A 5 de Janeiro de 1952, um sábado, surgia pelas primeiras
vez nas bancas portuguesas o “Cavaleiro Andante”, um dos mais importantes títulos
do jornalismo infanto-juvenil português.
A nova publicação vinha retomar o “combate” com o Mundo
de Aventuras, ocupando o lugar deixado vago pelo Diabrete
uma semana antes, por isso, ao contrário do habitual, havia quase uma sucessão
pacífica, com títulos e colaboradores a passarem de uma para a outra.
Era o caso de Fernando Bento
(1910-2010) que trazia para a nova revista o seu estilo elegante e personalizado,
assinando logo no número inaugural as primeiras páginas de Beau Geste, baseado
no clássico de Percival
C. Wren, uma das suas mais conseguidas criações, e também a capa, com um cavaleiro de armadura montado num fogoso corcel.
Essa mesma capa, que anunciava 20 páginas e 12 aventuras
ilustradas pelo preço de 1$80, referia já dois dos aspectos que seriam recorrentes
ao longo dos seus 10 anos de existência: separatas para construir (no caso, um
jogo de “Oquei em patins” – sic!) e concursos, sendo oferecido aos leitores um
rádio Philips por semana!
A revista distinguiu-se também pelas construções de armar
e pelos suplementos que acolheu: “Pajem”, para os mais novos, “Andorinha”, para
as meninas, “Desportos e “Bip-Bip”. Em paralelo, até 1963, lançou a colecção
“Álbum do Cavaleiro Andante”, que teve 107 números publicados com histórias
completas, antecipando uma moda que se viria a impor, bem como alguns números
especiais e de Natal.
No número inaugural do Cavaleiro Andante, para além de
Bento, o destaque ia para dois autores que marcariam a publicação: o italiano
Franco Caprioli, autor de algumas das mais belas adaptações de clássicos da
literatura, e Hergé com “Tim-Tim no templo do Sol”.
Ao longo dos anos, surgiriam outros nomes grandes das
histórias aos quadradinhos europeias e norte-americanas: Macherot (Chlorophille),
Jijé (Jerry Spring), Cuvelier (Corentin), Goscinny e Uderzo (Astérix,
recuperado do entretanto extinto Foguetão)
ou Tufts (Lance,
rebaptizado “Flecha”, actualmente reeditado em álbum em Portugal), as estreias
de Edgar P. Jacobs (Blake e Mortimer), Morris (Lucky Luke), François Craenhals,
Bob de Moor, Jean Graton (com Michel Vaillant, aliás Miguel Gusmão!) ou Tibet, bem
acompanhados pelos portugueses José Garcês, Artur Correia ou José Ruy.
Fruto da época que então se vivia e da pressão crescente
da censura (e da auto-censura), a maior parte deste material vinha das melhore
revistas católicas franco-belgas e italianas, obedecendo “a uma probidade e
sensatez absolutas”, como escreve A. Dias de Deus em “Os Comics em Portugal”.
A sua selecção esteva a cargo de Adolfo Simões Müller
(1909-1989), anteriormente responsável pelo Papagaio,
Diabrete ou Foguetão que, ainda segundo Dias de Deus, soube conciliar “as
preferências da juventude” com “os condicionamentos impostos pelas normas de
educação dita formativa”.
O Cavaleiro Andante, que também se destacou pelo bom
papel e impressão, terminaria no nº 556, a 25 de Agosto de 1962, registando uma
mudança de formato no nº 327 e a crescente preferência por histórias completas na
fase que corresponde ao seu declínio e fim.
Hoje em dia, uma colecção completa deste título, segundo
alguns especialistas, poderá valer entre três e quatro mil euros, dependendo do
seu estado e da pressa do comprador. Isto porque, quem tiver tempo e paciência
poderá encontrar muitos dos números da revista em leilões online ou em feiras de
usados. Como é habitual nestes casos, os números mais raros são os primeiros,
mais antigos, os últimos, quando a tiragem era mais baixa, e os que
correspondem à mudança de formato, pois nesses a tendência para se deteriorarem
era maior. Por isso, não se surpreenda se lhe pedirem até 100 euros pelo
Cavaleiro Andante nº 1 ou o dobro daquele valor pelo nº 556.