História de espionagem, relato autobiográfico ou policial
bem urdido?
Ao som dos Procul Harum, sob o manto da guerra fria, o
assassinato de Kennedy em pano de fundo e com a sombra de Diabolik a rondar, o
Verão de 1967 foi inesquecível e marcou para sempre Antoine.
E é essa história que Antoine, então com 15 verdes anos, nos
conta, na primeira pessoa, num livro que (20 anos) mais tarde escreverá, após
longa e morosa investigação, num acto catártico de libertação ou, pelo menos,
de ajuste de contas com o intrigante passado que sempre o assombrou e que
naquele Verão o marcou a vários níveis, pelo fim da sua paixão platónica, pela
sua primeira vez – no sexo e no LSD - e pela partida inopinada e definitiva do
pai.
Tudo naquele estranho Verão, iniciado numas férias junto à
praia, em que uma vitória num pequeno torneio de ténis local, desencadeou uma
louca sucessão de acontecimentos: ameaças ao pai, uma perseguição rodoviária,
um morto num despiste, a amizade com o seu adversário da final de ténis, a primeira
experiência sexual – antes do amor – devido ao desencanto com a sua paixão
platónica, os mistérios que pairavam em seu redor, as bandas desenhadas de
Diabolik, a música, o LSD, o assassinato de Kennedy, a guerra fria…
Tudo reunido no livro, que leremos anos mais tarde, e cuja
segunda parte funciona como o arrumar e encaixar de todas as peças de um
intrincado puzzle por camadas que, uma vez dispostas e encaixadas, vão
revelando histórias diferentes ou, melhor, nos vão encaminhando para uma longa,
surpreendente e trágica história por detrás da(s) história(s) que pensávamos já
conhecer.
Alexandre Clérisse ilustrou o relato num traço estilizado, delicado e (adequadamente) retro pop, trabalhado numa aconchegante cor directa. de tons quentes no arranque, mais sombrios no terço final que tudo esclarece. A narrativa, quase leve, divertida
e desprendida, apesar das inúmeras referências, é de Thierry Smolderen que nos oferece um relato
concebido de forma bem encadeada e coerente que nos vai iludindo com sucessivas
mudanças de orientação, fazndo de L’Été
Diabolik, afinal, simultaneamente, um belo relato autobiográfico, policial e
de espionagem.
L’Été Diabolik
Thierry Smolderen (argumento)
Alexandre Clérisse
(desenho)
Dargaud
França, 8 de Janeiro
de 2016
210 x 280 mm, 168 p.,
cor, capa dura
EAN 9782205073454
21,00 €
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