07/05/2011

Rui Duarte na Mundo Fantasma

Data: 7 de Maio a 12 de Junho de 2011
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 510, Centro Comercial Brasília, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingo das 15h às 19h


Discovoador et Al, é o nome da exposição de ilustração e banda desenhada de Rui Duarte, que a galeria Mundo Fantasma, situada no Centro Comercial Brasília, na loja especializada em BD importada com o mesmo nome, disponibiliza a parir de hoje, às 17h.
Natural do Porto, o autor, que estará presente na inauguração, tem sido o responsável pela imagem gráfica dos Clã, a banda de Manuela Azevedo, para quem tem elaborado as capas de discos e os cartazes dos espec- táculos, sendo que algum desse material, do álbum Rosa Carne ao recém-lançado Disco Voador, estará patente nesta mostra.
Formado em arquitectura, Rui Duarte tem feito a sua intervenção artística ao nível da criação de cenários, esculturas, mobiliário, ilustração e banda desenhada, nas Américas, Cabo Verde, Angola e Europa. Em Portugal, o seu atelier, formado em 1991, tem desenvolvido estratégias em múltiplas disciplinas da comunicação e produção, gráfica e audiovisual, investindo sobretudo na imagem de projectos culturais,
tendo colaborado com instituições diversas como a Câmara Municipal do Porto, Rivoli Teatro Municipal, Culturporto, Museu de Serralves, Porto 2001, Coimbra 2003 ou Expo'98.
É também director artístico da Companhia Burbur, uma organização lusófona que concebe e produz projectos de teatro, de investigação literária, de vídeo e de som.
Actualmente a frequentar o curso de Estudos Portugueses e Lusófonos na Faculdade de Letras, Rui Duarte tem em Discovoador et Al, que poderá ser visitada até 12 de Junho, uma panorâmica alargada, heterogénea e diversificada dos seus trabalhos e das técnicas que costuma utilizar.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2011)

06/05/2011

L’ombre aux tableaux

et autres histoires
Jean-C. Denis (argumento e desenho)
Drugstore (França, 30 de Março de 2011)
215 x 293 mm, 184 p., cor, cartonada, 25 €


Resumo
Compilação de várias histórias de Jean-Claude Denis, publicadas em três álbuns no início da década de 1990, a saber: L’ombre aux tableaux, Bonbon Piment, Maï pen raï, Le jeux des animaux, Le Pélican.


