09/11/2018

Marcello Quintanilha: “Trabalho a partir daquilo que está comigo e que me formou como ser humano”

Foto de Luciana Oliveira






Bem conhecido dos leitores portugueses, graças às edições da Polvo de Tungsténio ou Talco de Vidro, Marcelo Quintanilha está de volta ao Amadora BD este fim-de-semana, para apresentar o seu mais recente livro, Luzes de Nieterói.
Foi o pretexto para a entrevista que se segue, feita à distância através de correio electrónico.

As Leituras do Pedro - Quem é Marcello Quintanilha?
Marcello Quintanilha - Boa pergunta. Alguma ideia?

As Leituras do Pedro - Como se tornou autor de histórias em quadrinhos? Quais as suas influências?
Marcello Quintanilha - Comecei a publicar em 1988, através de uma grande editora na época, chamada Bloch, que pertencia à TV Manchete. Desde então, passei por várias revistas, como ilustrador de imprensa, além de dedicar mais de dez anos ao mundo da animação. A partir de 2001, venho publicando periodicamente e desde 2009 me dedico integralmente à produção autoral.

As Leituras do Pedro - Quais as suas influências?
Marcello Quintanilha - Minhas influências vêm de toda parte, de coisas vividas por mim em primeira pessoa ou por pessoas próximas a mim; da literatura brasileira; da arte de Jacobs, Buscema, Boucq; do cinema de Rossellini, De Sica, Welles; enfim…

As Leituras do Pedro - Apesar de residir há alguns anos em Barcelona, continua a situar as suas obras no Brasil. Quanto de si, da sua vivência, das suas memórias há nelas?
Marcello Quintanilha - Absolutamente tudo. Não me sinto longe do Brasil sob nenhum aspecto e escrever sobre o Brasil estando fora é exatamente igual a escrever sobre o Brasil estando dentro. Não há nenhum tipo de dificuldade nesse sentido porque não parto do que está diante de mim para construir meu universo, ou seja, não trabalho como um observador da realidade tangível, mas sim a partir daquilo que está comigo e que me formou como ser humano - o que, inevitavelmente, está ligado à vida que conheci no Brasil.

As Leituras do Pedro - O que podem os leitores esperar do seu novo livro “Luzes de Niterói”? De que trata?
Marcello Quintanilha - Trata-se de uma história sobre amizade, na qual dois jovens terão suas relações tensionadas até o ponto de ruptura, depois do qual será necessário se perdoarem a si mesmos antes de poderem perdoar ao companheiro. Mas também um relato de aventura, baseado em fatos reais ocorridos com meu pai na década de 1950, quando era jogador de futebol profissional em equipas da nossa cidade natal, Niterói. Ela traz à tona todo um vernáculo corrente na época, uma série de valores e figuras que ajudaram a compor a sociedade brasileira actual e da qual nos vamos lamentavelmente distanciando.

As Leituras do Pedro - Luzes de Niterói” é publicado em Portugal e na França, antes do que no próprio Brasil. Foi fácil entrar no mercado europeu? Qual a importância dele para si?
Marcello Quintanilha - Não sei quais são os critérios de facilidade expressos na pergunta nem trato essa questão dentro desse tipo de parâmetros e nem considero correta a ideia de “mercado europeu” uma vez que cada um dos países do continente têm suas especificidades do que se refere à publicação de quadrinhos. Normalmente associa-se a noção de “mercado europeu” a sua vertente mais proeminente, ou seja, o mercado franco-belga. Nesse sentido, diria que sua principal importância para mim está no contacto que tive ao longo dos anos com a produção de autores como Boucq, Schuiten, Moebius, Jacobs, Robert Gigi, etc.

As Leituras do Pedro - Mais uma vez está de volta ao Amadora BD. O que espera deste reencontro com os seus leitores portugueses?
Marcello Quintanilha - Difícil dizer o que esperar, mas estou ansioso para reencontrar o público, o país, os amigos. Amadora sempre é uma experiência maravilhosa!

(imagens disponibilizadas pelo editor; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Sou fã do trabalho do Quintanilha. Quamdo li "Sábado dos meus amores" fiquei impressionado com a pessoalidade que encontrei no gibi. E isso foi elevado em escala máxima em "Tungstênio". Não vejo a hora deste gibi chegar as lojas.

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