19/02/2012

As Figuras do Pedro (XV)

Voitures & Véhicules Fantastiques Blake et Mortimer
10. L’Astronef Amiral de L’Énigme de l’Atlantide



Figura: Nave Almirante de O Enigma da Atlântida
Colecção: Voitures & Véhicules Fantastiques Blake et Mortimer
Fabricante/Distribuidor : Hachette Collections (França)
Ano : 2011
Altura : 20 cm
Material: PVC
Preço original: 14,99 €
Extras: Fascículo A4, com 20 páginas + capas a cores, com diversas abordagens à obra de Jacobs, à figura, à série e às suas principais personagens.




18/02/2012

Leituras de banca

Fevereiro 2012
Revistas periódicas de banda desenhada este mês disponíveis nas bancas portuguesas.

Mythos
Mágico Vento 110
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga 81

Os Grandes Clássicos de Tex #30
Tex 476
Tex Colecção 268
Tex Edição em Cores #9
Zagor #124
Zagor Extra 89





Turma da Mónica (Panini Comics)
Almanaque da Magali #28
Almanaque do Bidu e do Mingau #3
Almanaque do Chico Bento #28
Almanaque do Horácio e Piteco #3
Almanaque do Papa Capim e Turma da Mata #3
Almanaque da Tina #10
Cascão #56
Cebolinha #56
Chico Bento #56
Magali #56
Mônica #56
Mónica y su Pandilla - Turma da Mónica em Espanhol #5
Monica’s Gang - Turma da Mónica em Inglês #5
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #56
Tiras Clássicas da Turma da Mônica #7
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #27 – Lanterninha Verde
Turma da Mónica – Saiba mais #45 – China
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #56
Turma da Mônica Jovem #38



DC Comics (Panini Comics)
Batman #104
Liga da Justiça #103
Superman #104
Universo DC #13





Marvel (Panini Comics)
Homem-Aranha #114
Os Novos Vingadores #89
Wolverine #78
Universo Marvel #12
X-Men #114




Manga (Panini Comics)
Vampire Knight #7


17/02/2012

Níquel Náusea










Um tigre, dois tigres, três tigres
A vaca foi pró brejo atrás do carro na frente dos bois
Fernando Gonsales
Devir (Brasil, Novembro de 2009 /Agosto de 2010)
210 x 280 mm, 48 p., cor, cartonado
R$ 24,00, 12,99 € / R$ 26,00, 12,99 €



Resumo
Mais duas colectâneas com as tiras do rato Níquel Náusea e os seus amigos: a rata Gatinha. O rato Ruter, o Sábio do Buraco, a barata Fliti e muitos outros animais… como nós!

Desenvolvimento
Criado em 1985, o rato Níquel Náusea, evocação de sarjeta de um certo astro Disney com nome foneticamente parecido, é já uma verdadeira instituição nos quadradinhos brasileiros, o que de forma alguma diminui o interesse ou o humor desta criação do também veterinário – pelas tiras apostaria mais em médico… - Fernando Gonsales.
Porque, se aparentemente em Níquel Náusea há uma viagem profunda ao maravilhoso mundo animal, um olhar atento - que não precisa de ser de lince – revela nele bem mais sobre o (nada) maravilhoso mundo humano.
Passo a explicar: se os protagonistas destas tiras de jornal são ratos, pulgas, crocodilos, cães, borboletas e outros animais – embora a par de seres humanos e de mitos e referências culturais como personagens de BD e de contos infantis ou o Pai Natal - as suas acções e atitudes traduzem sentimentos e comportamentos (poucas vezes nobres…) bem mais próprios dos humanos, embora distorcidos e deformados pelo nonsense e o olhar mordaz que Gonsales emprega em cada situação, obrigando-nos, assim, a sorrirmos ou rirmos mesmo abertamente – também de nós próprios - com os poucos quadradinhos com que compõe cada um destes gags, de desenho simples, mas vivo, expressivo e muito eficaz.
Por isso, não se surpreendam quando encontrarem em Níquel Náusea elefantes vítimas de bullying, borboletas com patrocínio nas asas, caracóis que tocam às campainhas e fogem, papagaios falantes estrelas do cinema mudo, peixes que vivem em lagos que são miragens no deserto, reflexões sobre a reprodução de micro crustáceos como estimulante sexual, avozinhas toureiras – é incrível como as consequências da senilidade (fraca audição, visão, locomoção…) podem originar tantas piadas, saudáveis (!) e politicamente incorrectas – os inconvenientes de levar um bode para a cama do casal, provas da existência do Pai Natal, Batman à volta com as seguradoras ou novas (e inventivas) versões da corrida entre a lebre e a tartaruga e da história do Capuchinho Vermelho, de histórias de vampiros e de extraterrestres ou de situações tão banais como uma galinha pôr um ovo ou (não) atravessar para o outro lado da estrada…

