Uma boa edição faz uma boa história? Não.
Mas uma boa edição valoriza uma (boa) história? Sem
dúvida.
Ao começar com Patagónia – ‘a história’ de Tex por
excelência? - a ‘colecção’ da Polvo dedicada ao ranger herdou desde logo um
problema: qualquer que fosse a história seguinte, a comparação com o livro de
estreia seria menos abonatória. Obviamente, uma apreciação baseada neste único
ponto, seria extremamente penalizadora e redutora.
Baseada nos Textones italianos – os Tex Gigante da
brasileira Mythos – havia dois caminhos a trilhar: seleccionar os títulos dos
autores mais apelativos – Joe Kubert, Magnus,
Jordi Bernet… - ou utilizar como critério de selecção a
vinda do autor a Portugal para participar nas Mostras do Clube Tex, escolhidas
– naturalmente – como local de lançamento dos Tex da Polvo. A opção por esta
última hipótese – e ambas eram igualmente válidas - ‘forçou’ a escolha de Tempestade
sobre Galveston, devido à presença de Massimo Rotundo na Anadia, já amanhã,
sábado, e domingo.
Escrito por Pasquale Ruju – que já nos ofereceu boas
histórias de Tex como A
Horda do Crepúsculo, Os
Bandidos da Neblina ou Mestiço/A
Revanche - este é um relato do ranger de cariz tradicional. Nele, após
dizimarem um bando que perseguiam, Tex Willer e Kit Carson chegam a Galveston
onde vão ser apanhados pelo ‘fogo cruzado’ de um confronto entre o rico fazendeiro
local e o pouco justo juiz e a bela proprietária de um dos saloons da cidade.
Tomando o partido desta última, os rangers terão que
utilizar toda a sua argúcia, força e, principalmente, capacidade de atiradores,
para atingirem os fins a que se propõem e reporem a lei, a ordem e a justiça.
Ficando Galveston situada num estado sulista, Rujo aproveita para acrescentar à
trama alguns apontamentos relacionados com a escravidão e a exploração – legal…
- de negros (temáticas que, curiosamente raras vezes são vistas nas aventurasdo ranger), e ainda a história de um grande jogador, uma mulher determinada e
a busca de um tesouro escondido, tudo enquadrado pelas mudanças sociais aceleradas
então em curso no Velho Oeste.
Com Willer e Carson iguais a si mesmos – dificilmente
poderia ser de outro modo… – Tempestade sobre Galveston conta na sua galeria com
algumas personagens interessantes, entre um bom número de vilões, intriguistas,
prepotentes e ‘simples’ assassinos, um xerife digno da estrela que ostenta, a
tal mulher determinada, um foragido decidido a mudar de vida, duas empregadas –
diferente mas igualmente - dedicadas e um negro duplamente vítima – de si e do
sistema de justiça corrompido de Galveston - tendo cada um deles papéis
específicos mas determinantes, para que o conjunto funcione e faça sentido.
Tal como a enorme tempestade que se abate sobre a região – e
demonstra a pequenez humana face ao poder dos elementos naturais - que vai
também marcar – e de que maneira! - o desfecho deste relato de ritmo acelerado.
Chegado aqui, convém regressar às primeiras linhas deste
texto para salientar a boa qualidade da edição da Polvo, vocacionada assim, não
só para os fãs de Tex – e duas capas (badanas e contracapas) diferentes é um apelo irresistível para
muitos dessas fãs… - mas também para os leitores de BD exigentes, a quem as
edições tradicionais mensais, de pequeno formato e papel inferior, não estimulam
nem satisfazem.
Com a leitura feita na edição brasileira da Mythos, escrevo estas
linhas finais (ainda) apenas com base no que vi no livro anterior e nas pranchas
aqui – e noutros locais - reproduzidas porque, nelas, o belo desenho de Rotundo
ganha nova força, renovada vida. Detalhado, ao nível dos rostos, dos corpos e
das paisagens, sejam elas naturais ou fruto da mão humana, o traço de Rotundo
destaca-se especialmente na forma como confere volume e profundidade às
vinhetas e pela variedade de perspectivas utilizadas, tudo salientado pelos
tons bem negros utilizados na impressão e pelo papel de boa gramagem, que
realçam os contrastes claro/escuro e os jogos de luz explorados pelo desenhador,
em especial na longa sequência final, em plena tempestade.
Seria injusto terminar estas linhas sem destacar a belíssima
capa desenhada por Rotundo especificamente para a edição portuguesa que
se torna, assim, ainda mais apetecível como peça de colecção para os muitos
seguidores que o ranger tem em Itália, Portugal, Brasil e outros países.
Colecção Romance Gráfico Tex #2
Pasquale Ruju (argumento)
Pasquale Ruju (argumento)
Massimo Rotundo (desenho)
Polvo
Portugal, Abril de 2016
185 x 245 mm, 228 p., pb, brochado com badanas
ISBN 978-989-8513-55-7
16,99 €
Tex Gigante #30
Mythos Editora,
Brasil, Outubro de 2015
185 x 275 mm, 242 p., pb, brochado
R$ 21,90 / 11,00 €
Vão continuar a ser lançados mais albuns de Tex pela editora polvo ?
ResponderEliminarSim, Ruben, a Polvo vai continuar a lançar álbuns de Tex, por isso esta colecção passou a ter um nome: Romance Gráfico Tex.
ResponderEliminarE se tudo correr como está previsto, o próximo deverá estar à venda antes do Verão.
Boas leituras!
Obrigado Pedro, optimas noticias ! Quando tiveres novidades das proximas ediçoes posta no blog ! Abraço e continuaçao do excelente trabalho que desenvolves aqui !
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