Desenvolvimento
Acredito e defendo a banda desenhada enquanto arte na qual texto e desenho funcionam de forma una e indivisível.
Mas, paradoxalmente, escrevo de forma convicta que compro mais depressa um álbum pelo seu argumentista do que pelo seu desenhador. Aliás, há belíssimas histórias comprometidas por desenhadores pouco hábeis e excelentes desenhadores que brilhariam mais se tivessem boas histórias para desenhar. E ainda talentosos desenhadores que nunca serão sequer razoáveis autores de banda desenhada…
O que não implica, paradoxalmente mais uma vez, que não haja alguns desenhadores que me atraem especialmente, muitas vezes por razões que nem eu consigo explicar. Jean-Claude Denis é um desses casos.
Descobri-o há muitos anos quando (ainda só) folheava a revista (a suivre) e tive oportunidade de o ler, mais tarde, algumas vezes. Se enquanto argumentista o considero algo desequilibrado, com algumas obras francamente conseguidas e outras que não o são tanto, como desenhador a sua linha clara, geralmente de tons mais sombrios - ocres, verdes, cinzentos, azulados - raramente vivos ou quentes, em que predomina a figura humana, mais especificamente rostos expressivos, com especial destaque para as belas mulheres, satisfaz-me bastante e acaba por ser a principal razão para a ele voltar recorrentemente. E é dessa forma que Denis vai traçando retratos ternos mas desiludidos, e lúcidos, embora por vezes deformados, da sociedade, do nosso mundo.
Foi o caso desta compilação, recém-editada, que reúne uma mão cheia de histórias, entre curtas e longas, quase todas em lugares exóticos – Brasil, Tailândia, Reunião – nas quais a realidade – que geralmente predomina nos álbuns de Denis – convive estreitamente com o fantástico e/ou o sobrenatural, uma vezes apenas na aparência, outras vezes sendo mesmo concretizado.
É o que acontece na narrativa que abre o álbum e lhe dá título, em que um pintor pouco conhecido, uma vez falecido volta para progressivamente se apossar do corpo – da vontade - da última (da única?) pessoa que lhe deu valor em vida, servindo o conjunto para Denis divagar sobre o momento da criação, a arte, os seus criadores, o seu valor, a sua importância, os críticos…
Igualmente bem conseguidas são Bonbon Piment e Maï pen raï, a primeira sobre uma relação (impossível?) mal compreendida, a segunda sobre como um pormenor pode estragar um sonho de amor.
Aliás, convém referi-lo, os desencontros, as desilusões, as relações terminada ou desfeitas, os finais infelizes são uma constante na obra de Denis, onde abundam histórias sobre pessoas (nem sempre) normais, muitas vezes apanhadas em situações incomuns, ultrapassadas pelo acaso, pelo destino, pela própria incapacidade de se assumirem ou de afirmarem a sua vontade, pessoas solitárias, pouco sociais, incapazes de se relacionarem com os outros… e consigo.
Por isso, de forma resumida, talvez me atreva a escrever que este é um álbum sobre gente, sobre pessoas, sobre relações humanas, melhor, sobre como raramente essas relações devem ser conduzidas.
Sei que é um atrevimento grande fazê-lo porque o resumo acima - como (quase) todos os resumos - é redutor e, por natureza, incompleto, e Denis é um magnífico cronista do quotidiano e do ser humano.


A reter
- O traço de Denis, claro, pelo menos aos meus olhos.
- Os finais inesperados e o tom intimista da maior parte das narrativas.
- A combinação de sentimentos e emoções – por vezes opostos - que ressalta dos seus contos: ternura, tristeza, melancolia, solidão, paixão, incompreensão…


Menos conseguido
- O relato longo que fecha o livro, Le Pélican, povoado por seres humanos (muito) pouco normais…


Curiosidade
- No site da Drugstore pode folhear as primeiras pranchas do álbum (clicando na imagem sob “planches”).

05/05/2011

Le Masque du Fantôme

Le Château des Ombres
Collection Shampooing
Fabien Grolleau (argumento e desenho)
Delcourt (França, 6 de Abril de 2011)
127 x 180 mm, 192 p., pb, brochada com sobrecapa, 9,40 €


Resumo
Um autor de BD pouco conhecido é contratado para produzir uma banda desenhada que ajude a trazer à razão o maior dos fãs de “Le Fantôme des Everglades”, um dos grandes sucessos dos quadradinhos clássicos dos últimos 60 anos.


