A 26 de Setembro de 1946, uma Bélgica a recuperar ainda das
feridas da II Guerra Mundial, via surgir uma nova publicação infanto-juvenil, Le Journal de Tintin, que se viria a
tornar um marco na história da BD.
Editado pelas Éditions du Lombard - que assim completam também sete décadas - tinha uma versão em flamengo,
Kuifje, e contava 12 páginas, embora
apenas quatro tivessem BD, assinadas por Laudy, Cuvelier, Jacobs e Hergé.
Este último era o director artístico e o pilar da revista –
ou não fosse ele o criador do herói que lhe dava nome e cujo sucesso a nova
publicação aspirava emular -, mas para isso foi necessário que o editor,
Raymond Leblanc, antigo membro da Resistência, lhe conseguisse uma autorização
de trabalho, face às acusações de colaboracionismo que pendiam sobre ele, por
ter publicado Tintin no Le Soir
durante a ocupação da França pelos nazis.
Nesse n.º 1, Tintin retomava as aventuras no Templo do Sol, iniciadas naquele jornal,
e estreava Corentin e Blake e Mortimer.
Apenas três meses decorridos, a revista crescia para 16
páginas e, dois anos mais tarde nascia a versão francesa, editada por Georges Dargaud.
Quanto aos heróis, como os autores, foram-se multiplicando: Alix, Bob e
Bobette, Chlorophylle, Ric Hochet, Modeste et Pompon, Michel Vaillant, Bernard
Prince, Comanche, Luc Orient, Simon du Fleuve, Buddy Longway, Thorgal e muitos
outros preencheram páginas e páginas de histórias aos quadradinhos recheadas de
humor, aventura, ficção e fantasia, que fizeram sonhar sucessivas gerações ‘dos 7 aos 77 anos’ e balizaram durante
décadas (um)a das forma(s) de narrar em BD.
Em Portugal, as histórias do Tintin belga começaram por
aparecer no Diabrete (1951) e no Cavaleiro Andante (1952) e foram
publicadas também pelo Zorro, Flecha, Titã, Foguetão, Pisca-Pisca, Mundo de Aventuras... Em 1968, nascia a revista Tintin portuguesa, que aliava ao melhor
da sua congénere belga, as séries de sucesso da emergente e mais moderna Pilote. Foi assim que, pela primeira
vez, numa única publicação se reuniram Tintin, Astérix e Lucky Luke, bem como
Blake e Mortimer, Alix, Valérian, Blueberry ou Corto Maltese, que marcaram
(também) muitos leitores portugueses.
Le Journal de Tintin
terminaria em 1988 – seis anos depois da versão portuguesa – tendo ainda
tentado reviver, sem grande sucesso, na Tintin
Reporter e na Hello BéDé.
No mercado francófono, os 70 anos de Le Journal de Tintin ficam assinalados por uma edição especial da
revista Paris-Match, La Saga du Journal Tintin, pelo livro La Grande Aventure du Journal Tintin
que, em 777 (!) páginas, traça o percurso da publicação e publica histórias
curtas ou pranchas dos heróis que por ela passaram e por uma emissão filatélica belga que reproduz cinco das capas da revista,
desenhadas por alguns dos seus autores icónicos.
(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Setembro de 2016; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)
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