A reter
- O humor corrosivo e certeiro de Fernando Gonsales, que em cada tira surpreende e desconcerta e revela o(s) animal(is) que há dentro de cada um de nós.
- A boa concepção gráfica dos livros, que permite incluir 5 tiras por prancha – são mais de 200 por álbum! – sem que exista uma mancha branca demasiado grande.
- Em textos recentes sobre álbuns de autores brasileiros, terminei-os sempre lamentando a sua ausência das livrarias nacionais. No caso destas (e de outras) colectâneas de Níquel Náusea, isso não acontecerá, pois elas estão disponíveis em Portugal, distribuídas pela Devir.
Editora a quem lanço o desafio para que também faça chegar aos leitores portugueses outros álbuns de autores brasileiros pertencentes ao seu catálogo, como Curtas e Escabrosas, Folheteen, Frauzio – Ares da Primavera, Histórias do Clube da Esquina, Mondo Urbano, Pequenos Heróis, Yeshuah…



16/02/2012

John Severin (1921-2012)









Segundo informação da família, o desenhador norte-americano John Severin faleceu no passado dia 12, aos 90 anos, de causa natural.
Nascido a 26 de Dezembro de 1921, vendeu os seus primeiros desenhos aos 10 anos, iniciando uma carreira que durou mais de seis décadas e que acompanhou muitos dos grandes momentos da história da banda desenhada nos Estados Unidos, o que lhe valeu ter sido distinguido com diversos troféus, entre os quais o Will Einer Award Hall of Fame, em 2003.
Entre os mais marcantes, estão ter sido um dos fundadores da revista satírica MAD, em 1952, com Harvey Kurtzman e Will Elder, e ter desenhado Hulk e Namor, para a Marvel Comics, e Conan e B.P.R.D., para a Dark Horse.
Formado na High Schoolof Music and Art of New York e tendo servido o exército dos EUA nas batalhas do Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial, Severin desenhou também histórias de terror para a EC Comics – era um dos últimos grandes nomes da editora ainda vivos - antes da censura voltar a sua atenção para os quadradinhos nos EUA, tendo depois aplicado o seu desenho realista em westerns e relatos de humor e de guerra, destacando-se neste último género a série The Nam, nos anos 80, sobre a participação norte-americana na guerra do Vietname.


15/02/2012

Principe Valiente – La Reina y el Escudero








1949-1950
Harold R. Foster (argumento e desenho)
Manuel Caldas e Pedro Caldas (restauro)
Rafael Marin (tradução e posfácio)
La Imprenta (Uruguai, Setembro de 2011)
260 x 340 mm, 112 p., pb, brochado
680 pesos uruguaios / 25,00 €