Desenvolvimento
Esta é a história de alguém que ficou órfão demasiado cedo (é sempre demasiado cedo para se ficar órfão…) e, ao mesmo tempo, dono de uma colossal fortuna.
A história de alguém que encontrou refúgio e libertação na banda desenhada, em especial em “Le Fantôme des Everglades”, um comic clássico de aventura (que facilmente se percebe ser inspirado no Fantasma, de Lee Falk e Ray Moore), que nos últimos 60 anos foi um enorme sucesso a nível mundial. E a quem o dinheiro permitiu transformar a imensa propriedade numa cópia rigorosa dos cenários das aventuras do herói.
E, por isso, foi a banda desenhada que norteou toda a sua existência de criança, adolescente, jovem, adulto, velho… Primeiro como leitor maravilhado, depois como coleccionador ávido (“dotado de meios infinitos” para “percorrer o mundo inteiro à procura de um exemplar único” ou então “a versão alemã, indiana, turca ou chinesa” do seu comic preferido), mais tarde, mergulhando nela, como que numa realidade paralela, assumindo a pouco e pouco a identidade do seu ídolo, emulando as suas acções, vendo o mundo real deformado pelo olhar proveniente dos comics.
Mais ainda quando, numa tentativa de o chamar à realidade (de que estava cada vez mais ausente) os herdeiros decidiram queimar a sua imensa colecção, provocando exactamente o efeito contrário: roubando-lhe os últimos resquícios de lucidez, fazendo-o mergulhar definitivamente num papel de justiceiro mascarado numa cruzada infinita pela libertação de belas mulheres prisioneiras de horrendos zombies comandados pelo poderoso “Feiticeiro”.
Por isso, esses herdeiros, em especial a bela sobrinha, arrependida do que fez, decidem contratar Sacha, um autor de BD – por acaso pouco famoso e até cultor do género autobiográfico – para criar um comic “pirata” que ajude o novo(/velho) Fantôme a voltar à realidade.
Primeiro surpre-endido e de pé atrás, Sacha aos poucos embarca na estranha aventura, quer porque o perturbado herói o toma pelo seu (fiel…) ajudante, quer porque não fica indiferente à bela sobrinha – principalmente porque em si também vivem, vibram os ecos dos heróis dos quadradinhos.
Hábil combinação de realidade e fantasia, em que a realidade, aos olhos do leitor, é muitas vezes substituída pela ficção que o protagonista imagina real, “Le Masque du Fantôme” é, antes de mais, uma bela homenagem aos autores dos heróis – e aos heróis também - que fizeram – que fazem – sonhar gerações de leitores de quadradinhos. Uma homenagem emotiva, sentida, que se adivinha sincera. O que não implica que o autor não consiga algum distanciamento para mostrar – de forma mordaz - a reacção oposta, as críticas que todos nós, leitores de BD, já ouvimos mais que uma vez: “Com tais leituras, como não há-de a juventude ser perturbada?”, “Se lesses histórias a sério…”, etc…
Apesar de um início um pouco lento e algo confuso, o relato progressivamente ganha ritmo, em boa medida devido à planificação dinâmica, brilha na combinação da realidade com cenas extraídas (ou imaginadas) das páginas de BD e torna-se especialmente estimulante para fãs de banda desenhada, a quem o aconselho vivamente.
Este primeiro volume termina num momento em que o mundo de fantasia se cruza tragicamente com a realidade, partindo os protagonistas – o pretenso herói e o suposto criador das suas histórias – em perseguição de um verdadeiro assassino, deixando os autores em suspenso sobre a forma como o autor vai encaminhar.


A reter
- A homenagem – sentida - aos clássicos – autores e heróis - dos quadradinhos.

Curiosidade
- O blog de Fabien Grolleau, com muita informação sobre a obra.

04/05/2011

Astérix, 50 anos em Portugal (III)

Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”
“Tenho muitas histórias "curiosas" em relação ao Astérix, mas a edição de que guardo maior memória, é a do título “A Rosa e o Gládio”.
Era a primeira novidade que Portugal lançava em simultâneo com todos os outros países da Europa, incluindo a França, e era um privilégio poder trabalhar nela a partir da tradução. Estávamos no Verão de 1991 e tanto eu como a Paula Caetano - há vários anos que traduzimos juntas os livros do Astérix -, estávamos grávidas.
O nervosismo era grande: tínhamos muito pouco tempo para fazer a tradução - o livro tinha lançamento mundial em Outubro - e estávamos no final de Julho quando trabalhámos os textos. Faltava cerca de um mês para ter o livro pronto para ir para a gráfica (e ainda faltava aprovar a tradução e passar o texto ao legendador, para que o legendasse manualmente).
Hoje, quando olho para nós em retrospectiva, vejo-nos amarelas, olheirentas, enjoadas, com as cabeças a tentarem sobressair no meio de imensas nuvens de fumo. Trabalhávamos a três num gabinete, e a nossa colega de espaço acendia o cigarro no cigarro que ia apagar. Circundavam-nos imensos dicionários e livros para consulta.
Enviado o livro para a gráfica, começámos, na editora, a preparar a campanha de comunicação e os contactos com os jornalistas pois tínhamos acordado com a editora francesa que o Sr. Uderzo faria o lançamento da obra em Portugal, um dia ou dois depois do lançamento em França.
Sei que preparámos tudo e que, a poucas horas de sair do escritório para o aeroporto, a minha chefe da altura, a Natália Severino, me chama e me diz: "Senta-te. A notícia que tenho para te dar não é das mais agradáveis. Acabei de receber um telefonema de França e o Sr. Uderzo não pode vir a Portugal fazer o lançamento do álbum. Adiou a viagem".
Estava no sexto mês de uma gravidez de risco e tinha passado os últimos três meses em noitadas de trabalho e em stress contínuo. Olhei para a Natália e disse-lhe: "Telefona por favor ao meu marido, estou a sentir-me mal e tenho de ir ao hospital".
Fui para a maternidade e "ganhei" direito a ficar em repouso absoluto até a criança estar em condições de nascer, o que aconteceu no final de Novembro. E lembro-me de estar em casa a ouvir, na rádio (em Dezembro?) a notícia da presença entre nós do Sr. Uderzo, com quem não pude estar nessa altura.
E assim, o trabalho na minha primeira "novidade mundial" Astérix estará, para sempre, associado ao nascimento de um filho”.


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Astérix, 50 anos em Portugal (I)
- Tónius, o Astérix português

Astérix, 50 anos em Portugal (II)

Tónius, o Astérix português
Quando em Abril de 1979 a 2ª série da revista “Spirou” chegou às bancas, apresentava na capa um novo herói português. Ou melhor, lusitano, de nome Tónius. Emulação de Astérix, apesar de distinto do pequeno guerreiro gaulês – na construção dos argumentos, no ritmo, na utilização graficamente interessante de balões e legendas, no aproveitamento da sonoridade das palavras e de alguns anacronismos como fonte de humor… - partilhava com ele alguns pontos de contacto: vivia numa aldeia - o castro de Pedróbriga - que resistia aos invasores… mouros, a quem distribuía castanhadas sempre que a ocasião surgia; era inteligente, audaz e hábil… no manejo da funda; o seu principal amigo era Chicolindus, forte, encorpado e apreciador de… trutas; o seu chefe, Herminius, mandava pouco… mesmo em casa.
Os seus autores eram o argumentista Fernando Tito e o desenhador José André que, depois desta aventura inicial, publicada semanalmente até ao número 22 da revista, fariam Tónius regressar em “Uma aventura nas Astúrias” (Editorial Publica), lançada directamente em álbum no nosso país, em 1981, após ter sido editada na Bélgica, Holanda e Finlândia.
Nestes países foi ainda publicada uma terceira BD, “A invasão dos Alfas”, até hoje inédita em Portugal. As duas primeiras histórias foram reeditadas no “Jornal da BD” (1984/1985), tendo os autores deixado incompletos dois outros projectos, “A Pedra do Norte” (argumento completo, parcialmente desenhado) e “Tónius e as Sete Maravilhas” (apenas com a ideia base esboçada).
Tónius, apesar da carreira breve (ou talvez nem tanto…) com amigos e adversários ainda protagonizou um loto cuja base eram caricas de Sumol!


