Se, em termos europeus, Spirou (há muito) abriu a porta ao
conceito ‘Uma história de… por…’ os anos – meses? - mais recentes, mostram-na
escancarada – nas mais diferentes localizações geográficas - na exploração do
conceito.
Em termos franco-belgas, na peugada de Ric Hochet,
Chlorophylle e outros, surge agora a vez de Lucky Luke, revisitado por Matthieu
Bonhomme entre a homenagem, a nostalgia e a inovação.
O Lucky Luke de Bonhomme apresenta-se mais solitário, mais
taciturno e – num regresso a um passado já distante mas não esquecido – continua
a ser fumador e, mais ainda, dependente da satisfação desse vício para manter a
sua habitual fleuma e sangue-frio.
A história, depois da ‘perturbadora’ cena mostrada aqui à
direita, arranca três dias antes com a chegada de Luke, numa noite de tempestade,
a Froggy Town, uma miserável cidadezinha do Oeste como tantas que ele – ao
longo de sete décadas - já visitou.
Precedido pela sua fama – pelo seu passado – Luke é idolatrado
por parte os habitantes mas, também, coagido pelos três irmãos Bone que, à
sombra da estrela que usa o menos (mentalmente) capaz do trio, e do patriarca
da família, nervoso e provocador, de alguma forma dominam a cidade.
A investigação de um assalto a uma diligência que
transportava o ouro dos mineiros e – ligado a ele – o futuro não só de todo o
comércio local mas da própria cidade, levam-no em perseguição de um índio
misterioso e, inexoravelmente, conduzi-lo-ão ao fatídico momento em que cairá
para gáudio do ‘homem que matou Lukcy
Luke’.
Bem escrito e desenvolvido, na linha dos grandes westerns
tradicionais, cuja estrutura e modelo segue, L’Homme qui tua Lucky Luke, este é um relato de tom trágico e
sombrio, atenuado aqui e ali por pequenos apontamentos de humor (desencantado),
feito de aparências que se revelam – sucessivamente - enganadoras, que fica
também marcado pelo magnífico traço de Bonhomme, desenvolto e ágil, por uma
planificação tradicional mas extremamente legível – na linha da magnífica
herança de Morris - pelas sucessivas referências e piscares de olho ao passado
(aos quadradinhos) do protagonista e por alguns belos achados – como a falta
(global…) de tabaco que, como uma verdadeira maldição, tanto afecta Luke e os
cidadãos de Froggy Town …
E – acima de tudo, apesar de tudo – pelos dois co-protagonistas
Doc Wednesday, um antigo pistoleiro, e o patriarca Bone, ambos de saúde
precária e perseguidos pelos fantasmas do passado, que ilustram o fim –
inexorável - dos que vive(ra)m à sombra das suas armas e reforçam a homenagem
ao carácter impoluto, ímpar e exemplar de Lucky Luke e a certeza de que os
heróis nunca morrem.
L’Homme qui tua Lucky Luke
Matthieu Bonhomme
Dargaud
França, 1 de Abril de 2016
235 x 310 mm, 64 p., cor, capa dura
EAN : 9782884713634
14,99 €
Será que vai ser editado por cá? Ou é esperar muito?
ResponderEliminarLetrée
Deve ser esperar muito... ;(
EliminarBoas leituras!
Infelizmente as vezes o mercado só suporta as inumeras reedições de Asterix, Lucky e outros. Ainda continuo à espera da edição portuguesa do "ultimo" Corto Maltese. Abraços
ResponderEliminarA edição de franco-belga em Portugal passa por um período de recessão como não tenho memória...
EliminarBoas leituras!
Pois este livro parece-me brutal! Quanto ao Corto Maltese já desisti de esperar. Vivendo em Espanha, descobri a minha fonte de alimentação francofona em castelhano. Tudo o que sonharem. Ponent Mon, Trilita, Dolmen, Coeditum, Normal Editorial, etc. Filão de editoras com catálogos franco-belga incríveis. Em Portugal que ia pegando nisto era a ASA que infelizmente, desde a saída da MJP, morreu.
ResponderEliminarGostei bastante deste Lucky Luke...
EliminarQuanto a Espanha, apesar de ser aqui ao lado, não tem nada a ver connosco em termos de edição de BD...
Boas leituras!
Claro que sim, Diagosr1. Basta ir ao Ebay.es, até porque os portes são muito razoáveis.
ResponderEliminar@Paulo Pereira: Amazon.es. Portes gratis :)
ResponderEliminarCaro diogosr1, tem toda a razão. O que eu queria dizer era Amazon.es. Cumprimentos Paulo Pereira
EliminarA Levoir criou um mercado. A G-Floy aproveitou a onda. A própria Levoir seguiu uma têncencia 'criada' pela própria ASA. Venda em banca. Se os leitores/compradores não vão à BD, é a BD que vai aos leitores.
ResponderEliminarE o importante é que haja oferta diversificada, para a BD poder chegar ao maior número possível de potenciais leitores!
EliminarBoas leituras!