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18/08/2022

Os Quadradinhos de Müller, 52-82

Enciclopédia...


Adolfo Simões Müller foi, possivelmente o mais importante director de publicações infanto-juvenis que este país teve e a comprová-lo estão títulos como o Papagaio, Diabrete, Cavaleiro Andante, Foguetão ou Zorro que, durante décadas, proporcionaram o melhor da banda desenhada (com predominância da franco-belga) aos leitores portugueses.

Depois das obras monográficas dedicadas às duas primeiras revistas referidas, José Azevedo e Menezes reuniu neste volume reúne as outras a que Müller se dedicou.

05/01/2012

Cavaleiro Andante nasceu há 60 anos


A 5 de Janeiro de 1952, um sábado, surgia pelas primeiras vez nas bancas portuguesas o “Cavaleiro Andante”, um dos mais importantes títulos do jornalismo infanto-juvenil português.
A nova publicação vinha retomar o “combate” com o Mundo de Aventuras, ocupando o lugar deixado vago pelo Diabrete uma semana antes, por isso, ao contrário do habitual, havia quase uma sucessão pacífica, com títulos e colaboradores a passarem de uma para a outra.
Era o caso de Fernando Bento (1910-2010) que trazia para a nova revista o seu estilo elegante e personalizado, assinando logo no número inaugural as primeiras páginas de Beau Geste, baseado no clássico de Percival C. Wren, uma das suas mais conseguidas criações, e também a capa, com um cavaleiro de armadura montado num fogoso corcel.
Essa mesma capa, que anunciava 20 páginas e 12 aventuras ilustradas pelo preço de 1$80, referia já dois dos aspectos que seriam recorrentes ao longo dos seus 10 anos de existência: separatas para construir (no caso, um jogo de “Oquei em patins” – sic!) e concursos, sendo oferecido aos leitores um rádio Philips por semana!
A revista distinguiu-se também pelas construções de armar e pelos suplementos que acolheu: “Pajem”, para os mais novos, “Andorinha”, para as meninas, “Desportos e “Bip-Bip”. Em paralelo, até 1963, lançou a colecção “Álbum do Cavaleiro Andante”, que teve 107 números publicados com histórias completas, antecipando uma moda que se viria a impor, bem como alguns números especiais e de Natal.
No número inaugural do Cavaleiro Andante, para além de Bento, o destaque ia para dois autores que marcariam a publicação: o italiano Franco Caprioli, autor de algumas das mais belas adaptações de clássicos da literatura, e Hergé com “Tim-Tim no templo do Sol”.
Ao longo dos anos, surgiriam outros nomes grandes das histórias aos quadradinhos europeias e norte-americanas: Macherot (Chlorophille), Jijé (Jerry Spring), Cuvelier (Corentin), Goscinny e Uderzo (Astérix, recuperado do entretanto extinto Foguetão) ou Tufts (Lance, rebaptizado “Flecha”, actualmente reeditado em álbum em Portugal), as estreias de Edgar P. Jacobs (Blake e Mortimer), Morris (Lucky Luke), François Craenhals, Bob de Moor, Jean Graton (com Michel Vaillant, aliás Miguel Gusmão!) ou Tibet, bem acompanhados pelos portugueses José Garcês, Artur Correia ou José Ruy.
Fruto da época que então se vivia e da pressão crescente da censura (e da auto-censura), a maior parte deste material vinha das melhore revistas católicas franco-belgas e italianas, obedecendo “a uma probidade e sensatez absolutas”, como escreve A. Dias de Deus em “Os Comics em Portugal”.
A sua selecção esteva a cargo de Adolfo Simões Müller (1909-1989), anteriormente responsável pelo Papagaio, Diabrete ou Foguetão que, ainda segundo Dias de Deus, soube conciliar “as preferências da juventude” com “os condicionamentos impostos pelas normas de educação dita formativa”.
O Cavaleiro Andante, que também se destacou pelo bom papel e impressão, terminaria no nº 556, a 25 de Agosto de 1962, registando uma mudança de formato no nº 327 e a crescente preferência por histórias completas na fase que corresponde ao seu declínio e fim.


Hoje em dia, uma colecção completa deste título, segundo alguns especialistas, poderá valer entre três e quatro mil euros, dependendo do seu estado e da pressa do comprador. Isto porque, quem tiver tempo e paciência poderá encontrar muitos dos números da revista em leilões online ou em feiras de usados. Como é habitual nestes casos, os números mais raros são os primeiros, mais antigos, os últimos, quando a tiragem era mais baixa, e os que correspondem à mudança de formato, pois nesses a tendência para se deteriorarem era maior. Por isso, não se surpreenda se lhe pedirem até 100 euros pelo Cavaleiro Andante nº 1 ou o dobro daquele valor pelo nº 556.

