O tomo inicial desta nova colecção ASA/Público, lançado ontem, marca de alguma forma um duplo regresso ao passado: pela revisitação histórica em forma de banda desenhada e como exemplo de um certo tipo de BD que marcou - e prevaleceu...? - algumas décadas atrás.
Está
em preparação a maior operação de forças para-quedistas
da História. Londres, Maio de 1944: aproxima-se o dia do desembarque
na Normandia. A 82.ª companhia aerotransportada tem como missão
garantir a segurança das estradas, pontes e zonas de aterragem no
norte da península do Contentin. Para tal, deve tomar de assalto a
cidade de Sainte-Mère-Église e mantê-la a todo o custo até à
chegada dos reforços, que deverão desembarcar em Utah Beach. No
comando, cinco militares vindos dos quatro cantos dos Estados Unidos.
Cada um tem a sua história, os seus sonhos, as suas motivações.
Cada um viverá o horror da guerra à sua maneira...
No
ano de 1944, os Aliados, depois de um período em que a guerra
parecia perdida, aproximavam-se cada vez mais do momento de darem a
estocada final nas forças do Eixo - alemães,
italianos, japoneses… - e o desembarque na Normandia,
onde deveria recomeçar a reconquista dos territórios europeus
ocupados,
surgia como o grande objectivo.
Nos
70 anos da efeméride, a editora Glénat avançava com três álbuns
independentes - os três primeiros desta colecção ASA/Público -
centrados em acções distintas que permitiram a concretização do
Dia D.
Sainte-Mère-Église,
é o primeiro.
Desenvolvimento
Álbum
inicial desta série de tom realista e histórico, Sainte-Mère-Église
busca o equilíbrio entre a fidelidade aos acontecimentos reais e o
lado ficcional da narrativa, centrada em cinco americanos de origens
e com motivações diferentes. A condição social, a raça, os
preconceitos, vão andar lado a lado com as decisões que o
estado-maior deve tomar e as vicissitudes surgidas durante
a operação no
terreno.
Se
há um bem maior a conseguir, nenhum dos protagonistas deixa de ser
humano e imperfeito, de ter sonhos mas também medos, mas a verdade -
aqui reflectida - é que foram pessoas assim que levaram a bom termo
a maior operação militar da
História da Humanidade.
Se
neste tipo de narrativa é (quase) inevitável algum excesso de
informação e de
contextualização
histórica, os autores conseguem o equilíbrio necessário para que a
narrativa mantenha legibilidade e capacidade de manter a atenção do
leitor.
Graficamente,
o traço realista de Davide Fabbri cumpre bem a missão e a
planificação arejada, com as vinhetas muitas vezes a ultrapassarem
o espartilho das margens brancas tradicionais ou a 'ousadia' de
soluções como a dupla prancha 8-9, também contribui pare essa
legibilidade.
O
outro regresso ao passado
Numa
determinada época, algures entre os anos 1940 e 1970, com variações
consoante as latitudes, a banda desenhada, como forma de
auto-credibilização e para contornar a censura então
vigente, procurou soluções consensuais e bem-vistas exteriormente.
Foi o tempo das versões históricas e das
adaptações de clássicos da literatura. [Muitas vezes, umas e
outras excessivamente clássicas e verborreicas, mais próximas da
versão ilustrada do que da BD propriamente dita…]
Em
anos recentes - ou talvez nem tanto, mas de forma mais massiva nas
duas últimas décadas - temos assistido a um certo regresso a estas
temáticas nos quadradinhos, embora, em muitos casos, de forma viva e
estimulante, com autores de créditos firmados - ou boas surpresas -
a conseguirem criar verdadeiras bandas desenhadas com aquelas
temáticas,
como se de verdadeira ficção se tratasse.
Recentemente,
por cá, há exemplos fáceis de citar, as colecções Descobridores,
A sabedoria dos Mitos ou
Eles
fizeram História,
da Gradiva, bem como - para surpresa de uns tantos? - alguns dos
volumes das colecções Novela Gráfica
ou romances gráficos como Dois
irmãos
ou A
Leoa.
Nos
casos
atrás
citados, como no presente Sainte-Mère-Église
e
por arrastamento em toda esta colecção Operação
Overlord,
o seu sucesso depende tanto da virtuosidade dos autores quanto da
apetência dos leitores para estas propostas. A publicação desta colecção - de certa forma na peugada da similar Airborne 44, de temática semelhante, que há cerca de um ano a mesma parceria disponibilizou - parece ser um bom indicativo.
Como
sempre, será o tempo a mostrar como uma e outra se conjugaram - ou
não.
Sainte-Mère-Église
Operação
Overlord
#1
Distribuição
à quinta-feira com o jornal Público
Michaël
Le Gall (argumento)
Davide
Fabbri (desenho)
ASA
235
x 312 mm, 48 p., cor, capa dura
9,90
€
(imagens disponibilizadas pela parceria ASA/Público; pranchas dupla da versão original francesa disponibilizada pela Glénat; clicar nas imagens para as aproveitar em
toda a sua extensão)
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