A ficção da realidade
Passada a surpresa que o primeiro volume constituiu,
estabelecido o registo narrativo, definida a posição - crítica - de Sattouf
neste contexto, o que nos pode levar à leitura do terceiro tomo de O Árabe do Futuro?
Desde logo uma história coerente, capaz de nos surpreender
na sua continuidade, bem construída por um autor que conhece bem o seu ofício -
que pelo sucesso da obra se pode dar ao luxo de avançar pausadamente,
pormenorizando o que deseja, quanto deseja.
Depois - talvez principalmente - o registo das diferenças culturais,
sociais, acima de tudo religiosas. Entre os franceses e os sírios. Entre o pai
e a mãe de Riad. Entre os fundamentalistas religiosos e os crentes (?)
moderados.
Numa obra autobiográfica, mais a mais centrada na infância do
protagonista, há uma dúvida que assaltará sempre o espírito do leitor: quanto
do que aqui é narrado são memórias reais, quanto foi aqui transposto através do
‘ouvir contar’, mais ainda: do que é transmitido ao leitor qual a dose de
veracidade, qual a percentagem de ficção para compor a história?
Se a pergunta não deixa de ser premente, a resposta perde
alguma da sua importância porque o que chegue às mãos dos leitores é uma obra bem
legível, interessante, sobre uma temática actual e que constitui um retrato social
credível de duas realidades distintas.
O Árabe do Futuro #3
Ser Jovem no Médio-Oriente (1985-1987)
Riad Sattouf
Teorema
Portugal, Setembro de 2017
240 x 15 x 172 mm, 152 p., cor, capa mole com badanas
ISBN: 9789724751504
19,90 €
(capa disponibilizada pela editora; prancha da edição francesa; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
O melhor de Riad Sattouf é ele ser um excelente contador de histórias. E para quem gosta de boas histórias, o ser em BD ou por outro meio qualquer, acaba por ser irrelevante. Ainda estou com um sorriso na cara ao ver a caras da mãe de Riad e os seus pensamentos ao saber que finalmente vão sair da Siria :-)
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