Giancarlo Berardi e Murizio Mantero (argumento)
Laura Zuccheri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Janeiro de
2012)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado,
mensal
4,00 €
1. Se é normal na banda desenhada – nos comics de
super-heróis e na maior parte das séries franco-belgas a existência de um
“vilão de serviço” recorrente, sempre pronto a opor-se aos desígnios dos
heróis, de forma algo surpreendente isso é pouco habitual nos heróis Bonelli,
pese todo o potencial para que tal acontecesse.
2. E se surgem alguns inimigos que se destacam –
Mefisto em Tex, Hellinger em Zagor, de forma mais evidente, Hogan em Mágico
Vento – na maior parte dos casos as suas aparições são quase residuais se
considerado o elevado número de histórias de cada um daqueles heróis.
3. Por maioria de razões – desde logo pelo
realismo do relato e pelo evidente privilegiar das componentes emocionais e
psicológicas – isso também não acontece em Julia Kendall.
4. O que - apesar da evidente contradição – não
impede que “A sangue quente” apresente o terceiro confronto entre a criminóloga
de Garden City e a serial killer Myrna, que foi, recorde-se, o centro da sua
primeira investigação nos três números iniciais desta colecção.
5. Fugida da cadeia, há longo tempo desaparecida,
Myrna “ressuscita” aqui para se vingar como não podia deixar de ser, mais
engenhosa e inteligente, também mais perigosa e, sem dúvida, mais
desequilibrada, demonstrando uma obsessiva – e até quase incómoda para o leitor
– relação de amor/ódio por Julia, na qual paixão e vingança se confundem (e
atrapalham?), numa espiral de sexo e sangue apresentada num crescendo ao longo
deste tomo - onde a violência e a sensualidade atingem níveis invulgares no
contexto da série - mesmo que o(re)encontro final entre ambas se revele breve e
defraude mesmo – mas apenas sob certo ponto de vista - as perspectivas criadas
ao longo de uma centena de pranchas repletas de grande tensão emocional.
6. Embora – por isso – deixe em aberto nova
confrontação, num futuro que se adivinha mais ou menos distante, que se espera
tenha (pelo menos) a mesma qualidade, força e emoção deste.
7. Este regresso de Myrna, se evoca duas das mais
fortes narrativas de Berardi nesta série – que mais uma vez confirma a elevada
qualidade da sua escrita pela forma como desenvolve o relato aproximando pouco
a pouco Julia e Myrna - evidencia também as mudanças que a “sósia” de Audrey
Hepburn sofreu ao longo destes mais de sete anos de investigações.
8. Porque Julia tem mudado. Mudou. Como qualquer
leitor atento facilmente percebeu. Sem perder a sua feminilidade e a sua
fragilidade, tem agora uma maior auto-confiança, uma forma diferente de se
abrir, de se relacionar (e de se dar), uma outra capacidade de enfrentar as
situações limites que as suas escolhas tantas vezes provocam, a exemplo do que
acontece neste número quando – finalmente – se vê de novo frente a frente com
Myrna.
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