Golem é um relato
de antecipação, que aborda o fim da economia mundial tal como a concebemos hoje
e a predominância de uma sociedade híper-consumista em que todos podem
(realmente) ter tudo.
O tempo é o futuro próximo – 2030 para ser mais exacto - e
local é a Itália, capital da Eurásia, o super-continente onde reina a paz
assente no hiper-consumismo que mantém todos satisfeitos e a sociedade a
funcionar, com o euro substituído pelo ‘pseudo’ (!).
Por isso, em todos os locais, nas ruas e no interior, nos
carros, nas casas, nas escolas, há publicidade interactiva a apelar ao consumo
desenfreado e à substituição imediata do que já foi usado (mesmo que pouco…).
Por isso, também, todos podem ter os mais modernos ‘desmophones’ (os futuristas
telemóveis) e os mais potentes veículos topo de gama e comer sempre fora, em
cadeias de restauração evoluídas ‘que permitiram abandonar o antigo e perigoso
hábito de cozinhar’.
Numa sociedade aparentemente ideal, apesar de democratizada
à força e em que a aparente liberdade não é mais do que o controlo absoluto
imposto pela nanotecnologia vigente, cuja produção em massa, destruiu, esgotou
e poluiu campos e montanhas, a ameaça vem dos ‘shorai’, os resistentes, que ainda
cozinham, manuseiam e lêem livros e não usam tecnologia…
A história centra-se em Stenos, um adolescente que manteve a
capacidade de sonhar e cujo pai desapareceu quando se recusou a entregar ao
estado uma descoberta científica que permitiria que a sociedade se libertasse
de toda e qualquer dependência industrial ou monetária.
Raptado pelos shorai, juntamente com Rosabella, sua colega e
filha do primeiro-ministro, irá descobrir o segredo que o pai escondeu e
tornar-se crucial no confronto entre governantes e resistentes.
Assim, a crítica social mordaz e inteligente que poderia ser
a essência desta história de ficção-científica, assente na projecção
(distorcida) das dependências tecnológicas que hoje já adivinhamos, dilui-se e Golem surge antes aos nossos olhos com uma
estrutura mais simples e linear, de confronto entre ditadura e resistência,
sendo por isso a sua leitura facilitada.
Para isso contribui a planificação quase minimalista pela
qual LRNZ, aliás Ceccotti Lorenzo, muitas vezes reduzida a duas ou três
vinhetas por página (ou dupla página), o que potencia o seu dinamismo e o ritmo
de leitura.
O grafismo de influência nipónica, com elementos associados aos
videojogos, ao design e à publicidade, é outro contributo para essa facilidade
de leitura, funcionando o todo como uma parábola de antecipação, de tom ligeiro
e final alegórico em aberto, mas que coloca algumas questões que devem ser
levadas mais a sério.
Golem
LRNZ
Glénat
França, 13 de Janeiro de 2016
182 x 257 mm, 280 p., cor,
brochado com sobrecapa a 2/3
EAN/ISBN : 9782344012062
24,95 €
Jacintos-de-Água (Hyacinths) - 1983, Chelsea Quinn Yarbro. Caminho FC 7 (1985), 198 páginas.
ResponderEliminarOs Mercadores do Espaço (The Space Merchants) - 1953, Frederik Pohl e C.M. Kornbluth. Europa-América FC 137, 154 páginas.
Mundo de Midas (Midas World) - 1983, Frederik Pohl. Argonauta 404/405 (1991), 182/185 páginas.