1.       Acredito que pertenço à mais afortunada geração de leitores de histórias aos quadradinhos de sempre.
2.       É verdade que alguns poderão afirmar que preferiam ter vivido no início dó século passado para assistirem in loco aos primeiros passos da BD norte-americana nos jornais, nos anos 1930/1940 como contemporâneos da sua idade de ouro, ter acompanhado a explosão dos super-heróis ou o movimento undeground na década de 1960, ou, do outro lado do oceano, ter vivenciado o nascimento de Tintin, o boom da BD europeia pós-Segunda Guerra Mundial, a sua libertação temática pós-Maio de 1968…
3.       Mas a verdade é que – se todos estes e outros períodos foram estimulantes – nos dias de hoje, como nunca, conseguimos compreender a importância de cada um deles….
4.       ... e temos acesso a muitos dos grandes momentos dos quadradinhos das épocas citadas, em edições cuidadas e comentadas que são uma autêntica perdição para quem lê histórias aos quadradinhos.
5.       Para além disso - como todos os contemporâneos daquelas épocas – podemos acompanhar o muito e bom que é criado nos nossos dias.
6.       Dirão alguns que, daqui para a frente isso acontecerá sempre, mas permitam-me duvidar.
7.       Não só pelos avanços tecnológicos que poderão conduzir a BD para outros caminhos e outros suportes, pondo fim – a curto? médio? prazo - às edições em papel, pesadas na mão, em que se sente o cheiro da tinta, a textura do papel, que eu tanto prezo…
8.       … mas também pela questão geracional, pois hoje em dia reedita-se – em boa parte acredito eu – para aqueles que em crianças e jovens leram os quadradinhos hoje clássicos e que conheceram esses períodos tão estimulantes…
9.       … e não me parece que próximas gerações venham a ter esses mesmos interesses.
10.   Dito isto, em jeito de introdução (bem longa), permitam-me passar ao livro que hoje destaco, no terceiro e último dos três textos que As Leituras do Pedro dedicam aos 75 anos do Príncipe Valente.
11.   La Reina y el Escudero, é mais uma dessas reedições (quase) perfeitas de um clássico incontornável da BD, ou não fosse o seu responsável Manuel Caldas, cujo trabalho nunca é de mais salientar.
12.   Suspensa a edição portuguesa pelas (tristes razões) já conhecidas, perdidos os direitos para Espanha por força da força de uma editora “grande”, esta edição para o Uruguai (!) surge como bem-vindo oásis para os que admiram o trabalho de restauro, minucioso e perfeccionista que Caldas desenvolveu na (re)descoberta do traço original a preto e branco de Foster.
13.   Para não repetir o que já escrevi várias vezes sobre a obra, o autor e o trabalho de Caldas, referirei a variedade temática das várias histórias incluídas neste tomo,
14.   que “abarca o período das últimas pranchas publicadas em "O Mosquito" e das primeiras saídas no "Mundo de Aventuras", incluindo as pranchas que na época não se publicaram enquanto uma revista não retomou a série abandonada pela outra”, esclarece Manuel Caldas,
15.   o alto nível gráfico e narrativo que Foster mais uma vez demonstra,
16.   com especial destaque para o seu elevado sentido de humor e a cada vez maior humanização dos participantes.
17.   E também a harmonia com que a narrativa aventurosa combina com a temática familiar, a intriga palaciana e as questões sociais e políticas.
18.   E ainda, o protagonismo que ocupam nestas páginas a (rainha) Aleta e o (escudeiro) Arf, daí o sub-título do livro
19.   cujo desenho se mantém soberbo, preciso, expressivo e minucioso.
20.   Por isso, mesmo em tempos de crise, esta é sem dúvida uma daquelas obras incontornáveis, que pode – que deve! – ser encomendada. Aqui.



14/02/2012

Manuel Caldas

“Foster deveria ter posto fim ao Príncipe Valente”








De há uns anos a esta parte, falar do Príncipe Valente, implica falar de Manuel Caldas, português da Póvoa de Varzim e profundo conhecedor da obra de Foster, a quem dedicou a monografia Foster & Val.
Ao seu trabalho de artesão apaixonado deve-se a melhor edição a preto e branco alguma vez feita da obra de Foster, criada a partir das páginas dos jornais e das provas originais ainda existentes, o que implicou muitas horas de trabalho em cada prancha, eliminando a cor e restaurando o traço original, que o leitor actual redescobre em toda a sua limpidez e esplendor. Com seis volumes de grande formato publicados em Portugal e Espanha, com os primeiros 12 anos da saga (1937-1948), actualmente prepara para um editor do Uruguai o segundo dos três livros correspondentes a 1949-1954.
Por isso, o assinalar dos 75 anos do Príncipe Valente não ficaria completo sem uma conversa com ele.

As Leituras do Pedro - 75 anos depois, ainda se justifica ler o Príncipe Valente?
Manuel Caldas - “Prince Valiant” é o clássico dos clássicos da banda desenhada americana dos jornais. É obrigatório lê-lo. Se se entra na sua leitura por obrigação (a reverência que se deve ter para com os clássicos), logo se descobre o prazer.

ALP - Qual o seu melhor período? Porquê?
MC - Todo o período fosteriano (até 1971) é um monumento da BD. E entre o que Hal Foster fez, o melhor do melhor são os primeiros 7 anos. O melhor do melhor apenas, pois Foster foi sempre muito bom no que fez. Eu descobri a série aos meus 11 anos, precisamente nos últimos tempos do autor, e mesmo assim a paixão foi instantânea e avassaladora.

ALP - E qual a melhor prancha do Príncipe Valente?
MC - Certamente que por maioria de votos ganha a da batalha sobre a ponte de Dundorn (em cima), que toda a gente conhece e é assombrosa. Mas eu tenho uma preferência muito especial pela 681 (em baixo), que fala da grandeza do mar, da grandiosidade e da graciosidade dos seus habitantes, dos fenómenos da natureza, da família, da infância, do regresso à pátria e ao conforto do lar.

