão e
“… uma águia”, revelou algum pioneirismo.
E se até aqui
a maior parte dos protagonistas citados nasceram no papel, o brasileiro
Maurício de Sousa, criador da Mônica e do Cebolinha, lançou dois heróis com
trajecto inverso.
É o caso de
Pelé(zinho), lançado nos anos 90 e que em breve regressará aos relvados (de papel), e de Ronaldinho Gaúcho (já este século e cuja
revista está disponível mensalmente nos quiosques portugueses), que Maurício
recriou no seu traço característico em histórias em que humor, amizade e
futebol andam de mãos dadas.
Pelo caminho
ficaram projectos similares com Ronaldo (o fenómeno brasileiro) e Dieg(uinh)o
Maradona, por questões relacionadas com direitos de imagem.
E em breve,
possivelmente já em Agosto, a equipa de Maurício de Sousa vai receber um
reforço de peso, Neymar(zinho), num registo juvenil, próximo da Turma da Mônica Jovem.
(Versão
revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Julho de 2012)
Bacana Futebol e Quadrinhos!
ResponderEliminarGrande entrada no blog. Este artigo está muito bom mesmo. Nunca imaginei haver tanta Bd feita à volta do futebol. Penso que só me lembrava do Tsubasa e era por causa dos desenhos animados :)
ResponderEliminarCaro Luís Sanches,
EliminarObrigado.
E depois de escrito, já encontrei pelo menos mais uma referência...
Boas leituras!
Boa malha. E ainda, editados no "Jornal do Cuto" que publicou também o referido "Billy o botas", "Pedro o Gato", "O fantasma de Forest" e "Kangaroo Kid". Pormenores seguiram por e-mail.
ResponderEliminarCaro Jorge Macieira,
EliminarObrigado pelas adendas. O Kangaroo Kid foi uma das descobertas que fiz depois de já ter publicado o texto...
Ficam aqui os links que fez o favor de me enviar por mail, para os eventuais interessados:
No "Jornal do Cuto", Portugal Press, constam ainda Pedro o Gato por Tom Kerr (http://lambiek.net/artists/k/kerr_tom.htm), O fantasma de Forrest por Jesus Blasco (http://www.geocities.ws/bdnostagia/jornal_do_cuto1.html) e Kangaroo Kid por Derek Hammond & Gary Silke
http://www.dailymail.co.uk/sport/football/article-1224053/Why-comic-book-heroes-yesteryear-make-sense-todays-crazy-football-world-We-remember-team-teenagers-pampered-superstar-giant-striker.html
http://www.youtube.com/watch?v=bl46L_Qdv1Y
Boas leituras!