26/10/2018

Amadora BD 2018: O festival que (não) existe

A 29.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora abre hoje as suas portas e prolonga-se até dia 11 de Novembro.
Oficialmente, pouco mais se sabe(ria). Informação à imprensa, aos bloggers, a quem faz divulgação dos acontecimentos de banda desenhada, não houve. Quase se pode pensar que o festival este ano não existe.
O site oficial, na altura da escrita destas linhas, a cerca de 24 horas da abertura do festival, pouco adianta. Na página oficial do Facebook, vão surgindo algumas informações esparsas e de forma desorganizada.
Se é verdade que é a primeira vez que isto acontece até tão tarde, não será surpresa para muitos se atendermos à forma como a organização do festival se tem deteriorado ano após ano. Informação tardia, exposições completas só a meio do evento, programas atrasados... tornaram-se a sua imagem de marca.
A par disso, para um festival que já trouxe tantos grandes nomes da BD mundial, o cartaz apresentado é desolador e sem qualquer nome capaz de atrair o grande público. Acentua-se, aliás, a opção - muito discutível para um evento camarário, com responsabilidades e historial - cada vez mais obsessiva, por autores e projectos pouco populares, quando não mesmo obscuros ou conhecidos apenas por um nicho dentro do nicho que a BD continua a ser em Portugal.
Este ano, regressam André Diniz, Mathieu Sapin e Marcelo Quintanilha - certamente porque habitam perto; podiam ter convidado também o Coipel, por exemplo… - e depois… Marcelo D’Salete, Pedro Cobiaco, Robin Walter… Nomes que - não fazendo aqui considerações de qualidade e interesse intrínseco - nada dizem ao grande público e pouco dizem mesmo a muitos leitores declarados de banda desenhada.
Se a intenção é divulgá-los - e alguns deles até têm projectos muito interessantes! - e levar os leitores a descobri-los, era necessário que houvesse um ‘chamariz’ para eles. Um Franq, por exemplo, de quem a ASA está a editar a série Largo Winch, um dos autores Marvel da Goody, ou um dos vários nomes fortes que a G. Floy e a Levoir têm no seu catálogo. Difícil, não seria, com certeza, se tivesse havido contactos em tempo útil, algo que o Amadora BD há muito ignora o que seja.
Assim, sem qualquer desprimor, a festa - que já foi; que duvido que ainda seja… - far-se-á essencialmente em português - e os autores nacionais também ganhariam muito com a presença de (pelo menos) um daqueles nomes grandes…
Na linha de partida, aliás, o único facto que me parece realmente saliente e de saudar, é o grande número de lançamentos e apresentações de projectos já anunciados - quase sempre pelos editores… Mesmo que o Festival os continue, muitas vezes a ignorar, e nem sequer seja capaz de anunciar em tempo útil - na inauguração do festival, no mínimo - os nomeados para os Prémios Nacionais de BD, como forma de os promover junto dos visitantes. Que, com certeza, como em todos os anos recentes, contabilizarão, no final, trinta mil e uns quantos trocos, poucos mas suficientes para ultrapassar os do ano transacto…

Podia ter andado a copiar/colar a informação que existe dispersa, mas não me parece que tal se justifique, quando a própria organização não o considera útil nem importante. Assim, fica apenas uma listagem das exposições patentes no Fórum Luís de Camões e a garantia que será divulgada aqui no blog, em cada sábado, desde que disponível, a programação para esse fim-de-semana.

Exposições
Era uma vez um país... (mais ou menos) maravilhoso
Francisco Sousa Lobo (autor português em destaque)
As melhores BDs a descobrir - Prémios dos Festivais
Artur Correia - o riso como vocação
Álvaro
Amanda Baeza
Nádia e Tiago Albuquerque
DN Desenhado
Lembre-se, o metro é de todos
Maria e Salazar
Watchers (branco vs. vermelho)
Ano Editorial Português
Concurso Nacional de BD e Concurso Municipal de Ilustração

Em tempo útil (?)
Ontem, finalmente, a 23h55m da abertura oficial, chegou finalmente a informação sobre o festival, as exposições , as sessões de autógrafos… com o erro crasso de um deles anunciar a abertura para dia 27, às 21h30…
Esta entrada já estava agendada - como já o estão cerca de mais uma dezena de outras para os próximos 15 dias… - mas, mesmo assim, fica a seguir, tal e qual, a informação enviada, para quem possa interessar.
Não consigo deixar de pensar no que fizeram - ou deixaram de fazer… - os órgãos de comunicação que não se aperceberam que o Amadora BD iria inaugurar hoje ou, não tendo recebido qualquer informação, não se deram ao trabalho de a procurar para produzirem a notícia...

 

  

  


  


(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

2 comentários:

  1. Bom texto, que vai totalmente ao encontro daquilo que eu próprio já havia dito em grupos do facebook. Fico mesmo muito contente de ver que pessoal que é um espectador da Amadora há mais tempo do que eu veja isto da mesma forma.

    Como autor acho que os nomeados dos prémios deveriam sair de forma a ajudar os autores portugueses a promover os seus títulos. Sendo que no meu caso em particular, ache que o meu livro não será nomeado para nada - mas os que fossem poderiam ter um chamariz para ajudar as vendas.

    Uma pessoa divulgadora de BD como tu, está muito mais por dentro do que se faz em BD por cá e um pouco por todos os cantos do Mundo. Parece-me que é isso que falta actualmente à organização - paixão. Se souberem quem é o Coipel já é uma sorte, quanto mais saberem que mora em Portugal e está a fazer a primeira série que será adaptada do Mark Millar completamente concebida de raíz para a NetFlix.

    Tudo soa a forçado, só porque tem de acontecer.


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  2. Pedro, faço das suas as minhas palavras. O que se passa com o Amadora BD desde à alguns anos é demasiado constrangedor e, visto de forma mais lacta, grave considerando a quase 3 dezenas de anos de existência. Seria, talvez, a oportunidade de reavaliar todo o evento, mudar de equipa e, quem sabe, finalmente "dar o salto" que este merece à muito.

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