Leituras populares
Há
leituras que faço e acabam por não passar por aqui. Falta de tempo, de
inspiração ou simples indolência deixam quem visita este blog
privado de apontamentos de leitura que - acredito - podiam ser
úteis.
De
forma breve, registo de seguida três leituras (mais ou menos)
recentes que sofreram do descrito acima. Para além disso, porquê
juntá-las? Porque cada uma, à sua maneira, espelha e afirma o
melhor da banda desenhada dita popular.
Por vezes a ficção adianta-se à realidade - ou ganha novo relevo devido às mudanças entretanto acontecidas. Júlia #6 (Mythos Editora, Brasil, 2022), é um desses casos. Um cadáver de uma mulher, violada, descoberto nu, ocultado nos arbustos de um parque, é o gatilho para mais uma investigação da polícia de Garden City, com a habitual assessoria da criminóloga Júlia Kendall, centrada num gang juvenil ucraniano. Natural na altura de publicação original (Sergio Bonelli Editore, Itália, 2015), devido aos (primeiros) confrontos entre russos e ucranianos no território natal destes últimos, ganha maior actualidade agora - e então há um ano atrás quando saiu no Brasil, nem se fala! - devido às proporções que o conflito assumiu.
O díptico O Monstro do Lago Salgado/Por trás da Máscara publicado em Tex #630/#631 (Mythos Editora, Brasil, 2022) destaca-se da produção normal do ranger por uma exponenciação da violência não muito habitual em Tex, pelo belo desenho a traço fino e detalhado de Michele Benevento e por algumas inflexões na narrativa de Pasquale Ruju, que termina de forma inesperada e até brutal, vincando que por vezes o ódio racial tem razões que a razão desconhece… sem que seja justificado embora de certa forma se entenda.
Sobre o Tarzan de Russ Manning - e da a magnífica recuperação por Manuel Caldas - já escrevi várias vezes e por isso conhecem bem a minha opinião e a forma como sempre me seduziu.
Na recta final da publicação de todas as pranchas dominicais que Manning assinou - o décimo tomo será (já?!) o último… - entre o exotismo e a violência da selva africana, com o fascínio das impossíveis civilizações perdidas e a beleza do traço do autor norte-americano, que faz brilhar o já escrito e deslumbra com a perfeição do corpo humano, da leitura sôfrega e com um sabor nostálgico indescritível de Tarzan Planchas Dominicales #8/#9 (Libri Impressi, Espanha, 2022), o que fica desta vez, o que marcou e não me sai da cabeça, é aquele olhar de Jane, na capa do volume oitavo, aliviada pela presença do seu Tarzan, desejosa dessa presença mas, mais uma vez e sempre incrivelmente sedutora, mesmo na desesperada situação em que se encontra...
(texto publicado originalmente no Tex Willer Blog; capas disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
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