17/07/2020

Operação Overlord #1: Sainte-Mère-Église

(Duplo) regresso ao passado







O tomo inicial desta nova colecção ASA/Público, lançado ontem, marca de alguma forma um duplo regresso ao passado: pela revisitação histórica em forma de banda desenhada e como exemplo de um certo tipo de BD que marcou - e prevaleceu...? - algumas décadas atrás.

Sinopse (oficial)
Está em preparação a maior operação de forças para-quedistas da História. Londres, Maio de 1944: aproxima-se o dia do desembarque na Normandia. A 82.ª companhia aerotransportada tem como missão garantir a segurança das estradas, pontes e zonas de aterragem no norte da península do Contentin. Para tal, deve tomar de assalto a cidade de Sainte-Mère-Église e mantê-la a todo o custo até à chegada dos reforços, que deverão desembarcar em Utah Beach. No comando, cinco militares vindos dos quatro cantos dos Estados Unidos. Cada um tem a sua história, os seus sonhos, as suas motivações. Cada um viverá o horror da guerra à sua maneira...

Contexto histórico e a colecção
No ano de 1944, os Aliados, depois de um período em que a guerra parecia perdida, aproximavam-se cada vez mais do momento de darem a estocada final nas forças do Eixo - alemães, italianos, japoneses… - e o desembarque na Normandia, onde deveria recomeçar a reconquista dos territórios europeus ocupados, surgia como o grande objectivo.
Nos 70 anos da efeméride, a editora Glénat avançava com três álbuns independentes - os três primeiros desta colecção ASA/Público - centrados em acções distintas que permitiram a concretização do Dia D.
Sainte-Mère-Église, é o primeiro.

Desenvolvimento
Álbum inicial desta série de tom realista e histórico, Sainte-Mère-Église busca o equilíbrio entre a fidelidade aos acontecimentos reais e o lado ficcional da narrativa, centrada em cinco americanos de origens e com motivações diferentes. A condição social, a raça, os preconceitos, vão andar lado a lado com as decisões que o estado-maior deve tomar e as vicissitudes surgidas durante a operação no terreno.
Se há um bem maior a conseguir, nenhum dos protagonistas deixa de ser humano e imperfeito, de ter sonhos mas também medos, mas a verdade - aqui reflectida - é que foram pessoas assim que levaram a bom termo a maior operação militar da História da Humanidade.
Se neste tipo de narrativa é (quase) inevitável algum excesso de informação e de contextualização histórica, os autores conseguem o equilíbrio necessário para que a narrativa mantenha legibilidade e capacidade de manter a atenção do leitor.
Graficamente, o traço realista de Davide Fabbri cumpre bem a missão e a planificação arejada, com as vinhetas muitas vezes a ultrapassarem o espartilho das margens brancas tradicionais ou a 'ousadia' de soluções como a dupla prancha 8-9, também contribui pare essa legibilidade.

O outro regresso ao passado
Numa determinada época, algures entre os anos 1940 e 1970, com variações consoante as latitudes, a banda desenhada, como forma de auto-credibilização e para contornar a censura então vigente, procurou soluções consensuais e bem-vistas exteriormente. Foi o tempo das versões históricas e das adaptações de clássicos da literatura. [Muitas vezes, umas e outras excessivamente clássicas e verborreicas, mais próximas da versão ilustrada do que da BD propriamente dita…]
Em anos recentes - ou talvez nem tanto, mas de forma mais massiva nas duas últimas décadas - temos assistido a um certo regresso a estas temáticas nos quadradinhos, embora, em muitos casos, de forma viva e estimulante, com autores de créditos firmados - ou boas surpresas - a conseguirem criar verdadeiras bandas desenhadas com aquelas temáticas, como se de verdadeira ficção se tratasse.
Recentemente, por cá, há exemplos fáceis de citar, as colecções Descobridores, A sabedoria dos Mitos ou Eles fizeram História, da Gradiva, bem como - para surpresa de uns tantos? - alguns dos volumes das colecções Novela Gráfica ou romances gráficos como Dois irmãos ou A Leoa.
Nos casos atrás citados, como no presente Sainte-Mère-Église e por arrastamento em toda esta colecção Operação Overlord, o seu sucesso depende tanto da virtuosidade dos autores quanto da apetência dos leitores para estas propostas. A publicação desta colecção - de certa forma na peugada da similar Airborne 44, de temática semelhante, que há cerca de um ano a mesma parceria disponibilizou - parece ser um bom indicativo.
Como sempre, será o tempo a mostrar como uma e outra se conjugaram - ou não.

Sainte-Mère-Église
Operação Overlord #1
Distribuição à quinta-feira com o jornal Público
Michaël Le Gall (argumento)
Davide Fabbri (desenho)
ASA
235 x 312 mm, 48 p., cor, capa dura
9,90 €

(imagens disponibilizadas pela parceria ASA/Público; pranchas dupla da versão original francesa disponibilizada pela Glénat; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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