ALP - O que pensas do Príncipe Valente do John Cullen Murphy e do Gary Gianni?
MC - Nunca me preocupei com seguir o que fizeram e fazem os sucessores de Hal Foster, mas conheço uma grande parte. O suficiente para poder dizer que (pelo menos comparativamente – e a comparação é inevitável) o que fizeram, e vão fazendo, é mauzinho e cada vez pior. “Prince Valiant” nunca devia ter passado para as mãos deles. Nem de nenhum outro autor. Foster deveria ter-lhe posto um fim, como, de resto, chegara a planear anos antes.

ALP - Durante quantos anos “O Primeiro de Janeiro” publicou o Príncipe Valente?
MC - Desde 19 de Abril do ano em que nasci (1959) até 30 de Abril de 1995. Portanto, durante 36 anos.

ALP - Qual a tua opinião sobre essa edição?
MC - Nos anos 50, 60 e 70 um jornal português publicar BD a cores era um verdadeiro luxo. Hoje, claro, temos de reconhecer que era bastante mal impresso.

ALP - Quantas edições do Príncipe Valente tens?
MC - Tenho parte de muitas, de muitos países. A minha preocupação nunca foi ter colecções completas. Primeiro foi a demanda de todas as páginas realizadas por Hal Foster e depois foi a busca das melhores reproduções de cada uma delas. É que na mesma edição há sempre páginas bem reproduzidas (raramente muito bem) mas também (a maioria) páginas mal ou pessimamente impressas

ALP - Qual a melhor edição a cores do Príncipe Valente?
MC - Actualmente a que a Fantagraphics publica é bastante boa, mas deixa na boca um enorme amargo: podia facilmente ser quase perfeita, mas desperdiçou a oportunidade ao reproduzir deficientemente o fabuloso material de base que usa.

ALP - E a preto e branco?
MC - A preto e branco têm uma qualidade como antes nunca se alcançara os seis volumes com os primeiros 12 anos da série (1937-1948), publicados em Portugal entre 2005  e 2007 e em Espanha entre 2006 e 2008. A estes deve acrescentar-se um sétimo volume (1949-1950) publicado há poucos meses no Uruguai.

ALP - Tens algum feedback sobre essa edição uruguaia?
MC - Sim, pois estou sempre em contacto com o editor, Rafael Maria Carrocio, que me deu inteira liberdade para fazer a edição como eu entendesse. A qual, na prática, é a continuação da edição que comecei a fazer para Espanha.

ALP - Quando sai o próximo volume?
MC - O contrato assinado e pago diz que este ano têm de sair dois volumes. Infelizmente, às vezes não é humanamente possível cumprir os contratos…

ALP - Vai ficar só pelos três previstos?
MC - Não pode! Para publicar a preto e branco todo o Príncipe Valente fosteriano como Deus manda (e não com a má qualidade com que está a ser publicado em Portugal desde que eu não tenho interferência na edição) faltarão ainda 8 volumes, e mais 5 em tamanho menor, com o período de Foster e Murphy.

ALP - Existem muitos originais do Príncipe Valente do Foster?
MC - Nas mãos de coleccionadores existem bastantes, e na biblioteca americana à qual Foster deixou o seu espólio estão, se a memória do que li não me falha, umas três centenas.

ALP - Quanto podem valer?
MC - Não tanto como os do “Tintin”, mas, a um negociante do ramo, com um pouco de sorte, pode-se comprar um por pouco mais de 5 000 dólares. Nos últimos anos, o original mais caro vendido pela casa leiloeira Heritage ultrapassou os 33 000 dólares. Trata-se da página 1123.

ALP - Tens algum?
MC - Pode ser que venha a ter quando, na minha velhice, tiver liquidado ao banco o empréstimo da casa. Tentei há um ano e tal comprar uma vinheta (também se vendem vinhetas  soltas, pois Foster recortou muitos dos seus originais para oferecer partes deles aos admiradores), mas desisti quando ultrapassou os 150 dólares. Era uma vinheta com um sentido muito especial para mim: a única em que a palavra Portugal aparece, quando o barco em que viaja Valente faz escala no nosso país.


