Conheci Enrique Sanchez Abulí no Salão Internacional de BD
do Porto e Jordi Bernet no Festival International de la BD d’Angoulême.
Reencontrei-os, agora, por intermédio da personagem que os
fez famosos nos anos 1980: Torpedo 1936, o implacável assassino a soldo.
Sórdido, amoral, violento, rancoroso, vendido a quem paga
mais, são algumas das principais qualidades de Torpedo 1936, aliás Luca Torelli
(Torelli, por parte da família, Luca por parte do… cão!), um emigrante italiano
à procura do sonho americano, nos desgraçados anos de 1930.
Entre lutas de gangs, confrontos entre negros, irlandeses e
italianos, o dealbar do cinema e da animação, mulheres belas, sensuais e
disponíveis e as catastróficas consequências económicas da Grande Depressão,
Torpedo tem que fazer pela vida, nem que isso passe por levar a morte a outros,
por encomenda.
Assente em guiões concisos e certeiros de Sanchez Abulí,
mestre no uso de trocadilhos e senhor de um humor imensamente negro, Torpedo
começou por ser entregue graficamente a Alex Toth que desistiu da série por a
julgar demasiado violenta. Ganharam os leitores pois o belo preto e branco do
mestre americano era demasiado delicado para o negrume que os argumentos pediam
e Bernet mostrou-se a (segunda) escolha ideal graças ao maior dinamismo que
impôs às páginas e ao seu traço mais sujo e anguloso, mas igualmente genial no
uso de contrastes.
Numa obra longa de mais de 700 páginas, divididas em
histórias de 6 a 12 páginas – geralmente 8 – e com algumas longas (48 pranchas)
pelo meio, para além do dia-a-dia do matador profissional, podemos (re)visitar
a sua infância na Itália natal, bem como os primeiros e duros anos na Terra
Prometida, que mostrou muito pouco sê-lo.
Acompanhado por Rascal, o seu pouco inteligente e raramente desenrascado
lugar-tenente e sem inimigos recorrentes – eles acabam geralmente crivados de
balas na cama onde exalaram as últimas vontades ou nalgum beco sombrio -
Torpedo 1936 é uma daquelas obras clássicas, cuja leitura recorrente, mas em
doses moderadas, se aconselha vivamente – pese a má escolha deste termo…
Em especial, num soberbo volume como este – já em 3.ª edição
- que recolhe, por ordem cronológica, com novas digitalizações e redesenho dos
títulos de algumas histórias, para se sobreporem o mínimo possível aos
desenhos, todas as bandas desenhadas e contos ilustrados que Luca Torelli
protagonizou, entre 1982 e 1995, em revistas (incluindo títulos próprios),
álbum, jornal (suplemento cultural do El País!) e comic-book.
Torpedo 1936 em
Portugal
Luca Torelli foi publicado em Portugal apenas dois anos após
a sua estreia, na (excelente) 5.ª série de O Mosquito. Revelado no segundo
número da revista, com destaque na capa, só falharia duas vezes até ao seu
fecho, no número 12.
Em paralelo, a editorial Futura começou a publicá-lo em
álbuns próprios, tendo editado um total de 6 volumes, a preto e branco e de
capa mole, sempre com a conseguida tradução de Jorge Magalhães.
Torpedo 1936 regressaria ao nosso país em 1998, na II série das Selecções BD, onde foram publicados mais de uma dezena de episódios do assassino profissional.
Torpedo 1936 regressaria ao nosso país em 1998, na II série das Selecções BD, onde foram publicados mais de uma dezena de episódios do assassino profissional.
Torpedo 1936 Integral
Enrique Sanchez Abulí (argumento)
Alex Toth e Jordi Bernet (desenho)
Evolution Comics
Espanha, 2014
200 x 265 mm, 720 p., pb, capa dura
60,00 €
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Raios Pedro Cleto, quando entrei no blog e vi o titulo do post até dei um pulo de contentamento por pensar que ia ser publicada uma edição integral do Torpedo em português. Enfim, vou continuar na esperança :)
ResponderEliminarBoa BD! A revista Selecções BD também publicou algumas histórias.
ResponderEliminarFilipe Simões
Publicou sim, Filipe, por isso já corrigi acima!
EliminarObrigado!
Boas leituras!
Parece-me que será esperar para desesperar, Eskorpiao77, não vejo forma de alguém pegar nisto...
ResponderEliminarBoas leituras!
Calma pessoal! Voltando à vaca fria e vindo ao encontro do desejo de várias "famílias", incluindo a minha, a Levoir e o Público vão-nos brindar com essa magnífica série... Abençoada gente!
ResponderEliminarTendo os 6 volumes (velhinhos) da Futura, gostava de saber quais devo comprar agora, para não ter que comprar toda a coleção e ficar com álbuns repetidos. Será que me podem informar?
ResponderEliminarViva Pedro.
ResponderEliminarO jornal Público/Devir vai disponibilizar a partir de 01/02/2018 Sabes se há originais? É que eu tenho os álbuns da Futura + Mosquito + Seleções BD e tendo tudo, escusava de gastar dinheiro...
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarDiogo, Fernando,
ResponderEliminarBom dia Fernando,
Vai mesmo ter de gastar dinheiro! As histórias que saíram nos álbuns da Futura e nas Selecções BD correspondem sensivelmente ao primeiro volume e a metade do segundo da actual colecção Levoir/Público.
Boas leituras!
Obrigado Pedro, são óptimas notícias. Mais BD original!
ResponderEliminarMas parece-me que pecaste por defeito quanto à reposição do material já existente! Só da Futura são cerca de 266 páginas, sem contar com as páginas do Mosquito e das Seleções BD, por isso talvez sejam mais que 2 volumes para o já publicado entre nós. Saudações bedéfilas para todos os amnates da 9.ª arte.