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Astérix, 50 anos em Portugal (I)
- Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”


(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Maio de 2011)

Astérix, 50 anos em Portugal (I)

Há exactamente 50 anos, Astérix estreou-se em Portugal que foi o primeiro país não francófono a ler as aventuras da maior criação de Goscinny e Uderzo. Aconteceu no número inicial da revista “O Foguetão” e o seu sucesso entre nós foi crescente, tendo o seu mais recente álbum, “O Aniversário de Astérix e Obélix” (2009), tido uma invejável (a qualquer nível) tiragem de 75 mil exemplares.
“Um jornal crescido para os novos” e “um jornal novo para a gente crescida”, o “Foguetão”, em papel de jornal, tinha 16 páginas de grande formato (35 x 50 cm), e custava 2$50, sendo caro para a época. Oseu director era Adolfo Simões Müller, que depois de Tintin e Lucky Luke apresentava em Portugal Astérix, mais um grande herói da banda desenhada franco-belga, apenas ano e meio após a sua estreia na revista Pilote.
A título de curiosidade, refira-se que o “Foguetão”, o “semanário do ano 2000 que se lê em 1961”, incluía contos, concursos e secções de futebol (por José Águas), cinema, filatelia, actualidade ou passatempos. Em temos de banda desenhada, a par de Dan Dare (rebaptizado Capitão Marte), Sexton Blake, Jean Valhardi, Tanguy e Laverdure, Blake e Mortimer, Gaston Lagaffe (dito Zacarias) e Michel Vaillant (aliás Miguel Gusmão), era “introduzida uma novidade”, a publicação de “Tintin au Tibet”, exactamente assim, na versão original francesa para “agradar aos leitores que estudam francês”, dando-lhes “a conhecer a graça original do texto” e ajudando-os “a compreenderem um dos mais belos idiomas do mundo”!Para os que não liam francês, “no fim de cada página da série” apareciam “as legendas traduzidas e numeradas para melhor identificação”. A presença do original francês, não impediu, claro está, que na versão lusa o repórter fosse Tim-Tim, o seu cão Rom-Rom, e Haddock e Tournesol, respectivamente Rosa e Pintadinho…Apesar do elenco de luxo, “O Foguetão” durou apenas 13 números, tendo publicado as primeiras 14 pranchas (por vezes remontadas) de “Astérix o guerreiro gaulês”, sempre a preto e branco ou apenas com uma cor (verde, vermelho, lilás, castanho…), tendo o herói tido chamadas de capa nos números 9 e 13.
Com o final da revista (disponível integralmente na Hemeroteca Digital), a 27 de Julho do mesmo ano, “apesar das quase três dezenas de milhares de leitores entusiastas que desde a primeira hora nos acompanharam, as melhores histórias e secções passaram para as páginas do “Cavaleiro Andante”, segunda casa portuguesa de Astérix a partir do número 510, de 7 de Outubro de 1961.
Astérix viveria igualmente no “Zorro” (1963), “Flecha 2000” (1979 e 1985), “Jornal da BD” (1982) ou “BDN” (1990). A revista “Tintin”, a partir de 1969, juntá-lo-ia de novo ao herói que lhe dava nome (e também a Lucky Luke), tendo nas suas páginas, onde foram publicadas duas dezenas de histórias, tido pela primeira vez uma impressão à altura da sua qualidade, o que contribuiu sobremaneira para cimentar a sua popularidade no nosso país.
Antes disso, no entanto, o herói estreara-se em álbum, em 1966, quando a Editorial Íbis editou “Astérix o gaulês”. A primeira história de Astérix, ao longo dos anos, viria a conhecer mais três versões da responsabilidade da Livraria Bertrand, Meribérica-Líber e Edições ASA. Esta última faria igualmente uma edição dele em mirandês - “L Goules” -, acontecendo o memo com “O Grande Fosso” - “L Galaton”. A Difusão Verbo, o Círculo de Leitores e a Salvat foram também editores nacionais de Astérix, sendo que todas as edições juntas ultrapassam já a centena. A estas, há que juntar ainda mais de uma dúzia de livros derivados, dedicados a adaptações de filmes, jogos ou gastronomia…
Desde “A Rosa e o Gláudio” (1991), as aventuras de Astérix e dos restantes companheiros têm sido editadas em Portugal em simultâneo com as edições originais francesas, sendo que o secretismo, os prazos curtos e as questões de confidencialidade inerentes ao facto davam para criar uma grande aventura… aos quadradinhos!
Actualmente, a grande criação de Goscinny e Uderzo pertence ao catálogo da ASA, que desde 2005 tem no mercado uma nova tradução em que os nomes das personagens foram “aportuguesadas”, adaptando ao nosso idioma os trocadilhos que muitos deles contêm.
A par da actividade editorial, Astérix apareceu também sob mil e uma formas: vestuário, cromos, decalcomanias, figuras plásticas oferecidas com vitaminas, gelados (Olá) ou doces (Panrico, Phoskitos, Kinder), etc…
Entretanto, a propósito do meio século da presença de Astérix no nosso país, Maria José Pereira, directora do Departamento de BD da ASA, revelou que “as comemorações dos 50 anos de edição do Astérix em Portugal prolongam-se até ao próximo ano”, tendo sido iniciadas com “o lançamento da novidade “Vamos Procurar o Astérix” e a reedição de vários álbuns que se encontram quase esgotados”.
As grandes notícias são a disponibilização da versão portuguesa do site oficial de Astérix “no final de Maio”, quando “serão lançados três livros dedicados a personagens Astérix”, mais concretamente Obélix, Atrevidix Cleópatra, estando previstos mais seis volumes “até ao final do ano”. Esta colecção, “lançada em França pelas Éditions France Loisirs”, ficará completa com a edição “dos restantes nove títulos durante 2012”.


