Direito às diferenças
Num
tempo em que a informação (e/ou
a desinformação)
está(ão)
facilmente ao alcance de todos, saber geri-la e interpretá-la é
fundamental.
Surgiu-me
esta reflexão a propósito de Pocahontas,
uma obra cuja acção tem lugar no início do século XVII.
Exactamente porque, apesar da informação estar 'facilmente ao alcance de todos', escrevi acima, e nós - eu e tu, caro leitor destas linhas, fazermos parte daquele 'nós' - da referida Pocahontas possivelmente só sabíamos o que a Disney nos contou no seu filme. Delicodoce e para uma determinada franja de público - o que não tem nada de errado, mas não deve bastar para satisfazer a (nossa) sede de conhecimento.
Façamos então um ponto de situação: a acção decorre no Novo Mundo - era assim que se chamava à América do Norte no tal século XVII - tem por sede Jamestown, uma feitoria britânica naquele território - que originou uma interessante série televisiva - e decorre durante o período de colonização do território pelos súbditos de Sua Majestade, a Rainha de Inglaterra - a par do que faziam os franceses e, mais adiantados, os portugueses e os espanhóis.
A Pocahontas que dá título a este relato, era uma princesa índia da tribo dos Powhatans - longe portanto de comanches, sioux e apaches que o cinema e a BD popularizaram - o povo que na altura habitava - há séculos - o território cobiçado pelo invasor branco pela possibilidade de nele existir (o) ouro (que sempre fez andar o mundo).
Entre os ocupantes, chegados convencidos do seu direito divino de explorar terras e gentes, havia um tal Smith, John Smith, capitão de patente, diferente dos outros. Um daqueles que gostava de pensar pela sua cabeça - e pesquisar a qualidade da informação, se vivesse nos nossos dias.
Aguardando a chegada ao território para ser executada a condenação à forca que sobre ele pendia, acaba por ser poupado devido à necessidade de braços para implantação no local.
Os contactos com os autóctones, acabará por levar Smith a encontrar Pocahontas e o amor que nasce entre ambos - ou talvez, mais do que isso, a curiosidade pelo ser diferente a par da aceitação dessas mesmas diferenças - acabará por ser motivo de discórdia entre os povos - pretexto, só, para ser mais exacto, porque a discórdia existiria sempre entre quem quer dominar e quem não quer ser dominado...
Sem o tom delicodoce da Disney - mas com quanto de verdade na ficção que Patrick Prugne nos propõe? - não custa acreditar que este Pocahontas estará bem mais próximo da realidade histórica, pese o carácter inclusivo e tolerante demasiado próximo dos nossos tempos que é aposto ao capitão Smith.
Mas, num relato dramático sobre um grande amor e/ou sobre a diferença e o direito a ela - e de uma forma bem mais lata do que poderá parecer à primeira vista - para além dessa abordagem 'mais' histórica, há também o belíssimo trabalho gráfico com que Prugne o vestiu, em cores directas obtidas de cuidadas aguarelas de tons suaves, que convidam tanto à contemplação quanto à reflexão, superiormente reproduzidas numa magnífica edição de grande formato e bons acabamentos e um suculento caderno de extras, como é hábito da Ala dos Livros.
Pocahontas
Patrick
Prugne
Ala
dos Livros
Portugal,
Junho
de 2024
245
x 330
mm, 96
p., cor, capa dura
28,90
€
(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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