Se há algo que se tem de reconhecer à actual direcção da Sergio Bonelli Editore, é a capacidade de diversificar a sua linha editorial, sem trair os seus princípios e as suas linhas mestras.
[E o crossover com a DC Comics, anunciado há dias em Lucca, cujas
hostilidades abrirão em 2019 com a parceria entre Zagor e Flash (!), é
apenas mais um passo.]
O predomínio de Tex mantém-se, seguro nas bancas - tanto quanto é
possível nos dias que correm -, omnipresente em sucessivas colecções
com jornais e invadindo paulatinamente as livrarias em edições
cuidadas que, se de alguma forma renegam as origens e o espírito
populares do ranger, por outro fazem jus à arte - escrita e
desenhada - que o suporta e satisfazem o gosto de leitores que
(outr)os hábitos de leitura tornaram mais exigentes.
Ao mesmo tempo, há uma aposta concreta e definida numa
diversificação temática, quer em publicações regulares de banca,
quer em edições soltas.
Desta forma - desdobrando-se na forma, no estilo e no(s) conteúdo(s)
- a Bonelli tem chegado a outros públicos e, também a outros
países. Acolecção que a Levoir editou este ano em Portugal - fora dosparâmetros ‘tradicionais’ da casa italiana - é um exemplo;
as diferentes editoras que no Brasil vão editando os seus heróis é
outro; a recém-criação de um ‘selo’ Bonelli pela Panini
espanhola pode ser um terceiro modelo.
Este último acaba de se estrear, em edições (muito) cuidadas, com
fartos extras, de formato similar à colecção da Levoir, em capa
(mais) dura e papel de boa (e melhor) gramagem (que aquela) -
apontando claramente às livrarias e a leitores com outras exigências
quanto ao ‘objecto’ de leitura. E desdobra-se numa temática
dual, apresentando por um lado o mais ‘popular’ Dragonero
- a que voltarei em breve - e por outro um one-shot que parte
de uma base histórica - como o muito interessante Le
Storie: Sangue e Gelo - como sustentáculo da ficção que o
preenche.
Primavera del 68 -
com
edição original italiana de Maio deste ano - tem
a assinatura - na ideia base, na concepção e no argumento - de
Gianfranco Manfredi - a quem volto mais cedo do que esperava - e está segmentada em duas
partes distintas. Na primeira, passada
na
tal Primavera de 1968, acompanha a participação, mais ou menos
empenhada, por razões
díspares, de seis jovens - Lina,
Margherita, Paolo, Armando, Milo y Turi
- nas
manifestações e movimentos que tiveram lugar em Milão, a exemplo
do modelo que chegava de França.
Na segunda, vinte anos mais tarde, um fotógrafo que os retratara
numa das manifestações, tenta descobrir o que foi feito deles, no
que se tornaram, como os sonhos e expectativas de então se
concretizaram - ou não - nas suas vivências actuais.
Estimulante na sua ideia base, Primavera del 68 sofre pelo
facto de ter sido confinado apenas a um volume único e não ter
originado, por exemplo, uma mini-série - (mais ou menos extensa) a
exemplo de Face
Oculta, outra criação de Manfredi - pois no final da quase
centena e meia de pranchas deste volume fica a sensação de que
ficou por narrar muito dos percursos - com opções, incidentes e
acidentes - que levaram cada um deles a ser o que são no presente
(do relato).
Os
condicionalismos do início, a força de vontade de cada um, a sua
condição social e financeira, os ideais - ou a falta deles -, as
relações, o
oportunismo, a dedicação, a entrega, a capacidade de reagir às
derrotas, a vontade de impor - e de se impor -, os encontros e
desencontros ficam maioritariamente à imaginação do leitor, com a
certeza que ‘nada
ficou como dantes’ depois da vivência daquelas semanas intensas,
vistas aqui sob uma outra óptica, mais humana, à margem de
condicionalismos sociais e políticos.
Primavera
del 68
Gianfranco
Manfredi (argumento)
Luca
Casalanguida (desenho)
Panini
Comics
Espanha,
25 de Outubro de 2018
195
x 259 mm, 144 p., cor, capa dura
16,00
€
(imagens disponibilizadas pelo editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda sua extensão)
"[E o crossover com a DC Comics, anunciado há dias em Lucca, cujas hostilidades abrirão em 2019 com a parceria entre Zagor e Flash (!), é apenas mais um passo.]"
ResponderEliminarParece um crossover "para apanhar boleia" na popularidade no Flash desde a Tv em animaçao e imagem Real ou Cinema.
A nova direção da Bonelli aposta em produtos extremamente atraentes do ponto de vista literário e histórico, referindo-se a temas inerentes à Itália 🇮🇹 do século XX mas também a uma revisão do próprio Western, o qual é um género cultivado aqui na Europa e aqui ainda muito vivo tanto na BD como nalgum cinema. Vale a pena estarmos atentos a uma produção de extrema qualidade!
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