Esperança ainda?
“Então, não há alternativa, senão matar?”
Spirou in “A esperança nunca morre… - terceira parte”
Não encontro outra forma de o dizer: A esperança nunca morre…, o soberbo Spirou de Émile Bravo, é uma sucessão de murros no estômago. Duros, violentos, impiedosos, aplicados da forma e no sítio que mais magoam.
Esta terceira parte - e que venha depressa o quarto e último volume - porque apesar de tudo a esperança nunca morre… - ou é sempre a última a morrer...? - acentua ainda mais as sensações de incómodo, de desespero, de proximidade do abismo, que são provocadas pela dicotomia entre a bestialidade da guerra e dos seus efeitos colaterais e o tom ligeiro e mesmo humorístico que genericamente está presente nas aventuras de Spirou e Fantásio (em especial por causa deste último).
E, mesmo conhecendo o desfecho, porque o fundo histórico da II Guerra Mundial e da ocupação nazi da Bélgica em que se desenrola o relato chegou a um termo e - custa escrever - acabou bem…, é incontornável o modo como Bravo dotou este longo relato em quatro livros - mais um, Diário de um ingénuo - de um tom a um tempo tão adulto, realista e cru e de tantas inflexões que surpreendem, desanimam e corroem.
Por isso, se houvesse um sub-título em cada tomo, o deste seria algo do género ‘Não há alternativa senão matar’. Ou ser morto, porque a guerra é assim - e são diversos - sempre demasiados - os cadáveres que se vão sucedendo ao longo das páginas.
A leitura é intensa, avassaladora, penosa pelo hiper-realismo do que vai sucedendo perante os nossos olhos, pela essência inevitável do que aconteceu na História e acontece no papel em contraste com a luta inglória que Spirou trava, tentando remar contra a maré, tentando manter-se ‘puro’ e ‘correcto’ como os verdadeiros heróis de BD clássicos eram - como ele era… - mas com os acontecimentos a ultrapassá-lo e a condicioná-lo.
Nota final
Se há prémios justos - e não há, há sempre contestação possível - o Prémio para Melhor Obra Estrangeira Editada em Portugal que o Amadora BD acaba de conceder a Diário de um Ingénuo - porque o entendo como um prémio para o conjunto… - é um deles.
E não sei escrevê-lo de outra forma: não deixem de ler A esperança nunca morre... É uma daquelas obras incontornáveis, que fazem da BD uma arte narrativa maior e única.
Spirou:
A esperança nunca morre… - Terceira parte
Émile
Bravo
ASA
Portugal,
Outubro de 2023
240
x 320 mm, 116 p., cor, capa dura
19,90 €
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)
Esta coleção é daquelas que comprarei os 4 qd estiverem todos lançados e lerei de uma vez só!
ResponderEliminarSugiro que não espere para comprar todos, os primeiros volumes arriscam-se a ficar esgotados.
EliminarEsperar que uma série fique completa, tem sempre dois riscos:
Eliminar- os volumes inicias não venderem o suficiente para que a editora leva a colecção até ao final;
- os volumes iniciais esgotarem, como o Superbeasto referiu.
Eu sei que durante anos foi norma na edição em Portugal as séries ficarem pelo caminho, mas nos últimos anos as coisas mudaram e penso que as editoras merecem crédito e confiança.
Boas leituras!
esta série para alem de ter um argumento que fixa o leitor á historia, fazendo-o desejar o próximo volume, apresenta uma construção gráfica semelhante ás bandas desenhadas dos anos 70 permitindo seguir a narrativa de perto e bastante pormenorizada.
ResponderEliminarPor acaso alguém tem conhecimento se o novo album de BLAKE & MORTIMER irá ser editado em Portugal? Obrigado
ResponderEliminarA ASA tem editado todos os álbuns de Blake e Mortimer, geralmente em simultâneo com a edição original, por isso é muito provável que também publique o próximo.
EliminarBoas leituras!
Tá anunciado na Fnac para o mês que vêm!
ResponderEliminarObrigado pela informação.
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