Pode
parecer estranho, para mais no contexto - colecção Novela Gráfica
2018 - em que surge, mas o aumento do número de edições e a sua
diversidade permite que surjam obras como esta: vocacionadas
maioritariamente para quem não lê BD.
A
estranheza pode aumentar, se repararmos que a edição original
francesa foi um dos livros mais vendidos em França no ano passado.
Destemidas,
é uma coletânea de biografias curtas e simples de mulheres que, por
alguma razão - artística, social, política… - se distinguiram no
seu tempo e no lugar onde nasceram. Mulheres, quase todas, pouco
conhecidas - quantos dos que lêem este texto sabe quem foram Delia
Akeley, Leymah Gbowee ou Christine Jorgensen, por exemplo? - cujas
vidas, feitos ou episódios marcantes são narrados em poucas
páginas, com traço fino e simples, em vinhetas sem pormenores
desnecessários, servidas parcamente por cores planas.
O subtítulo apresenta-as como “Mulheres que só fazem o que querem”, apontando o tom feminista - de uma forma saudável - que o livro exala,
direccionando-o (também) assim para um público-alvo mais específico. Feminino, em primeiro lugar, mas também culto e
curioso, com interesse por biografias (claro!), História, artes ou
temas sociais.
E,
embora provando - mais uma vez - as enormes possibilidades narrativas
da banda desenhada para qualquer género, atrevo-me a dizer que
Destemidas, na sua temática específica e na sua simplicidade
gráfica e narrativa, dirá mais e satisfará mais quem nunca ou
raramente lê BD, do que leitores - leitoras também! - que procuram
regularmente os quadradinhos.
O
sucesso que teve em França - e que poderá repetir-se entre nós,
com a devida diferença de escala - deveu-se, quase de certeza, a uma
boa campanha promocional. Que é muitas vezes mais importante do que
as obras em si, pela capacidade de levar cada livro a quem ele
realmente é dirigido.
Destemidas
Pénélope
Bagieu
Levoir/Público
Portugal,
17 de Julho de 2018
195
x 280mm, 144 p., cor, capa dura
10,90
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar sobre elas para as aproveitar
em toda a sua extensão)
Li-o ontem.
ResponderEliminarEm termos de BD "pura" (que raio será isso?), não é uma grande obra.
Em termos de de livro com conteudo, é uma grande obra.
As várias coleções "Novela Gráfica" permitem realmente a publicação deste tipo de obras, que se não fosse assim, à partida não teriam edição cá neste retângulo.