29/12/2011

Há 60 anos, o fim de O Diabrete

A 29 de Dezembro de 1951, um sábado, chegava ao fim mais uma das grandes aventuras do jornalismo infanto-juvenil em Portugal: tinha por título “Diabrete” e durante uma década tinha sido “o grande camaradão” da pequenada, como se lia no seu cabeçalho.
O seu primeiro número surgiu à venda por 50 centavos, a 4 de Janeiro de 1941, sendo propriedade da Empresa Nacional de Publicidade e tendo como director Artur Urbano de Castro. Na sua capa, pouco atractiva para os padrões actuais, apenas se destacava o cabeçalho desenhado por Fernando Bento (um dos muitos que fez para a revista).
O desenhador português, que foi um dos grandes pilares da publicação – o principal no que à BD diz respeito - assinava também as aventuras de “Béquinhas, Beiçudo e Barbaças”, história aos quadradinhos cómica que merecia honra de primeira página e seria publicada ininterruptamente até ao nº 255.
No “Diabrete”, Fernando Bento deixaria uma marca indelével, assinando inúmeras adaptações de clássicos de aventuras, com Júlio Verne à cabeça, sendo sem dúvida o grande nome da publicação onde também se distinguiu Vítor Péon e Fernandes Silva com o detective “O Ponto”.
A primeira grande revolução na revista, que marcaria todo o seu percurso posterior, e que contribuiu decisivamente para a saudável rivalidade que alimentou com “O Mosquito” ao longo da sua existência, aconteceu logo no vigésimo número, quando Adolfo Simões Müller assumiu efectivamente a sua direcção e também grande parte da sua produção literária, a par de Maria Amélia Barça. Como era então habitual, o “Diabrete” incluiu separatas e construções de armar, organizou concursos e espectáculos e editou romances destacáveis e alguns mini-álbuns, entre os quais “O Dragão Teimoso”, de Walt Disney.
Ainda no que diz respeito a autores estrangeiros, destaque para os irmãos Jesus, Adriano e Alejandro Blasco, e para as estreias em Portugal de “Tarzan”, de Burne Hogarth, “Rusty Riley”, de Frank Godwin, “Bob e Bobette” de Willy Vandersteen, e “Quick e Flupke” (rebaptizados Trovão e Relâmpago), de Hergé. O “Diabrete” também publicou o “Agente secreto X-9”, de Alex Raymond, e, já na sua fase final, na esteira do encerramento de “O Papagaio”, três aventuras de “Tintin”, a última das quais deixada incompleta com o fim da revista, no número 887, no final de 1951.
Uma semana depois, os leitores reencontravam o célebre repórter e outros dos heróis do “Diabrete” no número inaugural do “Cavaleiro Andante”. Mas isso, foi outra aventura. 

Nota: Àqueles que queiram aprofundar a história desta revista, aconselho a monografia “Diabrete – O grande camaradão de todos os sábados”, da autoria de José Azevedo e Menezes. 

(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Dezembro de 2011)

25/04/2010

Adolfo Simões Müller, um homem dos (setenta e) sete instrumentos

Lisboeta, nascido a 18 de Agosto de 1909 – o centenário passou de forma discreta há menos de um ano… - Adolfo Simões Müller, depois de ter frequentado o curso de medicina, foi jornalista, pedagogo, dramaturgo, produtor de programas radiofónicos e director do gabinete de estudos da Emissora Nacional. E também tradutor, adaptador, poeta e prosador, autor de mais de sete dezenas de obras infanto-juvenis (como Caixinha de Brinquedos e O Feiticeiro da Cabana Azul, galardoadas com o Prémio Nacional de Literatura Infantil em 1937 e 1942, respectivamente), folhetins radiofónicos, inúmeras adaptações de clássicos da literatura, romanceador de biografias de figuras de referência da nossa História, assim como de vultos da Humanidade. Para além disso, foi também argumentista de BD, colaborando com muitos dos autores que passaram pelas revistas que dirigiu, merecendo lugar de destaque as suas parcerias com Fernando Bento. Também por isso, é um dos nomes fundamentais do jornalismo infanto-juvenil em Portugal das décadas de 1930 a 1970, onde deixou marcas profundas como director de O Papagaio (1935), onde estreou Tintin, Diabrete (1941), Cavaleiro Andante (1952), Falcão (1958), Foguetão (1961), onde publicou Tintin au Tibet na versão original francesa, com a tradução em rodapé (!) e apresentou Astérix pela primeira vez (a preto e branco) aos leitores portugueses, ou Zorro (1962).
Recebeu o Grande Prémio da Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra, em 1982 e viria a falecer a 17 de Abril de 1989 tendo, um ano depois, a Editorial Verbo instituído um prémio com o seu nome, para homenagear a sua memória e estimular a revelação de novos autores.

(Texto publicado no dia 17 de Abril de 2010 na revista NS, distribuída ao sábado com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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