07/08/2018

Km/h

(Mais do que) uma boa ideia



Uma boa ideia chega para escrever um bom livro? Não, mas ajuda. (Será necessário sempre também o talento e a inspiração.)
Mas uma boa ideia, com um toque de génio - chamo-lhe assim à falta de melhor - pode proporcionar uma boa leitura. Mesmo que leve e sem pretensões para mais do que um bom divertimento.
Roscoe vive em Detroit. Mal, como quase todos os jovens da sua idade após o fecho sucessivo de quase todas as fábricas ligadas à indústria automóvel. Vive de expedientes e de serviços menores para um dos traficantes locais. Mas vive feliz, com a sua namorada, Rosa, e o seu grande amigo Chevy. Tem objectivos, sonhos, desejos e trabalha para eles. Mais do que isso, acredita neles.
Uma entrega de drogas que acaba mal, leva-o à prisão, onde, apesar de tudo, continua a aplicar a sua visão proactiva da vida...
...até que um dia, uma notícia faz desmoronar todo o seu presente - e mais do que isso, o futuro que ambiciona - e levá-lo a dar um passo que sempre recusou: experimentar drogas. Para o bem e para o mal, como iremos descobrir, trata-se de uma droga nova - KMH ou MPH (miles per hour) no original - que lhe confere uma super-velocidade. Torna-o tão rápido, que parece que tudo pára, congela, se suspende à sua volta.
É o momento de viragem no relato. A saída da cadeia e a utilização dos novos poderes - sempre com Rosa e Chevy - vai mudar completamente a sua vida.
Mas, o que poderia ser apenas uma história - baseada numa boa ideia - de alguém com super-poderes no mundo real, vai mais além. A preocupação social presente no relato e a personalidade forte de Roscoe - e de Rosa - começam por marcar a diferença.
E, depois, principalmente, há uma série de factos - pormenores nuns casos, marcantes noutros - que Mark Millar, muito bem, vai introduzindo, embora geralmente só os explique. Alguns passam despercebidos ao leitor, outros criam-lhe perplexidade. Mas, o argumentista, de forma mais do que competente, vai-os interligando, dá-lhes sentido, faz com que funcionem, de forma coerente, enquanto constrói um todo que é, sem dúvida mais do que uma boa ideia. É uma boa ideia, bem desenvolvida, em crescendo, com cambiantes muito bem imaginados, que funcionam.
E servidos por um bom desenho realista, eficiente em cenas quotidianas e que explode nas cenas de acção e contribui para uma leitura fluída, interessante e viciante, que obriga a virar página após página até ao desfecho - aos sucessivos momentos do desfecho…
Não é, apesar de tudo, mais do que uma leitura divertida e sem pretensões, mas é uma boa leitura divertida e sem pretensões que cumpre muito bem este papel.

Km/h - Acima do limite
Inclui MPH #1 a #5 da versão original EUA
Mark Millar (argumento)
Duncan Fegredo (desenho)
G. Floy
Portugal, Julho de 2018
175 x 260 mm, 136 p., cor, capa dura
14,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. Pessoalmente gostei desta obra do mark millar e continuo feliz com os lançamentos da Gfloy do millarworld mas se houve um que deixou mesmo com agua na boca foi o Fade out.Quanto ao artista deste livro o duncan fegredo no entanto pode ser que com sorte ainda saia o kid eternity ou o enigma pela levoir na coleção da vertigo pois é um bom artista

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  2. Gostei bastante deste livro, "embrenhei-me" tanto na história que o final apanhou-me mesmo desprevenido! Quase o mesmo feeling de quando li os Ultimates.
    Até agora foi o melhor do Millarworld que saiu. :D

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  3. Unico defeito que encontrei foi a capa. Muito bom, argumento, desenhos. A nao perder

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  4. Ricardo,
    Também não gostei da capa e já discuti a questão com o José Freitas, mas a verdade é que nenhuma das capas dos diversos comics é famosa...
    Boas leituras!

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  5. Que mal tinha esta capa? a do número 3.

    https://imagecomics.com/comics/releases/mph-3

    Exemplifica bem o teor do argumento.

    Bem melhor do que a do "Stomp" que usaram.

    Mas sim o Fegredo não ajuda, capas não é o forte dele, parece tudo arte do interior do livro.

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  6. Ofereço-me para rever as obras antes de saírem, não se importam?

    Assim já tinha as edições como preferia.

    Até posso ajudar nas galhas nos textos.

    Não têm de pagar nada, honestamente.

    Tenho 40 anos de leituras, comecei nas edições da Abril, da Ebal, passei pelos inícios da Image, Vertigo, sem ignorar o franco-belga, os espanhóis, o Pratt, o meu paladar é apurado e tenho a vista treinada, como uma águia, um lince.

    Mandam-me as coisas em bruto e eu faço uma análise crítica e dou palpites sobre a tradução.

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