A grande aventura por destinos exóticos
Actualmente,
uma das características mais interessantes da publicação de banda
desenhada em Portugal é a proximidade entre as edições portuguesas
e as edições originais, quando não a sua simultaneidade.
No
caso de Tango,
o oitavo volume, O
Tesouro do Mar de Sulu,
conclusão do díptico iniciado com A
Flecha
de Magalhães,
acaba de chegar às livrarias com um pequeno hiato de três meses em
relação à edição francesa,
o que significa que a Gradiva conseguiu 'apanhar' a série original
em num período de apenas
quatro
anos.
Com assinatura de Matz e Xavier, o que garante competência e desafio, surge na linha das grandes bandas desenhadas de aventura franco-belgas; Bernard Prince é uma das referências que vem de imediato à memória, até pelo pequeno iate que os protagonistas de ambas as séries tripulam e à navegação por locais exóticos, onde a aventura acaba sempre por surgir.
Desta vez, o mote é o atraso involuntário na recepção de um barco, o que levará o protagonista e o seu companheiro de andanças, Mário, a investigarem a lenda que afirma que o capacete de Fernão de Magalhães e a seta que o matou nas praias das Filipinas estariam algures no fundo do mar.
Para além do valor histórico de tais artefactos, as crenças dos indígenas afirmam os seus poderes mágicos, sendo vários aqueles que se revelam interessados nos trâmites efectuados por John Tango.
Antigo operacional de uma agência norte-americana, desiludido com a sociedade, apreciador da solidão, dos grandes espaços e de belas mulheres, de uma certa forma podemos encontrar em Tango também referências a Corto Maltese, numa transposição para os nossos tempos - embora o marinheiro errante seja imortal e, portanto de todos os tempos - igualmente com algo de romântico e idealista, mas sem a aura mágica que Pratt, como ninguém, foi capaz de imprimir ao seu alter-ego.
Numa narrativa ficcional com uma base histórica sedutora, sem fechar a porta a surpresas, bem ritmada, sem tempos mortos e com uma galeria curta, o que permite uma exploração mais profunda da cada interveniente e das suas motivações díspares, o traço realista de Xavier proporciona belos momentos visuais, com pranchas ou vinhetas transformadas em autênticos postais ilustrados.
Como cereja no topo do bolo, ao contrário das séries clássicas, para Tango e Mário, o final nem sempre é feliz ou, pelo menos, não cumpre integralmente o que assumiríamos como tal.
Tango
#8 - O Tesouro do Mar de Sulu
Matz
(argumento)
Xavier
(desenho)
Gradiva
Portugal,
Agosto de 2024
233
x 313 mm, 64
p., cor,
capa dura
20,99
€
(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias a 6 de Setembro de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; capa disponibilizada pela Gradiva, pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Lombard; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Esta série é muito boa!
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