09/06/2025

A Floresta

Correr o risco





Uma bela leitura mas com um enorme ponto de interrogação a pairar sobre ela, em particular, e sobre a colecção 25 Imagens, em geral.
Já lá vamos.

E começo pela colecção 25 Imagens, a nova, da Levoir com o Público, num ano em que a Novela Gráfica não existirá enquanto colecção na forma como nos habituámos a vê-la, embora sejam já vários os volumes lançados - e possivelmente ainda a lançar - durante o ano pela Levoir.

A alternativa - e inovar é sempre preciso - foi esta colecção 25 Imagens, 'pedida emprestada' a Les Éditions Martin de Halleux.

O seu princípio é fácil de explicar: baseada em 25 Images de la passion d'un homme, criada por Frank Masereel em 1918 e que alguns consideram o primeiro romance moderno sem palavras, obedece a especificações muito rígidas: a preto e branco, com ilustração de página inteira, deverá contar a sua história em 25 imagens.

Numa colecção em que estão Jacques Tardi, Joe Pinelli e um inédito do português Vasco Colombo, as hostilidades abrem com A Floresta, do suíço Thomas Ott, de quem já pudemos ler O Número 73304-23-4153-6-96-8, exactamente na quinta série da Novela Gráfica.

Mas já lá vamos.

Porque, convenhamos, esta colecção é um enorme risco para a Levoir, pois vende ao preço de um álbum 'normal' (13,90€) um livro com 'apenas' 32 páginas, a preto e branco. Mesmo apreciando o desafio e acreditando que a colecção poderá chegar a leitores que normalmente não lêem BD, num tempo de fazer contas, vejo muitos a passar ao lado dada a proporção euros por página - embora defenda que a BD não deve ser medida ao metro nem ao quilo...

Por isso, entremos então - finalmente! - em A Floresta, uma bela e sensível proposta de Thomas Ott que merece toda a atenção.

Entediado num velório a decorrer em casa, um adolescente decide sair e embrenhar-se na floresta próxima. Não vou contar mais - facilmente esgotaria o relato - mas quero só dizer que, para além de um magnífico traço realista, Ott apresenta uma história humana, tocante e delicada que me fez lembrar outra leitura recente: El dia más largo, com a mesma temática e abordagem cuidada, embora em moldes gráficos e narrativos completamente díspares.

São só 32 páginas (de livro) e 25 (de relato)? Sim, é objectivo. Mas quando lemos, a subjectividade e a capacidade de absorção de cada um permite extrapolar os limites físicos... da página, do número de páginas. E entrar na cabeça e no coração dos protagonistas. E pensar e sentir como eles.

Para mim, A Floresta valeu a pena.


A Floresta
Colecção 25 Imagens #1
Thomas Ott
Levoir/Público
Portugal, 6 de Junho de 2025
190 x 265 mm, 32 p., pb, capa dura
13,90 €

(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

3 comentários:

  1. A ideia desta coleção é boa. Mas, de facto, o valor proposto para estes livros está desajustado do que eles oferecem. Sou desses que, perante isto, decidi passar.

    Quanto às "Novelas gráficas" existirem ou não enquanto coleção regular, acho que a evolução dos anos da Levoir deixa claro que essa ideia de curadoria de grupos de obras gráficas de relevância com que começaram deixou de ser uma real missão. O selo "Novela gráfica" parece que serve para tudo e para nada ao mesmo tempo a nível estético, e sempre achei que as obras nada ganham ao serem publicadas sob esse formato, antes pelo contrário, acho sempre feio e sem motivo aquele preto e branco e o tipo de letra que colocam nas capas e lombadas. É bom haver um catálogo diverso, mas dá para fazer isso sem um espartilho tão marcado.

    Ficam algumas séries iniciadas e não continuadas, e agora parece que não são capazes de fazer os livros sem esse "carimbo" por cima, duma maneira normal como toda a gente em todo o lado faz. A questão parece mesmo ser de ordem comercial, e nesse aspeto a Levoir é um caso de estudo.

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  2. Anónimo9/6/25 22:08

    Concordo com o Ricardo.
    A proposta da coleção parece interessante, mas o preço é de facto desajustado face ao número de páginas.
    Se o preço fosse 9,90€, que me parece seria o mais justo, eu estaria interessado.

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  3. Sou da mesma opinião.. €13,90 por uma publicação de 32 páginas, a 1 só cor (mesmo que que tenha capa dura) parece-me “salgado”. E, sim, concordo que o modelo de distribuição em banca da Levoir por causa das suas limitações e compromissos em nada beneficia a qualidade de edição (antes pelo contrário).

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