Noutras latitudes e longitudes (editorais, entenda-se), é
normal fazer a recolha em álbum de bandas desenhadas originalmente publicadas
em revistas ou outros suportes.
Em Portugal, tal facto é uma excepção e este álbum de
Ricardo Cabral só vem confirmar o estatuto que o autor conseguiu graças ao seu
trabalho regular e à exploração de temáticas/projectos que vão para lá da banda
desenhada em si.
Continuem a ler, já a seguir.
Revelado em 2007 com Evereste,
relato da conquista do famoso cume pelo montanhista português João Garcia,
Ricardo Cabral afirmar-se-ia depois com Israel
Sketchbook (2009) e Newborn – 10 dias
no Kosovo (2010), dois relatos de viagem que, para além de mostrarem a sua
faceta de observador atento do quotidiano, também o afirmaram como um excelente
desenhador realista e os ecos destes livros aferiram a sua aceitação fora do
habitual núcleo (pequeno) dos leitores de banda desenhada.
A multiplicidade de projectos que se seguiram, vieram apenas
confirmar o que atrás fica escrito e confirmaram-no como um dos autores a
seguir.
Algo que seria complicado – pela disparidade e diversidade de
locais em que eles foram editados/mostrados - não fosse a clara aposta da ASA
nele – revelada igualmente pela continuidade dos seus títulos em catálogo, como
também é visível no final do presente álbum - através (para já…) de duas
compilações. Genericamente intituladas Pontas Soltas, contemplaram, primeiro,
algumas Cidades
que Cabral visitou, e, agora, a sua Lisboa natal.
Lisboa que é a protagonista - e único ponto comum entre os quatro
relatos incluídos neste livro – e que surge – pela forma como o desenhador a
retrata – como bem mais do que mero ponto de passagem, antes porto de abrigo
com o qual são evidentes os laços e afinidades.
Dessas quatro histórias, releva-se igualmente a
possibilidade de apreciar (alguma d)a evolução de Ricardo Cabral, descobrir (algumas
d)as suas influências e apreciar o seu à-vontade com diferentes técnicas,
estilos e materiais, numa edição editorialmente cuidada e composta onde faz
todo o sentido e se aplaude a inclusão do texto inicial que situa no tempo e no
seu contexto cada uma das histórias publicadas.
Se Cabral realça mais o seu cunho pessoal nos dois relatos
iniciais, de tom entre o pesadelo e o pré-apocalíptico, ele também está patente
nos dois outros relatos ‘encomendados’ - a participação no projecto Web Trip
e Doca 21 (um relato policial leve e divertido,
criado integralmente num Samsung Galaxy Note 3, a convite da marca) - onde os
suportes exigiram técnicas diversas, mas onde Lisboa continua a brilhar.
Pontas Soltas – Lisboa
Ricardo Cabral (argumento e desenho)
Francisco Chatimsky e Mafalda Quintela (argumento de Doca 21)
ASA
Portugal, Outubro de 2014
220 x 280 mm, 80 p., cor, cartonada
17,95 €
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