Alguém disse que o importante não é história que se conta; o que
é pertinente é a forma como ela é contada.
Por isso - tantas vezes - ideias que até parecem básicas, dão
origem a obras bem conseguidas. Como este Monolith, aposta
minha de (algum) risco, pelo (quase total) desconhecimento prévio, de
mais um lançamento espanhol do catálogo da Sergio Bonelli Editore.
Comecemos pela tal ‘ideia básica’: uma criança de 2 anos, fica
fechada dentro de um carro, numa estrada de montanha, deserta, longe
de tudo, com a mãe, Sandra, do lado de fora. Para condimentar,
Roberto Recchioni (à partida uma referência forte, reconheço,
depois do magnífico Dylan
Dog: Mater Morbi) acrescentou um pormenor de suprema
importância: a viatura em questão, é um exemplar de Monolith, um
veículo quotidiano de última geração (futura), blindado e de
máxima segurança, assegurada por computador.
A nota dramática é acentuada - em sucessivos flash-backs que
quebram a narrativa e aumentam o suspense e o interesse do leitor -
pelo facto de Sandra ter acabado de deixar o marido, sufocada pelo
seu controle constante, motivado pelo passado conturbado e com uma
história de dependência da jovem.
A partir daqui, a história assenta nas sucessivas tentativas de
abrir o carro após um acidente e nos vários reveses que vão
acontecendo, a par dos perigos que vão surgindo.
Com isto, Recchioni construiu um thriller poderoso, intenso e
sufocante, que é muito bem mostrado ao leitor pelo desenho
camaleónico de LRNZ, que se vai ajustando - no traço e nas cores -
aos diversos momentos e estados de espírito da protagonista.
Até um final que - dando razão a Mauro Uzzeo, co-autor do guião -
mostra como um desenho - na realidade, aqui, seis vinhetas em duas
páginas, servidas por um movimento inicial de aproximação de
câmara, seguido por um afastamento progressivo - pode dizer tanto -
ou tão pouco? - e deixar completamente desconcertados os leitores
quanto ao efectivo desfecho que, naquelas (poucas) seis vinhetas,
assume, em sucessão, duas direcções completamente díspares.
Tal como nas anteriores visitas da Panini Comics ao catálogo
Bonelli, já aqui recenseadas - Primavera
del 68 e Dragonero:
Orígenes - a edição é muito boa, com papel de boa
gramagem, excelente impressão, capa (muito) dura e uma série de
extras que complementam esta obra, que deu também origem ao primeiro
filme produzido pela Sky e a Sergio Bonelli Editore.
Monolith
Roberto Recchioni (argumento e guião)
Mauro Uzzeo (guião)
LRNZ (desenho e cor)
Panini Comics
Espanha, 22 de Novembro
195 x 259 mm, 192 p., cor, capa dura
19,00 €
(imagens retiradas do blog do
desenhador; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua
extensão)
Pena essas coisas não saírem por cá, em português, óbvio!
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