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Tónius, o Astérix português
- Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”







(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Maio de 2011)

03/05/2011

Jump Start

Coup de Pouce / Neuer Schwung
A Comissão Europeia anunciou a publicação de “Jump Start”, um livro de banda desenhada que pretende mostrar que qualquer um pode ter uma segunda oportunidade e reorganizar a sua vida através dos programas financiados pelo Fundo Social Europeu (FSE), que o co-edita juntamente com a Direcção-Geral do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Igualdade de Oportunidades da Comissão Europeia.
As quatro histórias publicadas neste álbum têm por base testemunhos verídicos recolhidos juntos de habitantes dos vários países que integram a União Europeia, sendo este o ponto forte do projecto, pelos laços emotivos que pode criar pois os casos narrados são semelhantes aqueles que ouvimos diariamente nas notícias e de que todos conhecemos exemplos, tal como já acontecia aliás com as que compunham o primeiro livro desta série, intitulado “Novos Rumos”, lançado no final do ano passado.
Neste último caso, aliás, uma das histórias passava-se em Portugal, mais exactamente no Algarve, e narrava o caso de alguém que, após perder o emprego devido à deslocalização da empresa onde trabalhava, refez a vida reconvertendo a habitação familiar para fins de turismo rural.
Para além do desemprego, por detrás de cada um dos casos recontados aos quadradinhos podem estar situações como uma gravidez inesperada, um acidente automóvel que vitimou um dos pais ou o cônjuge, uma deficiência física, desavenças familiares, más companhias que levaram ao cumprimento de penas de prisão, etc.
Para ilustrar as bandas desenhadas foram escolhidos dois belgas (Christian Durieux e Gihef), um francês (Sylvain Savoia) e uma franco-laociana (Vanyda), já com álbuns publicados profissionalmente que, utilizando técnicas e estilos diversos, passaram ao papel, de forma bastante acessível e legível, as histórias escritas por Rudi Miel.
O álbum (ainda sem título em português, mas cuja tradução será algo como “Recomeço”) terá edição nas 23 línguas oficiais da União Europeia e mas pode desde já ser ser encomendado gratuitamente aqui.
Após a publicação do livro, prevista para as próximas semanas, ficará disponível uma versão online, como já acontece com “Novos Rumos”.


