Em
anos recentes, tem sido visível o esforço por parte da Sergio
Bonelli Editore para diversificar a sua oferta em geral, e no que a
Tex diz respeito, em particular.
Neste
último caso, a par da introdução da cor em edições clássicas -
criadas para o preto e branco... - tem havido histórias coloridas,
formatos diferentes e - o que vos trago aqui hoje - o preenchimento
das muitas lacunas do passado do ranger, que Gianluigi Bonelli no seu
tempo apenas referir episodicamente e de forma passageira.
Aliás, pouco mais se sabe da juventude do (agora) ranger do que o facto de ter nascido como fora-da-lei - o que rapidamente foi justificado pelas mortes causadas como justiça pelo assassinato dos pais.
É exactamente neste ponto que Mauro Boselli, actual curador da personagem, nos apresenta o 'seu' jovem Tex neste díptico que A Seita acaba de completar em português.
Do Texas ao México e de volta, apenas pontualmente com a parceria do seu irmão (pacifista...) Sam Willer e dos rangers Jim Callahan e Dan Bannion, Tex vai perseguir os assassinos da sua família, aproveitando de passagem para destruir negócios ilegais de alguns dos seus parceiros de carácter duvidoso.
A primeira pergunta que se impõe é: era necessário? Tex precisava de um passado esquadrinhado ao pormenor? A resposta é sim e não. Sim, porque a Bonelli precisa de continuar a vender o seu produto mais comercial e esta é um forma de o conseguir, quer junto de novos leitores, quer apelando à nostalgia dos seus leitores tradicionais. E a resposta é não, porque o 'mito' Tex está suficientemente ancorado no imaginário de muitos, para necessitar destas extensões.
E é não, também, porque, para o bem e para o mal, esta história - como outras da mesma época - poderiam perfeitamente ser protagonizadas por uma personagem com outro nome, sem que houvesse necessidade de lhe alterar uma vírgula ou uma ruga. A temática é suficientemente universal e o protagonista suficientemente credível por si só, para ser necessária a muleta 'Tex'.
Embora seja evidente que é essa muleta que dá a este díptico (outras) pernas para andar, alavancando as suas vendas.
Embora - novamente - o 'jovem Tex' seja diferente (ainda) do 'Tex maduro': mais impulsivo, mais rápido no gatilho, mais sujeito a falhar também. Mas um 'antepassado' credível e consistente do ranger que (re)conhecemos - e no qual estas vicissitudes juvenis o transformaram. É também um Tex mais solto, menos sujeito a hierarquias (do corpo dos rangers) ou a responsabilidades (enquanto chefe dos navajos) e por isso com uma liberdade extra - que a falta de parceiros regulares também beneficia.
Porque, quanto ao mais, este é um western tradicional, baseado num dos seus estereótipos mais repetidos, o desejo de vingança de um jovem que perdeu os pais. Mas é bem narrado sem dúvida - o que faz toda a diferença - e tira todo o proveito do formato alternativo - franco-belga - nele (bem) explorado. Curiosamente, para os que esperam uma história mais curta, por ter apenas 48 páginas, será uma boa surpresa descobrir que, fruto da planificação mais cerrada - com até 5 tiras por prancha e com a inclusão de vinhetas dentro de vinhetas - a leitura 'renderá' bem mais do que o esperado - mais a mais quando comparada com as que são traçadas na grelha original Bonelli de 3 (tiras) x 2 (vinhetas).
Isto, sem que se perca a oportunidade de desfrutar da bela arte de Stefano Andreucci (no primeiro volume) e de Corrado Mastantuono (no segundo), autores que se revelam à vontade num género sempre difícil como o western, nos exteriores poeirentos como nas exíguas povoações ou no interior das suas casas, no desenho dos (traiçoeiros) cavalos como no retrato proporcionado e dinâmico da figura humana, fazendo jus à fama da Bonelli no que à qualidade dos seus desenhadores diz respeito.
Para além do já referido, Boselli explora bem algumas sequências mudas - como a que abre O Vingador - variando assim o ritmo narrativo e dando a sensação ao leitor de que é ele que pauta a leitura. Depois, há o expectável neste tipo de banda desenhada: cavalgadas, tiroteios, algumas surpresas e a vitória do herói sobre os vilões.
Pode soar a pouco para alguns, mas cumpre integralmente - e com mérito - os seus propósitos.
Tex,
o Vingador
Mauro
Boselli (argumento)
Stefano
Andreucci (desenho)
Tex:
Justiça em Corpus Christi
Mauro
Boselli (argumento)
Corrado
Mastantuono (desenho)
A
Seita
Portugal,
Fevereiro de 2022
215
x 285 mm, 56 p., cor, capa dura
14,00
€
(imagens disponibilizadas por A Seita; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Para quando o TEX do SERPIERI ?
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