Três leituras portuguesas
Tal como fiz recentemente com edições de histórias curtas e séries (ditas) populares, agrupo hoje três
livros com um denominador comum: terem autores portugueses.
Mais uma vez, para recuperar leituras
‘esquecidas’ pela voragem dos tempos, embora sob a forma de
apontamentos curtos, embora (mais?) incisivos.
Com outro rumo temático, em relação ao até agora escrito, António Aragão: Os olhos que escutam o mundo (Secretaria Regional de Cultura e Turismo [da Madeira], 2021), é uma agradável surpresa numa temática - a biografia - pouco dada a elas. Dedicado à vida, obra e trajecto de António Aragão, figura de relevo da cultura madeirense, este livro, com edição e argumento de Roberto Macedo Alves, tenta reflectir através da sua própria construção, a múltipla actividade do biografado,
Assente totalmente em citações do próprio, que vão do seu trajecto pessoal até à sua forma de pensar teve cinco ilustradores - Alexandra Esteireiro, Paola Rivas, Francisco Branco, Válter de Sousa e o próprio Roberto Macedo Alves - tendo sido entregue a cada um um período da vida de Aragão. Cada um com o seu estilo e a sua técnica gráfica, a preto e branco ou com diferentes paletas de colorido, com inovações narrativas e raramente seguindo uma planificação tradicional, sucedem-se sem as expectáveis compartimentações mas de modo conjunto, nas diferentes pranchas. Por isso nas páginas destas obras sucedem-se vários ‘Aragões’ - a criança, o jovem, o jovem adulto, o homem maduro e o velho - combinando, alternando, misturando, formas de pensar, actividades, edições, iniciativas, interesses - literatura, cinema, teatro, pintura, história, filosofia, poesia... - de uma forma que não tornando a leitura fácil e escorreita, constrói um grande fresco da vida e obra do homenageado, conseguindo evitar o peso que este tipo de obras costuma apresentar
Numa edição cuidada, que aproveita bem as páginas de guarda para as biografias dos seus autores e a bibliografia de António Aragão, há ainda espaço para a explicação da intenção e da forma de concretizar seguida e para situar no tempo, no espaço e no local, as citações feitas.
Com uma perspectiva histórica de base difusa - os últimos anos de reinado e de vida de D. Pedro I, imperador do Brasil, e IV de Portugal - Pedro e o Imperador (Polvo, 2022) encaminha-nos através de uma conversa de tom fantástico entre o monarca e o seu pai - já falecido. Nesses últimos anos, o imperador do Brasil coloca em causa muito do que fez e (ainda) faz, numa dupla perspectiva que inegavelmente reporta também para a actualidade daquele país, num diálogo que se espraia pelas páginas deste livro num tom desafiador que obriga a reflexão. É uma leitura que, apesar de algo palavrosa, flui num ritmo bastante conseguido, para o qual contribuem as diferentes tomadas de ponto de vista que a portuguesa Joana Afonso utiliza para dar vida aos diálogos do brasileiro Batista, ambos entrevistados, bem como o editor Rui Brito, por As Leituras do Pedro a propósito deste projecto.
(imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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