Há trocadilhos a que não resisto, o sub-título acima é um deles. Se se ‘sente’ bem quem ler este díptico de intriga e acção – se procura esse tipo de banda desenhada - isso acontece porque se trata de um bom ‘Sente’, ou seja um dos casos em que o antigo editor e agora argumentista soube levar a bom termo uma narrativa.
Se o primeiro volume se centrava na apresentação do padre Vince, uma espécie de agente secreto ao serviço do Vaticano onde as suas qualidades fazem dele mais do que um simples guarda-costas de personalidades eclesiásticas e o elevam à categoria de Guardião - um dos únicos 12 existentes na Curia romana - neste segundo – e último – volume do seu relato de estreia, avançamos para Davos onde se desenrola mais uma cimeira financeira e económica.
Com muitos interesses em jogo – dinheiro, claro, mas também
políticos, geo-estratégicos… - um acontecimento surpreendente e
inusitado vai ter lugar em Davos e obrigar Vince a entrar em acção.
Se de Boucq já sabemos o que esperar – dinamismo, boa composição
das pranchas, uma correcta representação anatómica… pese embora
a antipatia que tenho pelos lábios carnudos das suas personagens –
Sente surpreendeu-me pela forma equilibrada como geriu os diversos
elementos do relato, dividido por diversos locais. Com os momentos de acção mais contidos, uma
boa exploração da intriga e do suspense, a inclusão sóbria dos
aspectos mais sombrios da influência financeira do Vaticano, um
feliz toque de sobrenatural que ajuda a ultrapassar alguns impasses e
um bom trabalho ao nível da exploração dos diferentes
relacionamentos, consegue aqui um dos argumentos mais consistentes
que já lhe li, confirmando nesta conclusão as boas expectativas que
o tomo inaugural levantara.
E subindo as expectativas para outros que possam vir.
Nota final
Acalmados os efeitos da pandemia – que
teima(m) em prolongar-se – a Gradiva coloca nas livrarias este
segundo volume de O Guardião
(adiado de Abril), depois de ter lançado o primeiro em Março.
Se é verdade que os últimos anos fizeram com
que os leitores voltassem a ganhar (alguma) confiança nos editores e
a maior parte das séries está a ser publicada a um ritmo regular,
sendo possível editar num curto espaço de tempo dípticos já
integralmente disponíveis na origem, isso será mais uma ajuda para
cimentar a credibilidade de quem edita. E, acredito eu, uma forma de
mais rapidamente rentabilizar o investimento feito.
O Guardião #2: Fim de semana em Davos
Yves Sente (argumento)
François Boucq (desenho)
Gradiva
Portugal, Julho de 2020
233 x 313 mm, 48 p., cor, capa dura
15,00 €
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar
nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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