Origens…?
O
subtítulo deste livro é As
origens de uma lenda do Oeste
mas, como todos sabemos, quando alguém chega ao estatuto intangível
de ‘lenda’, destrinçar entre a realidade (histórica) e os
‘pontos’ que lhe foram sendo acrescentados por todos os que
narraram a sua história é difícil, se não mesmo impossível.
Pouco
importa, se a narrativa for boa… e contribuir para fazer crescer a
lenda.
É
o caso deste primeiro tomo de Wild
West,
dedicado a um dos poucos heróis de saias do Oeste selvagem.
Evocada já nos quadradinhos, entre outras abordagens, com impagável humor por Goscinny e Morris em Lucky Luke ou de forma bem mais realista e trágica na abordagem de Perrissin e Blanchin - e vejam-se os pontos de contacto entre estas várias ‘biografias’ -, Calamity Jane (nome de guerra) ou Martha Jane Cannary (nome de baptismo) surge de novo em BD, nesta renovada abordagem, que narra os seu primeiros anos e os factos - trágicos - que fizeram dela a mulher decidida que a lenda cantou.
Órfã de pai e mãe, empregada de limpeza num bordel, mais tarde empurrada mesmo para a prostituição, apresenta-se perante os nossos olhos como alguém convencida da inevitabilidade de um destino de humilhação e sofrimento, enquanto representante do género feminino.
A entrada em liça de uma outra lenda - que será o tema do segundo volume desta série - o pistoleiro e jogador de póquer Wild Bill Hitchcock, fará com que repense as suas certeza e que perceba que uma arma na mão pode mudar o destino de qualquer um, até de uma simples mulher…
História visceralmente violenta e de contornos trágicos, em que as surpresas se sucedem, os protagonistas raramente são menos do que interesseiros e oportunistas e o que parece evidente aos olhos do leitor se revela enganoso poucas páginas à frente, este é (mais um!) belo western aos quadradinhos que, atraindo primeiro pela aura lendária da protagonista, se impõe depois pelas virtudes do relato em si e pela forma credível como narra… o que até podia ter acontecido!
O traço de Lamontagne, realista e convincente no retrato de época, revela-se uma escolha acertada também pelos esgares com que o desenhador dota os intervenientes em momentos-chave, reforçando o horror, a surpresa, a submissão ou o ódio de forma convincente.
E se Wild West é à partida uma proposta mais direccionada para os apreciadores de western, a sua temática deve atrair também os que gostam de História e de biografias, sendo que tem tudo para agradar igualmente a quem gosta de ler uma boa banda desenhada. Não é pouco.
Wild
West #1 - Calamity Jane
Thierry
Gloris (argumento)
Jacques
Lamontagne (desenho e cor)
Ala
dos Livros
Portugal,
Setembro de 2021
235
x 310 mm, 56 p., cor, capa dura
14,90
€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar neste link para ver outras pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Hoje foi este o meu livro do dia. Mais uma vez quero realçar a aposta das novas editoras (Arte de Autor e Ala dos Livros) em excelentes títulos. Não só por gostar muito do género western em BD (desde os tempos do Blueberry) mas também por estar muito bem concebido (argumento) e desenhado, adorei este livro. Espero que o segundo dedicado ao Wild Bill saia brevemente.
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