13/02/2012

Príncipe Valente nasceu há 75 anos


Príncipe Valente: a primeira prancha




A 13 de Fevereiro de 1937, um sábado, alguns jornais norte-americanos publicavam a cores a primeira prancha de uma das mais emblemáticas e fabulosas sagas que a banda desenhada viria a conhecer: “Prince Valiant in The Days of King Arthur”.

Ou seja, nascia aquele que em Portugal ficou conhecido como o Príncipe Valente pelos leitores do Mosquito (onde se estreou em 1948), do Mundo de Aventuras, do Jornal do Cuto e, principalmente, do jornal Primeiro de Janeiro, que o publicou semanalmente, a cores, durante 36 anos, entre 1959 e 1985.
Criada aos 44 anos por Harold Rudolph Foster (1892-1982), revelar-se-ia não só uma obra de maturidade, mas também a obra de toda a sua vida, pois a ela dedicou mais de 40 anos, durante os quais escreveu e/ou desenhou 2244 pranchas, as últimas cinco centenas já desenhadas por John Cullen Murphy (1919-2004). Após a morte de Foster os argumentos estiveram a cargo do filho de Murphy. Com a morte deste, em 2004, Mark Schultz (argumento) e Gary Gianni (desenho) assumiram esta BD, ainda em publicação nos nossos dias.
Curiosamente, Foster, que também foi desenhador de Tarzan, chegou a considerar os quadradinhos arte menor e a trocá-los pelo desenho publicitário, antes de voltar a eles por razões económicas.
A última prancha desenhada por Foster
As aventuras do Príncipe Valente (ou Val), cavaleiro da mítica Távola Redonda da Corte do Rei Artur, defensor de valores como a coragem, a amizade, a lealdade, a justiça, a honra e o cavalheirismo, constituem uma monumental saga, tão bem escrita como desenhada, em que se destaca o envelhecimento progressivo dos protagonistas: Val, que só aparece na terceira prancha da saga, começa como adolescente, torna-se depois um jovem fogoso, conhece a bela Aleta, rainha das Ilhas Brumosas, com quem casa e tem vários filhos - Arn, o primogénito, as gémeas Karen e Valeta, Galan e Nathan (este último já no consulado de Murphy) - que, à medida que o pai amadurece, vão crescendo – até à idade adulta - e assumindo, a vários níveis, cada vez mais protagonismo.
Porque, na BD com o seu nome, o Príncipe Valente está muitas vezes ausente ou é pouco mais do que espectador surgindo, também, no centro da acção Sir Gawain, cavaleiro da Távola Redonda, a rainha Aleta, os seus filhos, o escudeiro Arf, o vicking Boltar e outros mais, o que permitiu a Foster contar – muitas vezes em simultâneo – várias histórias que se combinam, cruzam e servem de referência.
Nelas, abordou aspectos sociais, políticos, militares e religiosos da época em que Val viveu, levando-o a percorrer meio mundo, da Europa – incluindo uma breve acostagem na costa portuguesa - à América, da África à Ásia.
Prancha 534
No aspecto formal, o facto de, ao contrário do que era habitual, o Príncipe Valente ter sido sempre publicado apenas como prancha dominical, sem a habitual derivação em tiras diárias, permitiu a Foster dedicar-lhes cerca de 50 horas semanais. Por isso, cada uma, nos seus monumentais 86 cm de altura por 70 cm de largura (ou seja cada vinheta tem aproximadamente o tamanho de uma folha A4) é uma obra de arte, de composição tradicional mas razoavelmente variada, traçada num preto e branco fino e detalhado, perfeito na correcta proporção do ser humano, sejam eles vigorosos guerreiros, belíssimas mulheres, alegres crianças ou veneráveis anciãos, expressivo na representação dos seus rostos, que transmitem todas as sensações de que o autor os quis dotar, e sublime na recriação de paisagens ou edifícios, com um pormenor inultrapassável.
Finalmente, numa época em que o balão de texto era já instrumento fundamental da narrativa sequencial em quadradinhos, a obra de Foster surpreende pelo recurso (aparentemente obsoleto) ao texto sob cada vinheta. Mas, só assim, Foster pode dar largas ao seu talento literário – atente-se na riqueza do seu vocabulário e na sua veia erudita – que condimentou com um assinalável sentido de humor com o qual, tantas vezes, coloca em causa princípios e bases do tempo em que Val viveu e do seu próprio tempo.


Um grande obrigado ao Manuel Caldas pela disponibilidade para esclarecer algumas questões e pela selecção das imagens que ilustram este texto e também o de amanhã.

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Fevereiro de 2012)



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