09/12/2020

Os náufragos de Arroyoka + Histórias sem heróis + Vingt ans après


Três, por impulso

Uma publicação no Facebook e meia dúzia de comentários impulsionaram estas (re)leituras, quase de rajada, para confirmar memórias e avaliar da passagem do tempo.

Para o melhor e o pior, estão na mesma, como as recordava.


Os náufragos de Arroyoka
Publicada em português na Tintin, em episódios, nas revistas #46 e #51 do 6.º ano, e #4, #8, #13 e #16 do 7.º ano
Greg (argumento)
Auclair (desenho)
Bertrand
Portugal, Abril de 1978
220 x 290 mm, 48 p., cor, capa dura

Descoberto depois da leitura de Simon du Fleuve, cartão de visita de Auclair para mim e uma das séries da minha vida, este álbum em que reencontrei aquele desenhador foi uma desilusão. Não que esperasse uma temática semelhante - e o argumento até era de outro 'grande', Greg - mas porque a história se revela confusa e com algumas incoerências.

Na sua base está um acidente de avião e a chegada dos três sobreviventes a uma ilha, fora de todas as rotas. Acabarão por descobrir que está dominada por um pequeno grupo que se veste como cavaleiros medievais e que escraviza a população. O final, acaba por ser previsível, simplista e apressado, talvez porque as 48 páginas (então) disponíveis estavam a chegar ao fim mais depressa do que os autores contavam. (prancha conforme publicada na Tintin portuguesa)


História sem Heróis
Publicada em português na revista Tintin, #46 do 10.º ano ao #14 do 11.º ano
Jean Van Hamme (argumento)
Dany (desenho)
Bertrand
Portugal, Abril de 1980
220 x 290 mm, 48 p., cor, capa dura

Na mesma época, oriunda da mesma revista, surgia a muito justamente louvada História sem heróis. Neste nova leitura - de muitas que já diz dela - mantém-se a principal crítica sempre apontada: o traço (pouco) realista de Dany - imaginem isto desenhado por Vance ou Rosinski, por exemplo, para citar dois parceiros habituais de Van Hamme...

E, agora, (não vinte mas) quase 40 anos depois, se a narrativa mantém intactas tudo aquilo que fez dela um marco no seu tempo, sabe bem imaginar a novela gráfica com o dobro ou o triplo das páginas que Van Hamme poderia ter escrito hoje.

Mas, ao contrário do álbum acima, aqui não há precipitações, incoerências ou finais apressados. Apesar de ter as mesmas 48 páginas - 46 de BD, na verdade - Van Hamme consegue expor a sua situação e construir uma narrativa apaixonante com dezena e meia de personagens confinadas (!) num curto espaço, caracterizando-as de forma precisa e consistente, mesmo que com alguns (inevitáveis) estereótipos pelo meio.

Na origem, igualmente a queda de um avião, desta vez na selva amazónica, e a luta pela sobrevivência que exalta o melhor de alguns e expõem o pior de outros. Dos inevitáveis choques, tristes surpresas e alguns actos de redenção, Van Hamme fez uma obra rica e estimulante que, ao contrário do que acontecia na época, não tinha heróis, apenas seres humanos normais perante uma situação limite.


Vingt ans après
Publicada em português na revista Selecções BD (II série), volumes #4 a #7
Jean Van Hamme (argumento)
Dany (desenho)
Le Lombard
França, Abril de 1997
225 x 295 mm, 64 p., cor, capa dura

Vinte anos depois, Van Hamme e Dany fizeram o que, dizem a tradição e/ou a sabedoria popular, nunca se deve fazer: voltaram ao local onde eles - e os seus leitores, não as suas personagens - tinham sido felizes: a selva amazónica.

Só que, se por um lado o traço de Dany estava ainda mais caricatural, Van Hamme cometeu o pecado de fazer de alguns dos sobreviventes originais heróis no novo relato.

Se a história faz algum sentido - há alguns exageros evidentes, aceitáveis numa banda desenhada juvenil de aventuras - não sendo difícil vislumbrar Largo Winch, aqui e ali e em alguns locais comuns, em Laurent - a sensação que fica é que Van Hamme estica demasiado a premissa, que choca desfavoravelmente com a obra narrada duas décadas antes. Dizendo claramente, se esta é uma boa banda desenhada de aventuras no contexto franco-belga da época e na tradição da Tintin, revela-se uma sequela pouco inspirada - e mesmo incoerente - de História sem heróis. (prancha conforme publicada nas Selecções BD)


Nota final

A Le Lombard tem disponível uma edição integral que junta os álbuns Histoire sans héros/ Vignt ans après que inclui diversos esquissos e desenhos preparatórios.

(imagens recolhidas nos seguintes blogs e sites: BDGest, BDMania, Leituras de BD e Le Lombard; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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