O acaso - um curioso acaso! - agrupou a leitura (mais ou menos) simultânea desta obra por membros de um grupo do facebok e mediatizou - nesse curto círculo, apesar do atraso na publicação deste texto... - este Todo Paracuellos, juntando-se agora esta análise à do Rascunhos.
Recolha dos 6 álbuns da série Paracuellos,
editados originalmente entre 1976 e 2003, esta edição da Bols!llo
peca pela divisão a meio das pranchas, para assumir um formato
italiano, baixo e mais compacto. Longe de ser o ideal - quanto mais
não seja porque não foi assim que o autor concebeu a obra -
quer pelas suas características
gráficas, quer
pela planificação base original,
não me parece que tal facto prejudique inapelavelmente a leitura.
Havendo, como contrapartida, o bónus de uma edição integral por
baixo preço.
Obra autobiográfica, Paracuellos
é um conjunto de episódios curtos
vividos por Carlos Giménez ou por muitos dos miúdos com quem se
cruzou nos orfanatos/lares do estado onde eram amontados - e (muito)
mal-tratadas - as crianças espanholas que, no início da década de
1950, tinham ficado órfãs, sido abandonadas pelos pais ou tinham
estes em tratamento em sanatórios ou sem condições económicas
para os ter.
Às diabruras, alegria de viver e natural
irrequietude infantil, as casas de acolhimento - os seus responsáveis
e (todos) os que lá trabalhavam - à imagem do que Franco fazia à
Espanha, contrapunham um quotidiano duro e violento, inumano e cruel,
matando sonhos á nascença, negando os mais elementares direitos,
violentando mais psíquica mas também fisicamente aquelas crianças,
educadas (?) a murro e pontapé - literal e violentamente.
Chocante pela duríssima realidade retratada,
que abafa e quase mata a ternura própria da idade e o pouco humor
que Giménez se atreveu a colocar na sua narrativa Todo
Paracuellos é uma daquelas obras
que é obrigatório ler, menos pela sua (inegável) riqueza gráfica
e narrativa, mas mais pelo tom documental e absurdamente chocante da
realidade exposta.
Todo Paracuellos
Edición Comemorativa 40.º aniversario;
Inclui os álbuns I a VI
Carlos Giménez
De Bols!llo
Espanha, 2016
215 x 165 mm, 608 p., pb, capa dura com
sobrecapa
22 €
A expressividade de Carlos Giménez é chocante, entre o cartoonesco e o realista.
ResponderEliminarAinda me lembro da primeira vez que li um trabalho dele, foi o Koolau El Leproso para aí no início dos anos 80, baseado numa estória de Jack London, antes disso apenas Hugo Pratt me tinha impressionado tanto com o seu uso do preto e branco.
Parece que existe uma versão do Paracuellos em cores?
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