26/09/2023

Cortés #1

Dono do seu próprio destino


A existência de um verdadeiro mercado editorial e, por consequência, de uma verdadeira indústria de banda desenhada (no melhor sentido do termo), para lá da diversificação permite também a especialização em segmentos específicos.
É o caso, por exemplo, das biografias históricas que, tendo por base numa sólida pesquisa que garante a veracidade da informação disponibilizada, proporcionam bandas desenhadas na completa acepção do termo.

No catálogo da editora francesa Glénat existe um bom número dessas propostas e a Gradiva tem ‘pescado’ nele de forma regular e assertiva títulos mais adequados ao mercado português, dividindo-os por duas coleções: Eles fizeram História, onde já pudemos ler sobre Mao, Churchill ou Estaline; e esta Descobridores, por onde já passaram Marco Polo, Darwin ou Fernão de Magalhães e onde surge agora Cortés 1/2: A guerra de duas faces, dedicado a um dos conquistadores espanhóis que desbravaram o então chamado Novo Mundo para a coroa do país vizinho - e para si próprio - movendo-se com habilidade junto dos seus concidadãos e aproveitando com mestria as guerras internas que grassavam no território.

A a história arranca, em 1492 - ao mesmo tempo que Colombo chegava à América! - quando um muito jovem Cortés, em perigo de vida, desafiando ostensivamente os santos cristãos, se compromete a uma peregrinação depois de... cumprir o seu destino!

Esse destino e o percurso que o levará até lá, vai ser-nos contado em paralelo com o do imperador asteca Montezuma, o que permite uma convincente reconstituição histórica de ambas as civilizações, num relato assente num traço semi-caricatural pouco comum neste registo, tal como a ousadia de algumas cenas mais sensuais ou a violência explícita de alguns confrontos. Numa trama assente em intrigas, guerras - pelo poder e pelas riquezas - e pontuada por uma componente mística e pela forte relação de Cortés com a cativa e amante Leonor, vamos descobrindo o retrato de um homem que foi um conquistador ambicioso e um estratega refinado e que merece ser conhecido hoje, pelo modo como se destacou dos seus congéneres e no seu tempo, contra os poderes instituídos por princípio, mas usando-os quando lhe eram proveitosos, e que via como suprema façanha ser dono do seu próprio destino.


Cortês #1/#2: A guerra de duas faces
Christian Chavassieux (argumento)
Cédric Férnandez (desenho)
Gradiva
Portugal, Junho de 2023
233 x 313 mm, 72 p., cor, capa dura
20,99€

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Setembro de 2023; imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

1 comentário:

  1. Continua a fazer-me confusão a teoria de ter sido Del Cano a matar Fernão de Magalhães, na BD de Fernão de Magalhães (a teoria "oficial" é terem sido nativos a matá-lo) teoria que não surge em parte alguma, sendo até Del Cano um herói da marinha espanhola.

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