Ser ou não ser Corto...
E ser ou não ser Corto Maltese, é a questão que me levanta esta segunda visita de Bastien Vivès e Martin Quenehen ao herói criado por Hugo Pratt.
E, terminada a leitura, contrariando a opinião que Oceano negro me deixara, a resposta que me surge é que, na realidade o Corto de Vivés não é o verdadeiro, o de Pratt, pois (para lá do óbvio) falta-lhe algo, o idealismo, o romantismo e aquela aura quase mágica que o autor italiano de nascimento, veneziano de coração, apôs à sua obra.
O Corto de Vivés é mais terra à terra, mais agarrado a valores terrenos, sem dúvida próprios do tempo - que é hoje - em ele que vive.
Não sei - não podemos saber - como é que Pratt teria imaginado o seu Corto Maltese nos nossos dias, em que o mundo tem poucos segredos, a comunicação - ou a falta gritante dela... - é global e o tempo para parar, reflectir, sonhar acordado é praticamente inexistente.
Mas sei - isso sabemos - como ele lhe deu vida - e que vida! - e ideais - e que ideais! - quando o criou e colocou na sua época, baseado na sua experiência pessoal e na sua fértil e inesgotável imaginação. E possivelmente é isso que falta a Vivés e Quenchen: a transposição para o papel do que viveram. Que, inevitavelmente (ou quase) não tiveram oportunidade de viver nos dias que correm...
Isto não invalida que Vivés seja um excelente narrador gráfico, que utilize com mestria o seu traço estilizado e diluído para arrastar o leitor por pranchas que transpiram movimento, umas vezes a passo, outras quase parando, contemplativo, noutras ainda em corrida acelerada, de enfiada, com a adrenalina em alta, acompanhando o protagonista - e as suas amigas... - em deambulações por uma Europa, hoje, ainda, e possivelmente sempre, dividida por religiões, tradições e querelas passadas que deixaram marcas profundas e feridas constantemente reabertas, entre tráficos, experiências, encontros e desencontros.
Voltando ao início, à questão que levantei, se não nego que esta é uma boa banda desenhada para se ler - num livro com uma belíssima capa - quanto a ser uma boa transposição do espírito e da essência do marinheiro errante que Pratt nos legou, a minha resposta tem de ser não.
Corto
Maltese - A Rainha da Babilónia
Martin
Quenehen (argumento)
Bastien
Vivés (desenho)
Arte
de Autor
Portugal,
Julho de 2024
210
x 285 mm, 96 p., cor, capa dura
24,50
€
(imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Outro título, outro pastiche, a família do Pratt está esganada de dinheiro, se calhar.
ResponderEliminarPara quê usar o nome do Corto? porque não criar um novo personagem com outro nome "inspirado" no original? eu sei, money!
Gosto de alguns trabalhos da parelha Canales/Pellejero mas isto é inenarrável, o fim da picada, como diriam os zucas!
Comprei o primeiro e vendi-o rápidamente por metade do preço. Não matem o Corto Maltese. Aceitei relativamente bem os três álbuns do Juan Diaz Canales e do Ruben Pellejero. Um deles até parecia Hugo Pratt agora estes em formato manga nem pensar. Acho mesmo que este "novo" Corto é uma antítese do Corto Maltese.
ResponderEliminarComprei o primeiro e vendi-o rápidamente por metade do preço. Não matem o Corto Maltese. Aceitei relativamente bem os três álbuns do Juan Diaz Canales e do Ruben Pellejero. Um deles até parecia Hugo Pratt agora estes em formato manga nem pensar. Acho mesmo que este "novo" Corto é uma antítese do Corto Maltese.
ResponderEliminarPaulo Buchinho