Final em beleza… quase
Com
O
Regresso do Capitão Nemo fecha
a sétima série da colecção Novela Gráfica,
possivelmente aquela em que as propostas foram menos consensuais e
mais desafiadoras - afinal um dos principais propósitos da Levoir ao
criá-la.
E
fecha em beleza, com o mais recente livro de um dos mais fabulosos
livros que a banda desenhada já nos proporcionou, o d’As Cidades Obscuras,
editado em simultâneo com a edição original francófona.
Digo-o no sub-título - justifico-o agora - que termina quase em beleza, porque, sem fundamentalismos, este não é um livro de banda desenhada, como os autores desde o princípio assumiram (e como já não o era, nesta colecção, o Estampas 1936). A sua inclusão numa colecção de BD, a par do uso e abuso que noutros quadrantes se tem feito da designação ‘novela gráfica’, acaba por contribuir para a confusão e para o esvaziamento de uma terminologia que fazia bastante sentido e devia servir para distinguir.
Entendo que alguns possam afirmar que o importante é que o livro esteja publicado cá - e é um crime não o aproveitar ao preço que a Levoir o propõe agora em banca - mas há efeitos que a longo prazo se revelam nefastos e que eram desnecessários.
Mas passemos a este O Regresso do Capitão Nemo, evocação de uma das personagens míticas da literatura de aventuras e mais do que isso, uma justa homenagem a uma das personalidades que serviram de inspiração para Schuiten e Peeters desenvolverem os mundos das Cidades Obscuras, o escritor francês Jules Verne.
Centrada em Nemo e numa curiosa evolução do seu Nautilus, transformado numa futurista combinação do veículo tecnológico com um cefalópode gigante, vamos com ele percorrer locais naturais ou de criação humana, até uma curiosa e desafiadora aproximação da criatura ao criador, momento último de uma homenagem em que, inevitavelmente, se destacam as belíssimas ilustrações de Schuiten, rigorosas, tecnicamente perfeitas, visualmente deslumbrantes e que obrigam a demorar o olhar, encher os sentidos e deixarmo-nos mergulhar no muito que evocam, mostram e antecipam, deslumbrando-nos de um modo que as palavras não conseguem descrever.
E se bem que O Regresso do Capitão Nemo possa saber a pouco e deixe até a sensação que a partir das suas imagens ficaram histórias por explorar - ou que nós esperávamos dada a riqueza do universo em que foi inserido e a inovação gráfica e temáticas que os títulos anteriores sempre afirmaram - a verdade é que a dicotomia documentário/ficção que este volume ostenta faz jus ao talento de que os autores sempre deram - e afinal continuam a dar - provas.
Nota final sobre a edição
Se noutras alturas houve que apontar o dedo à Levoir por escolhas menos conseguidas em termos de papel e impressão, desta vez - com o dedo de Schuiten e Peeters também, possivelmente - só há que dar parabéns à editora porque em termos gráficos e de acabamentos O Regresso do Capitão Nemo não tem nada a apontar - mesmo que possa ficar aquém da sumptuosidade que facilmente adivinho na edição original, mas que seria incomportável para a sua inclusão num lançamento de bancas e quiosques.
Uma palavra final para o conseguido prefácio de Hugo Pinto, que destaca o tom maravilhoso, exaltante e mágico do universo das Cidades Obscuras, pese embora o facto de transpor a ténue linha de fronteira que este tipo de exercício enfrenta e desvendar demasiado da história...
O
Regresso do Capitão Nemo
Colecção
Novela Gráfica VII / 2023 #10
Benoït
Peeters (argumento)
François
Schuiten (desenho)
Prefácio
de Hugo
Pinto
Levoir/Público
Portugal,
2
de Novembro
de 2023
230
x 310
mm, 96
p., pb/cor,
capa dura
13,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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