Culpa
‘Fui eu! A culpa é minha! (…) Eu matei-o!’
Peter in Mãos vermelhas
Iniciada a segunda metade da saga, atingido o ponto até ao qual a obra já tinha sido publicada em Portugal (dois volumes pela Bertrand, 2 volumes pela Booktree), este é um álbum fundamental para o estabelecimento de acontecimentos charneira da obra original, na renovada versão proposta por Régis Loisel.
Se o leitor achava que já tinha interiorizado e dava como garantida a sensualidade latente, o nu e a violência física e psicológica, visual ou apenas intuída na série, prepare-se para novo choque nas páginas iniciais, devido a um acontecimento que vai marcar indelevelmente o resto da narrativa. E, especialmente, o próprio Peter, esmagado sob um sentimento de culpa devido a um acto com consequências terríveis e desastrosas.
Até porque, é graças a ele, a partir dele, que Loisel nos explica - reinventa… - alguns dos mais simbólicos momentos/acontecimentos da mitologia de Peter Pan, na sua (até então) dupla versão de Barrie e Disney.
Desde logo, a assunção pelo protagonista do nome (completo) de Peter Pan - dois em um, homenagem e amizade até ao fim. Mas, também, como o crocodilo engoliu o despertador, como o capitão passou a ter um gancho em lugar da mão - direita - pormenor não displicente, cruel mesmo da parte de Loisel… - como os ‘meninos perdidos’ chegaram à Terra do Nunca.
E, (nada) acessoriamente, como uma tenebrosa personagem deu início - já tinha dado, aliás… - a uma série de crimes horrendos sem nunca ter chegado a ser descoberta pela polícia.
Por tudo isto - e mais - momento fundamental - fundador… - da (renovada) saga, Mãos Vermelhas corresponderá para alguns(?), aqueles que ainda esperavam um volte-face redentor de Loisel num regresso a um registo ao tom mais convencional de Peter Pan, a um ponto de não retorno, ao corte definitivo, ao mergulho final na espiral de violência e realismo fantástico desta versão, em detrimento da viagem onírica à terra de todos os sonhos que a (mais popular) versão de Walt Disney preconizava.
Nota 1
Há um velho ditado italiano que reza assim: ’Traduttore,Traditore’ , que é como quem diz: ‘Tradutor, traidor’. No caso presente, naturalmente, o título original Mains Rouges foi traduzido por Mãos Vermelhas, à letra - e em consonância com o visual da cena charneira das primeiras pranchas do livro.
No entanto - no entanto… - neste caso, o Mãos Sujas da versão da Booktree era tão mais ajustado ao espírito da obra de Loisel…
'Preso por ter cão e preso por não ter...'
Nota 2
Já repararam a diferença que faz - em especial neste volume - a ausência da borda verde na capa...?
Peter
Pan #4:
Mãos Vermelhas
Regis
Loisel
Segundo
o romance original de J. M. Barrie
ASA/Público
Portugal,
27
de Maio de 2021
240
x 320 mm,
64
p.,
cor,
capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
Continua a não ser a minha praia, mas tá giro.
ResponderEliminarPara quando uma resenha do "Alix Senator"? confesso que não conhecia mas já vai em 11 albums, uma adaptação mais adulta do herói na sua meia-idade, pelo que já vi da arte parece interessante, deve dar para matar o bicho no género enquanto não aparecem mais "Águias de Roma" :)
Resenha, como habitualmente, só depois de ler... ;)
EliminarTambém não conheço e também estou curioso pelos (bons) ecos que me chegaram.
Boas leituras!
O primeiro volume de Alix Senator está anunciado na Fnac para o próximo dia 1!
ResponderEliminarAcabei de agendar o preview para domingo e já está incluído no próximo Calendário BD...
EliminarBoas leituras!