Que a BD é um género narrativo com enormes potencialidades é
uma evidência que tenho tentado mostrar repetidamente neste espaço. Que essa
evidência é mais fácil de comprovar no mercado franco-belga, dada a sua
dimensão e variedade, não será grande surpresa.
As duas obras que hoje me ocupam, provam-no mais uma vez. E
mais, demonstram que esses propósitos tanto podem ser cumpridos no formato
franco-belga (mais) tradicional, quanto por um manga (mesmo que de origem
ocidental).
Nos dois casos - Meurtre au Mont-Saint-Michel e Mont Tombe,
é o Mont Saint-Michel que serve de local de acção e, por isso, ambas as edições
receberam o patrocínio – tão útil nos dias que correm – das Éditions du
Patrimoine – Centre des Monuments Nationaux.
[E, porque é importante, até para a forma como se desenrolam
ambas as obras, diga-se que o Mont-Saint-Michel, se situa no noroeste de
França, na foz do rio Couesnon, junto ao Canal da Mancha. É um ilhote rochoso,
onde no século XIII foi construída uma abadia e ao seu redor nasceu uma pequena
localidade. Ligada ao continente por um istmo, tem a particularidade de em
determinadas alturas do ano ficar isolado do continente devido à subida das
marés. Este fenómeno natural, contrariado no final do século XIX, foi retomado
para fins turísticos eem 2012.]
Em Meurtre au
Mont-Saint-Michel, o monte serve de cenário a um policial de matriz
clássica, funcionando, graças à subida da maré, como local fechado onde ocorre
um assassinato e um rapto. A procura do assassino – rapidamente orientada para
o estrangeiro de passagem…, que se revelará quem não parecia ser - cria um
ambiente de tensão constante em que investigadores, simples figurantes, o
(desconhecido) assassino e outras potenciais vítimas convivem e coexistem, até
à (inevitável) descoberta final, lógica mas, como devido, pouco evidente. Tudo servido por um grafismo atraente, pintado com uma paleta de cores assumidamente limitada mas que contribui para criar o ambiente pretendido.
Quanto a Mont Tombe,
vocacionado para leitores mais maduros pelo tom exotérico que assume, parte da
descoberta acidental de uma gruta para explorar uma das lendas locais, que
assinala o Mont Saint-Michel como local onde teriam sido escondidas algumas
relíquias religiosas de grande valor – e poder… para desencadear o Apocalipse!
A identificação do argumentista, Izu, como Guillaume Dorison, escritor com provas
dadas nesta área, aumenta o interesse pela história que, apesar de alguma linearidade,
não desmerece a sua fama e merecia, sem dúvida, um desenho mais exigente e
conseguido.
No final, se em nenhum os casos estamos na presença de uma
obra-prima, daquelas cuja leitura se recorda ao longo de anos ou décadas, são
mais dois exemplos de obras de leitura agradável que – mais do que isso? –
cumprem o papel que as originou: a utilização do Mont Saint-Michel como local
privilegiado da sua acção, promovendo-o nas suas vertentes histórica e
turística. Não é pouco e muito menos desprezável.
Meurtre au Mont-Saint-Michel
Jean-Blaise Dijan (argumento)
Marie Jaffredo (desenho)
Glénat + Éditions du
Patrimoine – Centre des Monuments Nationaux
França, Julho de 2015
240 x 320 mm, 48 p., cor,
cartonado
EAN: 978-2344006030
13,90 €
Mont Tombe
Izu (argumento)
ASAN (desenho)
Glénat + Éditions du
Patrimoine – Centre des Monuments Nationaux
França, Setembro de 2015
145 x 210 mm, 176 p., cor, cartonado
EAN: 978-2344006030
10,75 €
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