Um relato quase mudo, puramente gráfico, do espanhol Victor Santos.
Natural de Valência, Espanha, depois de várias colaborações
– e entre elas está Filthy Reach,
escrito por Brian Azzarello – Santos surge aqui como autor completo e na
verdade não se sai mal, pois embora Polar
não seja mais do que uma narrativa relativamente linear de violência e acção, a
sua componente gráfica tem um papel narrativo fundamental. (Sei que pode soar
estranho numa análise a uma BD, mas passo a explicar.)
Na verdade, num relato em que os parcos textos servem quase exclusivamente
para nomear os intervenientes e situar o contexto, os muitos silêncios são
preenchidos pelo ‘som’ das acções mostradas. O formato italiano adoptado
beneficia o tipo de planificação assumida, muito dinâmica e cinematográfica,
muitas vezes com as páginas (falsamente) ocupadas por uma única imagem, pois em
boa parte delas a acção é desmontada em pequenas vinhetas acessórias que acalmam
e pautam o ritmo acelerado que prevalece e orientam a leitura.
O seu traço, mais do que isso, o registo gráfico escolhido,
mostra as influências de Frank Miller ou Mike Mignola mas é algures numa súmula
de ambos, entre a simplicidade do segundo e a dureza do primeiro, entre a
limpeza de Mignola e o uso de contrastes branco/negro – e aqui também vermelho
– de Miller, que ele se tenta firmar.
Escrevi tenta porque, a espaços, o desenho que aqui e ali
atinge laivos de realismo, foge demasiado para um registo próximo do caricatural,
chocando com o tom negro assumido e com o que predomina no todo e contrastando com
a violência que impera em grande parte da narrativa.
Isso não invalida a sua boa utilização como veículo
narrativo e a existência de belíssimas sequências, quer do ponto de vista
plástico, quer do ponto de vista descritivo, como toda a emboscada inicial ou a
sequência de combate aquando da fuga da prisão.
Polar – Venu do Froid
Victor Santos
Glénat
França, 13 de Janeiro de 2016
232 x 170 mm, 176 páginas, pb e vermelho, cartonado
15,95 €
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