(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Abril de 2011)

02/05/2011

La frontière invisible, tome 1

Les Cités Obscures
Benoit Peeters (argumento)
François Schuiten (desenho)
Casterman (França, Abril de 2002)
235 x 305 mm, 64 p., cor, cartonado com sobrecapa, 13,50 €


Foi há já 20 anos que foi colocada a primeira pedra das "Cidades Obscuras". Os seus "artífices" são François Schuiten e Benoit Peeters que, "mais do que uma série”, as preferem definir como “a descrição progressiva de um universo...". Um universo desvendado álbum após álbum, "como se descobre um esqueleto enterrado na areia de que não se conhece a forma completa!".
O mais recente elemento, "La frontière invisible, tome 1" (Casterman, cor, 64 p.) é "uma história que começa com a chegada ao Centro de Cartografia de Sodrovno-Voldachie, de Roland, um jovem brilhante que se empenha nas suas tarefas, subindo rapidamente na hierarquia. Ao mesmo tempo, trava conhecimento com Schkodrá, uma bela e jovem prostituta, que se recusa a despir para não revelar o mapa traçado no seu próprio corpo.
Enquanto assistimos à transição de Roland da adolescência para a idade adulta, sentimos que tudo começa a mudar quando modernos aparelhos são trazidos para substituir os meios artesanais existentes e o Centro é visitado pelo marechal Radisic, o dirigente supremo do país, cuja política expansionista, assente na velha máxima de que o fim justifica todos os meios, o que põe em causa o equilíbrio existente nas Cidades Obscuras.
Mais uma vez, a história contada é simbólica, usando tempos e lugares incertos, para falar de realidades recentes como o nacionalismo ou a utilização política da história e da geografia como instrumentos bélicos.
Lembra Schuiten, que mais uma vez associa ao seu traço fino e pormenorizado, uma belíssima utilização da cor, que "uma fronteira é a linha que separa um território de outro, mas é também o que os divide!"

P.S. - Diz-se que a realização de um homem passa por três aspectos: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Saltando a questão da árvore, escrever, depois (ou a par) de várias experiências, tenho-o feito regularmente aqui, nas páginas do JN, não livros, mas sobre livros que li e tenho a oportunidade de partilhar. O filho, nasceu há dias. E é a ti, Daniel, que dedico este texto. Espero que a leitura dos livros que vou destacando, te venha a dar pelo menos tanto prazer como deu a mim, te faça transpor fronteiras, desbravar horizontes e despertar a imaginação, num tempo em que a leitura é, infelizmente, uma actividade cada vez menos praticada.


(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2002, a propósito do nascimento do meu primeiro filho, Daniel, a 2 de Maio)


Nove anos depois: parabéns Daniel!


Nota
Este álbum, primeiro de um díptico concluído dois anos mais tarde, seria editado em português pela Witloof, em Outubro de 2002, com o título “A Fronteira Invisível – Tomo 1”, existindo também uma edição da Casterman que compila os dois tomos que constituem a história.

01/05/2011

Melhores Leituras

Abril 2011


Batman #93 (Panini Brasil), vvaa


City Stories #6 – Oficina Polaco-Portuguesa de BD (Festival Internacional de BD e Viedojogos de Lodz), de Bartosz Sztybor, Balbina Bruszewska, Rui Lacas e Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade, Ricardo Cabral, Rui Lacas e Michal Sledzinski (desenho)


Far Away (Glénat), de Jean-François e Maryse Charles (argumento) e Gabrielle Gamberini (desenho)


J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #71 – Morrerei à meia-noite (Mythos Editora), de Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento) e Roberto Zaghi (desenho)


L'ombre aux tableaux et autres histoires (Drugstore), de J.-C. Denis


Os Incontornáveis da BD #3 - XIII Mystery (Público + ASA), de Xavier Dorison e Corbeyran (argumento) e Ralph Meyer e Berthet (desenho)

Universo Marvel #1 e #2 (Panini Brasil), vvaa
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