Este é um relato sobre intolerância, incapacidade de
aceitação da diferença e afirmação da normalidade em detrimento dos desvios
naturais.
E, à boleia, um festival de porrada e violência extrema,
delirante e irresistível, apesar de ficar mal afirmá-lo num blog que se quer
respeitável!
Dividido entre as décadas de 1960 e de 1980, com saltos
temporais que ajudam a compreender opções e reacções, surpreender ambições e explicar
acções, Big Man Plans é uma história
de ódio e vingança, recalcados ao extremo, desenvolvida em capítulos curtos mas
ricos em conteúdo - e ainda mais em violência desabrida e forte impacto visual
- que nos vão aproximando do acto final e da explicação de tudo a que
assistimos no livro – se tivermos a coragem (e algo mais…) para mantermos os
olhos sempre abertos.
Nascido diferente, desprezado pela mãe, que cedo (o)
abandonou (e) a família, demasiado desafiado e iludido pelo pai, de quem ficou
órfão demasiado cedo – e com um imenso sentimento de culpa… -, desprotegido pelo sistema, crédulo no amor
até ao desgosto que o empurrou para a Guerra do Vietname, onde viveu – e
provocou – horrores inimagináveis, o protagonista acumulou sucessivos ódios e recalcou
demasiados sentimentos, a que só conseguiu dar vazão através da explosão
recorrente de uma violência incontrolável e incontida.
É uma história tresloucada, que deve ter dado tanto gozo a
criar quanto dará a ler – se o asco e o vómito não nos afastarem dela – servida
por um desenho à medida, que muitas vezes o expande e sublinha em páginas duplas,
num registo caricatural grotesco, acentuado pela paleta sombria adoptada, sem
falsos pudores e nas antípodas de todos os códigos defensores do politicamente
correcto.
E na qual acabaremos por descobrir nas páginas finais, que
gatilho fez o protagonista fechar o círculo e voltar à sua cidade natal – micro-retrato
de uma América racista, xenófoba e
intolerante - para um último (?) ajuste de contas, alargado e implacável.
Protagonista que, ao contrário do que se possa inferir do
título - quase me esquecia de o referir… - não passa de um minúsculo e enfezado
(desculpem a redundância) anão…
Big Man Plans
Eric Powell (argument e
desenho)
Tim Wiesch (argumento)
Evolution Comics
Espanha, Setembro de 2016
185 x 280 mm, 120 p., cor, capa dura
16 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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