Pelas boas referências e por ser uma das obras que
contribuiu para abrir o mercado brasileiro e torná-lo um dos mais interessantes
do presente, este álbum, ainda disponível nos locais de venda, era um dos títulos da colecçãoNovela Gráfica que mais curiosidade tinha em ler.
O mínimo que posso dizer é a leitura deste livro, ainda disponível nas bancas. que as minhas expectativas se
cumpriram e foram até superadas.
Western spaghetti de tom brasileiro, protagonizado por dois
cangaceiros e ambientado no Nordeste do Brasil, Bando de Dois narra como Tinhoso
e Caveira de Boi, os dois sobreviventes de um bando de cangaceiros, tentam
recuperar as cabeças dos seus companheiros, utilizadas como troféus pela
polícia.
Vingança, aventura, humor e dinamite, são os restantes
ingredientes desta história.
Desenvolvimento
A inclusão de Bando de Dois na colecção Novela Gráfica levou
algumas pessoas a abanar a cabeça. É evidente que esta obra de Danilo Beyruth
não tem a relevância nem a importância histórica – dentro da História da banda
desenhada – de outros títulos desta colecção como Um Contrato com Deus, O Livro de Mr. Natural ou Mort Cinder.
Mas foi (bem) escolhida como representante da BD (HQ!)
brasileira numa colecção que se afirmava diversificada, em origem geográfica,
estilos gráficos e narrativos e conteúdos temáticos. E cumpre bem esse papel e
um outro ainda: o de mostrar que um romance gráfico (pois, continuo a preferir ‘romance’
a ‘novela’…) pode ser só uma grande bela aventura sem mais propósitos do que
divertir e dispor bem, sem o peso emocional de títulos como Aarte de voar e O diário do meu pai ou a poesia de A Viagem
ou Sharaz-De.
Porque, Bando de Dois é isso mesmo – e não pretende ser
mais: um belo divertimento aos quadradinhos. Que parte de uma realidade histórica
local, os cangaceiros – tal como Caatinga, de Herman, ou O Cabra,
de Flávio Luiz – para apresentar uma história bem ritmada, superiormente
narrada através de um traço muito expressivo e com uma excelente utilização da planificação em que abundam os mais
variados pontos de vista cinematográficos e a utilização de toda a extensão da
página – das páginas – ao serviço da história.
Esta – a que apenas falta, em meu entender, a exposição e
posterior resolução do confronto que iria causar as diferentes motivações de Tinhoso
e Caveira de Boi – desenrola-se de forma gradual, assente em diálogos certeiros
e muito bem trabalhados – tornados aliciantes (para leitores portugueses) pelo
sotaque e forma de falar típica do nordestinos – e numa utilização inteligente
do sentido de humor, que perpassa por toda a obra de forma sóbria e subtil.
Após a apresentação das motivações dos dois cangaceiros, o
plano para levar a bom termo os seus intentos é delineado e posto em prática e
a tensão vai crescendo à medida que tudo se encaminha para o inevitável
confronto, que o leitor adivinha sem quartel e muito sangrento, até que um grão
de areia (não resisti, desculpem…) entra no que parecia uma bem oleada
engrenagem e transforma por completo o desfecho, desviando-o do que parecia
mais evidente – e mesmo assim esta seria uma bela aventura aos quadradinhos – e
introduzindo uma componente surpresa, que prolonga o tom humorístico e eleva (ainda
mais) o já de si bom nível de Bando de Dois.
- O muito apropriado ritmo narrativo.
- A invulgar capacidade de planificação que Danilo Beyruth alardeia.
- O humor fino e inteligente que emana da obra
- O final, inesperado mas muito bem conseguido.
Menos conseguido
- Não sendo uma falha grave, numa obra muito bem
desenvolvida, falta o confrontar das motivações dos dois protagonistas que o
leitor espera e nunca chega.
Bando de Dois
Danilo Beyruth
Levoir/Público, Portugal, 6 de Maio de 2015
21o x 280 mm, 96 p. , pb, capa dura, 9,90 €
Li este livro no fim de semana e concordo na quase totalidade com a análise acima. O unico ponto que dioscordo é na necessidade do "esclarecimento" entre os dois cangaceiros. Não transparece (a meu ver) na obra, uma grande tensão entre os dois protagonistas. Estes estão unidos pelo objectivo, mesmo que com razões diferentes. E quando o objectivo de um é concretizado mas o do outro não... isso não implica necessáriamente um confronto entre os dois.
ResponderEliminarNão retirando a carga histórica ao "Mr. Natural", notando apenas como exemplo, gostei muito mais desta obra que dessa.
Caro pco69,
EliminarConcordo que "Não transparece (a meu ver) na obra, uma grande tensão entre os dois protagonistas.", até porque as intenções do segundo são desconhecidas do primeiro, mas o leitor conhece-as e fica à espera do que daí resultará...
Mas isso é apenas um pormenor numa obra muito bem conseguida e divertida.
O Livro do Mr. Natural - que pelo seu carácter de colectânea de histórias curtas nem sequer deveria estar numa colecção de 'novelas gráficas' - surge algo datado e perde pela falta de sequência entre as histórias, pois pelo meio faltaram algumas que não estavam disponíveis para reproduzir.
Boas leituras!
Foi outra dos boas surpresas desta magnifica colecção
ResponderEliminarGostei muito deste "Bando de dois" Pedro, e parece-me até que a própria promoção feita no Brasil deve ter sido bem conseguida com um site e trailer com trilha sonora como por lá se chama. Se um dia o Danilo Beyruth cá vier ao Amadora BD, gostava que me assinasse o livro.
ResponderEliminarHomem do Leme,
EliminarEsse foi um dos desafios que coloquei aquando do lançamento da colecção Novela Gráfica: deixarmo-nos surpreender pelas obras editadas...
E no AmadoraBD, em Beja, na Comic Con Portugal ou noutro sítio qualquer, também espero um dia encontrar-me com o Danilo Beyruth!
Boas leituras!