13/06/2014

Obscurum Nocturnus




Se há coisa que eu aprendi a valorizar ao longo dos mais de 30 anos que levo ligado (activamente) à BD, foi a persistência, a crença dos autores que, mesmo não tendo editor, continuam a trabalhar, mesmo que para a gaveta, confiantes de que a obra pronta convencerá editores ou, no mínimo – que não é pouco - movidos pela necessidade íntima de libertarem a história que querem contar.
Diogo Carvalho é a entrada mais recente numa lista que, não sendo tão longa como eu gostaria – existe outra similar, mais extensa…, de autores prometedores que nunca confirmaram as potencialidades que se lhes adivinhava - tem nomes que marcaram as últimas décadas dos quadradinhos portugueses.
Descubram Obscurum Nocturnus já a seguir.


Curiosamente – ou talvez não… - Diogo Carvalho – como a maioria dos autores da ‘tal lista’ – brilha mais a nível do argumento do que do desenho – pois os cultores deste tendem a perder na busca do perfeccionismo a urgência de avançar, ao contrário dos que, através da escrita (sequencial…), têm algo para transmitir.
Retomando o fio à meada, o desenho, na verdade, apresenta alguns problemas, em especial ao nível do ser humano, nomeadamente nos rostos – o que se nota mais quando a opção vai para os grandes planos ou para as vinhetas de maiores dimensões - embora seja evidente uma melhoria ao longo do livro o que só espelha o (natural) ganho de à-vontade por parte do autor.
De qualquer modo, parte desses aspectos menos conse-guidos, acabam por ser ‘disfarçados’ pela planificação, de estilo tradicional mas bastante fluída, que conduz a leitura ao ritmo adequado aos diferentes momentos da acção.
Para essa dinâmica contribuem também os diálogos, vivos e credíveis, aqui e ali com um toque de humor, contido.
Outro ponto a favor é a escolha de locais reais e facilmente reconhecíveis – digo-o fundamentadamente pois conheço relativamente bem Aveiro - para cenário, que ajudam a dar consistência à história, apesar do seu tom fantástico.
E deixei para o final, propositadamente, o aspecto em que o autor demonstra mais consistência: a narrativa – que continua a ser fundamental numa BD. Conduzida em ritmo pausado, com as personagens introduzidas no momento certo e bem caracterizadas, conduz-nos aos poucos para um campo inesperado, equilibrando e ajustando o tom sobrenatural do prólogo com o realismo das páginas que se lhe seguem, embora aquele acabe por prevalecer, mergulhando o leitor num registo de possessão demoníaca e mortos-vivos, em que a banda desenhada nacional não tem sido pródiga.



Obscurum Nocturnus
Diogo Carvalho
Edição do Autor
Portugal, Maio de 2014
170 x 250 mm, 124 p., pb,
brochado, 10,99 €

3 comentários:

  1. vai estar a venda na fnac ou outras lojas do mesmo genero?

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  2. Caro anónimo, apesar de contactos nesse fim, estou a dar prioridade às lojas especializadas de Banda Desenhada, como a DR.Kartoon em coimbra e o mundo fantasma no porto. Num breve futuro possivelmente acontecerá, mas por agora pode ver no site oficial www.obscurumnocturnus.com em postos de venda onde se pode adquirir o livro. Obrigado pela atenção.

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  3. Acabei de ler num fôlego e achei mesmo muito interessante! Admirável no ritmo e no argumento. Muito dinâmica, plena de referências tradicionais e arquetípicas mas também à cultura pop e "ancorada" a locais específicos e reconhecíveis, com energia, ironia (em relação ao prõprio universo do discurso), humor e sobriedade. Como aficionado e prof.de EDV adorei o sketchbook final. Um grande abraço e parabéns!
    Rui Teixeira

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