Não conheço o romance original de Gaiman, não vi a série
televisiva que nele se baseou. E chego ao fim da leitura do primeiro
tomo da sua adaptação em BD, dividido quanto à opinião a formar.
E a precisar da continuação, para perceber onde Gaiman pretende
chegar ou confirmar a estranheza que a leitura me deixou.
O temperamento de Shadow Moon levou-o à prisão. Três anos depois,
a meio da pena, vai sair por bom comportamento. Nesse período,
controlou-se, evitou problemas, resistiu a provocações e esta é a
sua recompensa. Como esperança e objectivo, durante esses anos teve
em mente o regresso à vida em comum com a sua esposa Laura.
Poucos dias antes de sair, recebe a notícia que ela faleceu num
acidente de viação e toda a sua vida, o seu futuro, tudo aquilo que
planeara, sonhara, parece desmoronar-se de uma só vez e com grande
estrépito.
Já cá fora, depois de algumas peripécias, aceita uma oferta de
emprego - sem função definida - da estranha personagem que diz
chamar-se Wednesday.
E é aqui que um relato que parecia poder desenrolar-se algures entre
o policial e a crónica quotidiana, começa a derivar. A viagem que
Shadow e o seu empregador empreendem, qual road trip através
de boa parte dos Estados Unidos, propicia estranhos encontros. Com
personagens inesperadas e - de forma crescente - com seres a que
geralmente só humanos chama(va)m deuses. Da Irlanda, do Egipto,
sabe-se lá de onde mais. Deuses cujo poder e influência, obviamente
está a diminuir face ao desenvolvimento dos novos deuses - todos
americanos - que, menos espiritualmente, bem mais financeiramente,
dominam os nossos dias.
Entre eles, na sombra, desenrola-se um confronto silencioso (quase
sempre), há um antagonismo (quase) permanente, cujo objectivo final
é receber se não a adoração, pelo menos os serviços dos pobres
humanos, apanhados entre dois fogos… divinos.
Só que, a maior parte destes encontros, revelam-se pontuais e
passageiros, meros cruzamentos pontuais de vidas, existências, a que
parece faltar uma continuidade ou fio condutor.
Acredito - espero - que o próximo volume de Deuses Americanos
trará respostas - algumas, pelo menos - ajude os leitores que, como
eu, se sintam algo perdidos no final deste volume. Que, apesar de
tudo, foi lido com alguma avidez, graças à forma envolvente como a
narrativa de Neil Gaiman progride, impelindo-nos a prosseguir, página
após, página, sedentos das respostas que (ainda...) não
encontramos.
Como nota final - amarga porque não tem sido habitual nas edições
da Saída de Emergência - uma referência para os problemas de
legendagem que vão além da escolha das fontes e da sua adequação
aos espaços e passam por uma revisão que se revelou insuficiente,
sendo o ponto mais gritante o ‘and’ que devia ser ‘e’ logo no
rodapé da capa...
Deuses Americanos
Neil Gaiman (argumento e diálogos)
P. Craig Russell (guião e esboços)
Scott Hampton (desenho)
Saída de Emergência
Portugal, Setembro de 2018
168 x 259 mm, 264 p., cor, capa mole com badanas
18,80 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Boa tarde Pedro
ResponderEliminarApresento-me: sou o pco69
Em termos reais, não haverá qq diferença entre "pco69" e "Xico Manel", visto que as informações que "partilho" são completamente inventadas.
Compreendo perfeitamente o teres bloqueado os posts "anónimos".
Mas isso não impedirá "posts" idiotas e esses post idiotas também não levarão a "pessoas reais".
Quanto muito, creio que darão acesso a um mail Gmail. Que poderá ser lido e respondido ou nem isso. Mas isso é apenas a minha opinião.
A casa é tua e como tal, as regras são as tuas.
Adiante.
Em termos dos "Deuses Americanos", li a edição portuguesa de 2009 da Presença. Lembro-me que não percebi grande coisa da trama e que não lhe achei grande piada.
Quando vi que iria ser editado em BD, foi algo que me passou e continua a passar ao lado. Exactamente por não ter achado grande piada à novela.
A tua análise/opinião, só vem reforçar a minha opinião que este será um dos que dificilmente irei comprar e ler...
pc069 Xico Manel,
EliminarComentadores anónimos não se podem bloquear individualmente, comentadores 'idiotas' podem. É a vantagem.
Boas leituras!
De qualquer forma, não tenho qualquer problema com o pco69. Não quero é que apareça no nome 'Anónimo', porque anónimos há muitos...
EliminarBoas leituras!
Pedro, aconselho vivamente o romance.
ResponderEliminarDepois de Sandman é o grande Neil Gaiman. Este livro é globalmente fraco - o P. Craig Russell não desenha e isso vê demasiado. Normalmente ele é muito verboso, mas tem experiencia em layout com muito texto.
Mas não tendo desenhado foi-se.
Gostei bastante do romance... também aconselho vivamente. E atenção, não sou grande fã do Sandman e do Gaiman.
ResponderEliminarEsta BD vou passar, como provavelmente o vou fazer com a série televisiva.
Comecei a ler hoje a BD e estou a gostar. Não li o romance nem vi a série. Tem algo de misterioso e ao mesmo tempo confuso que me está a prender.
ResponderEliminarGosto bastante das edições da Saída de Emergência. Excelente qualidade de papel e capa mole.
É mesmo para ser estranho, como o Sandman.
ResponderEliminarO estilo do Gaiman não mudou grande coisa ao longo dos anos.
A ideia é o Shadow agir como uma espécie de Virgílio numa viagem ao inferno, neste caso o universo onírico dos deuses, antigos e modernos e que também é uma crítica social ao mundo desalmado em que vivemos, ausente de poesia e que vendeu a alma aos media. Shadow representa a humanidade no meio de uma batalha pela sua alma.
Aqui o que interessa não é o destino mas sim a viagem, as respostas ficam ao critério de cada um.
Não posso concordar com as legendas, sim parecem toscas e têm alguns erros mas são uma lufada de ar fresco para com as informatizadas e todas iguais que andam a meter certinhas dentro dos balões e onde nem têm o cuidado de replicar os ênfases e estados de espírito de quem as dita.