Em Outubro de 1964, os leitores de banda desenhada Disney
descobriam uma nova personagem que na versão brasileira se chamaria Urtigão, um
camponês que vivia no Brejo das Urtigas, nos arredores de Patópolis.
Na realidade, o seu nome original era Hard Haid Moe e era um
amante da tranquilidade campestre mas irascível em relação a tudo o que viesse
da cidade grande, em especial quando personificado pelo Peninha, o seu ódio de
estimação.
Essa incompatibilidade surgiu logo na história inicial, It’s Music?, criada para o mercado
italiano, onde foi publicada na revista Topolino #462, pelos norte-americanos
Dick Kinney (1917-1985) e Al Hubbard (1915-1984) que, curiosamente, também
tinham imaginado o Peninha.
Vizinho próximo da Vovó Donalda, cuja simpatia e bonomia
contrasta em alto grau com a irritação latente e a vida quase eremita de
Urtigão, esta personagem ostenta barba hirsuta e cabelo desgrenhado (ruivos na
sua origem, depois transformados em brancos), pés descalços e roupa em mau
estado. Vive isolado com o seu cão Cão (!), gosta pouco de trabalhar e
transporta quase sempre uma velha caçadeira carregada de sal que lhe serve para
afugentar os intrusos citadinos.
Sendo uma das raras personagens humanas criadas nas
histórias aos quadradinhos Disney, Urtigão seria depois desenhado no Brasil,
nos anos 70 – onde passou a ter uma governanta chamada Firmina - assumindo as características
dos “caipiras” locais – chegou a participar num desfile de samba e visitado a
Amazónia e o Rio de Janeiro, onde
encontrou Zé Carioca – perdidas nas histórias criadas em Itália a partir do
final da década de 1970 e, mais tarde, de 2006, aquelas que vão surgindo
esporadicamente nas revistas Comix e Hiper actualmente editadas em Portugal
pela Goody.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
4 de Outubro de 2014)
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