18/12/2012

O Baile










Nuno Duarte (argumento)
Joana Afonso (desenho)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2012)
183 x 260 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
12,95 €



Resumo
Em vésperas de uma visita papal, em 1967, um inspector da Pide é enviado a Maré Santa, uma pequena aldeia piscatória que tem sido assombrada por um bando de pescadores-zombies falecidos num naufrágio.

Desenvolvimento
Depois do magnífico A Fórmula da Felicidade, I  e II, em parceira com Osvaldo Medina, Nuno Duarte regressa com uma obra de temática díspar, desta vez acompanhado por Joana Afonso.
E este é o primeiro mérito do álbum: permitir comprovar, numa obra de fôlego, o talento de uma das integrantes da nova geração de desenhadores nacionais. Joana Afonso revela um traço expressivo, consistente, seguro e personalizado - talvez apenas um nadinha caricatural demais aqui e ali para a temática abordada, embora paradoxalmente isso contribua para ampliar o tom surreal assumido -, uma planificação (quase sempre) contida mas variada e eficaz, e um bom trabalho de aplicação da cor, cujos tons algo sombrios acentuam o ambiente opressivo.
Outro mérito, sobre o qual vale a pena debruçarmo-nos um pouco, é a forma como a trama está construída, de forma estruturada e sólida. Nuno Duarte situa-a numa época definida – a ditadura pré-25 de Abril -, justifica-a com um acontecimento verídico – a visita do papa Paulo VI à Cova da Iría -, usa a PIDE como sombra para o inspector se impor à população… Mas a verdade é que nada disto era (realmente) necessário, pois a mesma história poderia ser narrada em vários outros contextos, sem que perdesse especialmente com a mudança. No entanto, a conjugação de todos aqueles pormenores dão-lhe uma aura de credibilidade (que contrasta com o fantástico do tema!) e contribuem para ganhar o leitor.
Finalmente, falando da narrativa em si, há que dizer que a dupla Nuno Duarte/Joana Afonso se sai a contento (tal como o inspector) da empreitada que assumiu, o que se torna mais relevante numa época em que o terror e os mortos-vivos voltaram à ordem do dia à custa do sucesso (aos quadradinhos e televisivo) de The Walking Dead.
De forma original, o que ganha relevância por ser uma temática bastante explorada, desenvolvem uma história bem estruturada, com suspense, surpresas e o inevitável final a um tempo inesperado e trágico mas também feliz. A isso há que acrescentar personagens credíveis e bem desenvolvidas - o inspector com dúvidas sobre a própria carreira, a mulher “feiticeira” acusada de ser a causadora de tudo, o padre omnipresente - que pautam a acção num meio pequeno e fechado, que se revela claustrofóbico e potencia o tom incómodo do relato.


2 comentários:

  1. Pedro, tem alguma dica de lojas portuguesas que enviam para o Brasil? Abraço.

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    Respostas
    1. Olá Marcello,
      Sugiro começar por contactar directamente a editora: kingpinbooks@gmail.com
      Boa sorte... e boas leituras!

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