A par de Cosey, a ‘honra’ de
inaugurar a colecção Mickey vu par… coube igualmente ao duo Lewis Trondheim/Keramidas
e o resultado, inevitavelmente, é diferente. Muito mais louco e com um ritmo
alucinante.
Este último aspecto deve-se
ao facto de a abordagem feita por Trondheim e Keramidas fugir à criação
tradicional de uma BD. Na verdade, Mickey’s Craziest Adventures está construído como se se tratasse de
uma série de pranchas soltas, datadas de 1965, descobertas por acaso, tendo
cada uma delas, de alguma forma, princípio e fim, mas fazendo também parte de
um todo cujas falhas conseguimos intuir, mas resultando assim numa obra de onde
os autores expurgaram todas aquelas explicações que normalmente abrandam o
ritmo narrativo de uma banda desenhada.
Desta forma o relato assume uma velocidade vertiginosa, com
constantes corridas, fugas e perseguições que, se nos deixam sem tempo para
respirar, apesar de tudo nos permitem também perceber sem qualquer dúvida o
relato ‘maior’ de que estas pranchas fazem parte. Isso confere ao leitor um
papel mais determinante na leitura – uma vez que é obrigado a preencher
mentalmente os muitos vazios da narrativa, bem para lá dos ‘espaços em branco
entre as vinhetas’ - e, arrisco-me a escrevê-lo, torna ainda mais alienante o
argumento – já de si bem tresloucado!
Numa história em que Trondhiem e Keramidas quiseram (e
conseguiram) congregar um grande número de personagens Disney – Mickey e
Donald, os verdadeiros protagonistas, mas também Bafo-de-Onça, os Metralhas,
Patinhas, Pardal, Lampadinha, Minnie, Pateta, Coronel Cintra… (todos com
‘curiosos’ nomes franceses!) – tudo começa com o rapto de Pardal, para roubar
uma máquina redutora, que permite aos vilões reduzir a um tamanho mínimo as
moedas do Tio Patinhas e assim esvaziar o seu depósito. Mickey e Donald são
chamados para as tentar recuperar.
Este é o ponto de partida para o tal relato de ritmo
alucinante, com constantes mudanças de meio de transporte, de cenário – da
selva à Lua, do Pólo gelado a um templo Azteca, da selva pré-Histórica a uma
cidade no fundo do mar… - e da dimensão das personagens, tudo servido com doses
generosas de muita loucura e humor – marcas inegáveis de Trondheim. Se a
maioria das personagens mantém sensivelmente as características que todos (lhes
re)conhecemos, Mickey surge um pouco mais violento, provocador e exaltado, com
acrescidos – porque inesperados - resultados humorísticos.
Em contraponto a Cosey, que optou por um visual mais
tradicional de Mickey (próximo do original de Disney) e das restantes
personagens (mais próximas do visual dos nossos dias), Keramidas aproximou-as
do seu próprio registo gráfico (e também do de Trondheim). Desta forma, se Une Mystérieuse Mélodie, de alguma forma poderia encaixar sem grandes
atritos na ‘cronologia’ Disney, este Mickey’s
Craziest Adventures, assumindo igualmente o mesmo carácter de homenagem,
evocação e cumprimento de um sonho, propõe uma leitura bem mais provocadora – e
por isso mais estimulante.
Mickey’s Craziest Adventures
Lewis
Trondhiem (argumento)
Keramidas
(desenho)
Glénat
França,
Março de 2016
240 x 320
mm, 48 p., cor, cartonado
EAN/ISBN : 9782344012741
15,00 €
Gostaria que publicassem estas novas versões do Mickey em Portugal
ResponderEliminarInfelizmente, isso é altamente improvável...
EliminarBoas leituras!
Lá vou eu ter de comprar em francês.
EliminarO problema é que, passados uns anos, acabam por publicar em português e acabo por gastar o dobro do dinheiro só para ter em ambas as línguas...