12/06/2025

Clássicos da Literatura Portuguesa #13 - Frei Luís de Sousa

Heresia...?





Lido há semanas, tenho o texto pendurado desde então. Sabia o que escrever, mas hesitei tanto porque sei que vai soar quase - quase? - a heresia. E temo que, nestes tempos que correm, não falte muito para começarem a acender fogueiras...

Mas, na verdade, também vai - tão só... - corroborar algo que já tenho escrito aqui várias vezes: que mais importante que a história, é a forma como ela é contada.

Desconheço o original de Frei Luís de Sousa - que recordo ter tentando ler há muitos anos e é, logicamente falha minha - mas acredito que Almeida Garrett o tenha dotado de uma escrita inspirada, capaz de fazer viver no papel as suas personagens e de dar consistência e profundidade à situação central que o romance explora.

Percebo, naturalmente, que é um retrato de uma época específica, de uma forma de pensar diferente, que hoje em dia temos dificuldade em compreender e que, independentemente disso, retrata um modo de viver que hoje está ultrapassado - para o bem e para o mal. Concedo que a situação, com outras roupagens e alguns ajustes se poderia repetir nos nossos dias - mas não consegui ser seduzido por um relato que se resume facilmente em duas linhas e às quais é de todo desnecessário qualquer acrescento.

Não vou fazer aqui esse resumo, porque tiraria a possibilidade de descoberta dos que ainda irão ler esta obra - na versão original ou na BD.


Feito este - já longo - preâmbulo, quero deixar claro que a culpa desta minha desilusão com Frei Luís de Sousa não deve ser assacada aos autores da versão em banda desenhada. Mais a mais com as limitações - as características... - da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, nomeadamente (apen)as 48 páginas desenhadas e a necessária fidelidade ao original, para que seja aceitável pelo PNL - e lembro que (o mesmo) André Morgado, já teve nesta colecção algumas saudáveis 'trangressões', na Farsa de Inês Pereira ou na Carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil. Mas quando o original não dá para mais...

Por isso, com a limitação do argumento original, Morgado não conseguiu mais do que contar de forma linear e escorreita a história que tinha, tornando-a legível e coerente no novo suporte, mas com as limitações de desenvolvimento - e a tal facilidade de resumo em duas linhas. Para mais, no meu caso, a questão fundamental tornou-se evidente quase de imediato quando o protagonista que dá nome à obra surgiu, pelo que algum suspense que poderia ter sido criado se esvaziou.


Captar um autor como Gustavo Borges é sem dúvida um dos grandes méritos desta iniciativa da Levoir com a RTP, dado o seu 'estatuto' e a sua bibliografia variada, em que se encontra o belíssimo Pétalas e uma Graphic MSP, Cebolinha: Recuperação, para além de diversos trabalhos para o mercado norte-americano.

E Borges não desilude, adaptando o seu traço característico à época que retrata e utilizando uma paleta de cores mais escuras e sombrias para transmitir o necessário ambiente ao relato.


Clássicos da Literatura Portuguesa #13 - Frei Luís de Sousa
André Morgado (argumento), segundo Almeida Garrett
Gustavo Borges (desenho e cores)
Levoir/RTP
Portugal, Março de 2025
210 x 285 mm, 56 p., cor, capa dura
15,90 €

(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui apresentadas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nesta ligação para ler uma entrevista com o argumentista; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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