Mais
tarde do que desejava (em termos de leitura), mais cedo do que
contava (em
termos de escrita) regressei a Ken Parker. Numa edição
com Berardi ainda à procura do tom certo para a personagem, mas já
com muitos dos aspectos que fizeram desta, uma série western de
eleição e referência, mesmo quando as temáticas bases são
recorrentes e vulgares no género.
Esta
edição, faz-se sob o signo da dualidade. Dualidade essa, acentuada
pela presença de Giancarlo Alessandrini no desenho da segunda
história, num registo mais vigoroso e definido, bem díspar do
traço artístico, fino e personalizado de Milazzo.
Em
Chemako, reencontramos Parker, sem memória devido ao tiro que
levou no final da narrativa anterior, a vaguear pelos bosques até
ser recolhido por uma tribo de índios após ter salvo uma das suas
crianças. Exactamente a mesma tribo que raptou a mulher de um
militar de um forte próximo. A relação de Ken com o miúdo e com a
sua mãe viúva, o síndrome de Estocolmo de que a cativa vai sofrer
e a cobiça das terras dos índios por parte dos brancos, que contam
com o apoio do exército, vão transformar Chemako num registo
de grande humanidade, de surpresas e de final (in)esperado, que
marca, sem dúvida, o primeiro ponto (bem) alto no percurso singular
de Ken Parker.
A
mudança para Sangre em las estrellas, dificilmente poderia
ser mais vincada - e não me refiro só à alteração do desenhador
para que os prazos de publicação fossem cumpridos. Chegado a uma
cidade sem lei, Parker acabará por assumir o lugar de xerife e
proceder a uma limpeza a vários níveis, à imagem de Blueberry em O
Homem da Estrela de Prata ou
(recorrentemente) de… Tex. Rápido no gatilho, obstinado e
directo, o seu retrato surge bem distante daquele que lhe associamos
geralmente, embora a narrativa apresente (mais uma vez) pormenores -
humanos - suficientes para dar um tom extra ao que poderia ser apenas
(mais) um western puro e duro.
Ken
Parker #3
Chemako/Sangre
em las estrellas
Berardi
(argumento)
Milazzo
e Alessandrini (desenho)
ECC
Ediciones
Espanha,
Outubro de 2017
140
x 210 mm, 208 p., pb, capa mole com badanas
9,95
€
(clicar
nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Uma das mais interessantes narrativas do faroeste. Sensível, emotiva e especialmente humanista. Ler toda a aventura de Ken Parker até à sua morte, é um prazer imenso. E continua a ser curioso que as melhores aventuras do faroeste continuem a ser escritas e desenhadas por autores europeus. Uma das aventuras que me tocou mais é aquela em que Ken Parker e os pais desafiam os leitores a questionarem o significado da família e da amizade. Um regalo de emoções.
ResponderEliminarO Brasil continua a editar Ken Parker. Para quando em Portugal? http://www.guiadosquadrinhos.com/capas/ken-parker-magazine/ke161104
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