16/09/2016

Corentin: Les trois perles de Sa-Skya








Les trois perles de Sa-Skya assinala mais um regresso de um dos grandes heróis clássicos franco-belgas – Corentin, no caso - num álbum que a crítica francófona tem saudado positivamente.

Corentin nasceu com a revista belga Tintin, em 1948, como criação de Paul Cuvelier que, em parceria com Van Melkebeke, Albert Weinberg, Greg, Acar ou Jean Van Hamme, criou sete longas aventuras deste herói.
Como tantos, descobri-o nas páginas do Mundo de Aventuras que publicou as suas três primeiras histórias. Nunca me seduziu especialmente e sempre tive a sensação de que não tinha envelhecido muito bem. Não no traço magnífico de Cuvelier, anatomicamente perfeito, no desenho de homens e animais, feito de uma linha fina dinâmica e rigoroso e à vontade em todo o tipo de cenários, mas sim pelo cariz demasiado clássico das suas aventuras. Adolescente impetuoso, órfão, abandonou o tio que o maltratava para percorrer o mundo. Em nome da amizade, da justiça e da sede de aventura, percorreu meio mundo, com destaque para a Índia mas também com passagens pela China e os Estados Unidos (neste caso numa história protagonizada pelo… neto do primeiro Corentin, graficamente igual ao avô!), encontrando sempre amigos para partilhar as suas andanças, quase sempre adolescentes como ele, com destaque para os (mais recorrentes) ‘indianos’ Kim e princesa Sa-Skya, bem como Belzebuth (um gorila) e Moloch (um tigre).
Apesar de confrontos duros, sucessivas traições e da vivência de situações extremas, nas aventuras de Corentin raramente há mortos – e quando os há devem-se a acidentes – e nelas reina uma ingenuidade desconcertante revelada na forma como Corentin e os seus amigos resolvem tudo e sempre se saem bem.
Apesar disso, os bons comentários que li a Les trois perles de Sa-Skya aguçaram-me a curiosidade e levaram-me à leitura deste álbum, de novo escrito por Van Hamme mas desenhado por Christophe Simon, um dos discípulos de Jacques Martin.
A primeira constatação é a tentativa de distanciamento do original, sem trair a longa herança da série. O actual Corentin é mais velho, um jovem a entrar na idade adulta, por isso a história abre com uma inusitada proposta do sultão de Sompur, seu amigo desde sempre: desposar a princesa Sa-Skya – que Corentin confessa amar… como uma irmã - e tornar-se sultão em seu lugar, face ao agravamento do seu estado de saúde, recebendo como dote as 3 pérolas que dão título ao livro e que constituem grande parte das riquezas do reino. A resposta de Corentin – em linha com o que sempre foi ao longo dos álbuns - provocará uma reacção irada do sultão que, ao longo do relato, irá num crescendo pouco credível face ao seu historial comum.
Narrativamente, Van Hamme começa fiel ao Corentin original: longos textos descritivos, por vezes repetindo o que as imagens mostram, mas aos poucos, melhor, a espaços, ‘esquece-os’ para sustentar a narrativa apenas com as imagens e os diálogos, agilizando assim a leitura. O apagamento de Kim, Belzebuth e Moloch são outra evidência de uma tentativa de modernizar o relato, que penso que os fiéis de Corentin não perdoarão.
Em sentido contrário, Simon, se nas primeiras páginas ‘envelhece’ o protagonista, de forma coerente e credível, para o final parece esquecer a sua nova situação aproximando-o graficamente do imberbe original de Cuvelier. Apesar disso – e mesmo não possuindo o seu traço o classicismo do original – oferece um trabalho gráfico realista sólido, bem complementado por uma boa colorização.
Quanto à história em si, depois de uma primeira parte pausada e fiel ao esquema tradicional, assente na tal proposta, no subsequente roubo das pérolas e de Corentin surgir como principal suspeito, tem, após um volte-face que o leitor só apreenderá integralmente no final, um enorme acréscimo de suspense e tensão – também inusual na série – que Van Hamme resolverá satisfatoriamente, mas sem a mestria e a credibilidade já demonstradas noutras ocasiões.

Corentin : Les Trois perles de Sa-Skya
Jean Vam Hamme 8argumento)
Christophe Simon (desenho)
Le Lombard
França, Junho de 2016
241 x 318 mm, 56 p., cor, capa dura
EAN: 9782803635788
14,99 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)


Corentin em Portugal
As sete aventuras originais de Corentin estão integralmente publicadas em português. Coube à Titã (#13, 1955) estreá-lo entre nós, rebaptizado Grifo, em A extraordinária odisseia de Grifo (L'extraordinaire odyssée de Corentin Feldoë, 1946). Poucas semanas depois, a Flecha iniciava a publicação de Bisonte Negro (Corentin chez les Peaux-Rouges, 1949), mas ambas ficaram inacabadas.
Corentin regressaria no Cavaleiro Andante (#422, 1960) que publicou, integralmente, O punhal mágico (Le Poignard Magique, 1958).
A revista Tintin retomá-lo-ia, entre 1969 e 1980, em O signo da cobra (Le signe du cobra, 1967), Corentin e o príncipe das areias (Corentin et le prince des sables, 1968), O punhal mágico, O reino das águas negras (Le royaume des eaux noires, 1973) e A extraordinária odisseia de Corentin. Esta última foi editada em álbum pela Bertrand, em 1981.
Quanto ao Mundo de Aventuras, publicou, entre 1979 e 1981, A extraordinária odisseia de Corentin e Corentin entre os Peles Vermelhas na sua série Especial e Novas Aventuras de Corentin (Les nouvelles aventures de Corentin Feldoë, 1947), na sua série regular.

  

  
(informação recolhida nos sites Bedeteca Portugal, BDOubliées e BDPortugal (de onde foram recolhidas as imagens das edições portuguesas)

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